Ela tirou mil na redação do Enem – e foi fazer um curso de exatas na USP
Conheça a trajetória da única estudante nota mil no Enem 2024 do estado de São Paulo

Quem acha que redação e cálculo jamais se misturam, certamente ainda não conhece a história da estudante Sabrina Ayumi Alves, de 19 anos. A jovem cresceu em uma casa dividida entre humanas e exatas: a mãe cursa Serviço Social e sempre foi apaixonada pela leitura; já o pai é formado em Ciências Contábeis, e o irmão mais velho, em Ciências da Computação. Com influências diversas – nem por isso antagônicas – Sabrina reuniu um pouco de tudo e conseguiu um feito de brilhar os olhos de qualquer estudante. Tirou mil na redação do Enem 2024 e foi aprovada em Engenharia Ambiental na USP, a Universidade de São Paulo.
Na edição passada, vale lembrar, apenas 12 candidatos de todo o país alcançaram a pontuação máxima na redação. Sabrina, que vivia em Araçatuba, foi a única nota mil do estado de São Paulo. “É um choque, realmente é uma experiência muito única”, relembrou a universitária em entrevista ao Alunos Nota Mil, novo programa do GUIA DO ESTUDANTE.
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“A gente sonha muito, né? A gente estuda por redações nota mil também, então acaba sendo um sonho”, conta, recordando a surpresa no dia de divulgação dos resultados. Segundo Sabrina, a família toda entrou em festa quando ela finalmente conseguiu acessar o site do Inep em 13 de janeiro deste ano e viu a pontuação no texto. “Na hora eu virei para minha mãe e falei: ‘Nossa, será que o site está errado? Será que deu problema?'”, relembra.
Não era uma falha no sistema, e o notão rendeu à jovem uma vaga no seu curso dos sonhos. Ela foi aprovada em Engenharia Ambiental por meio do Enem-USP, modalidade de ingresso que considera as notas do exame. Em paralelo, Sabrina também tentava entrar na mesma universidade pelo vestibular tradicional, a Fuvest, considerada uma das provas mais difíceis do país. Neste, acabou não sendo aprovada na primeira chamada.
“Realmente, esse momento foi meio marcante para mim, eu fiquei bem mal o dia inteiro. Teve esse baque”, afirma. Pouco tempo depois, veio o resultado do Enem-USP e a jovem respirou aliviada de novo: “era para ser”.
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Apesar da aprovação de primeira, Sabrina, que hoje é voluntária em um cursinho popular da universidade, deixa um recado para quem ainda não viu o nome na lista de aprovados. “Alguns dos meus amigos que eu considero mais capazes, que deslancharam e hoje estão indo muito bem, fizeram cursinho. Não passar de primeira não muda nada, é mais uma experiência que vocês vão ter, na verdade vai enriquecer mais ainda sua maturidade emocional”, avalia.
Quer saber mais sobre como foi a preparação de Sabrina, suas técnicas de estudo e como tem sido a experiência na melhor universidade do país? A estudante é a primeira entrevistada do Alunos Nota Mil, novo programa de entrevistas que escuta quem gabaritou a redação do Enem. Assista ao episódio completo e, abaixo, leia o texto de Sabrina Ayumi.
O livro “Nós matamos o cão tinhoso” de Luís Bernardo Honwana retrata a sociedade moçambicana durante a colonização portuguesa. Na obra literária, observa-se uma dinâmica social pautada pela inferiorização dos indivíduos negros, na qual o racismo está enraizado nas interações entre as pessoas, na qualidade de vida e na autoimagem de cada ser. Assim, ao inserir a imagem criada pelo livro no contexto brasileiro de ínfima valorização da herança africana, infere-se que o passado colonial persiste nas estruturas do Brasil, se manifestando a partir do apagamento sistemático da cultura afro-brasileira. Em razão disso, deve-se discutir o papel do Estado no setor escolar e cultural diante desse contexto de silenciamento.
Em um primeiro momento, é necessário entender a relação entre a dinâmica social brasileira e a desvalorização da herança africana. Para fundamentar essa ideia, o filósofo Ailton Krenak afirma que, no Brasil, existem dois grupos — a humanidade, formada pela elite econômica, e a subumanidade, a qual tem seus direitos negados e é constituída principalmente pelas populações marginalizadas socialmente, como os povos originários e os negros. Por conseguinte, entende-se que o apagamento da cultura africana é uma extensão do panorama da desigualdade social brasileira, já que essa desvalorização sistemática silencia as vozes de populações que são violentadas e oprimidas há séculos, o que favorece a manutensão dessas pessoas no grupo da subumanidade. Dessa forma, o Estado deve desenvolver medidas que visem valorizar e apoiar artistas e escritores relacionados à herança africana no Brasil.
Sob outra ótica, a compreensão acerca da importância da ancestralidade na formação da autoimagem e da noção de pertencimento de cada indivíduo é imperativa. Para isso, a filósofa brasileira Marilena Chaui defende a ideia de que, enquanto os animais são seres naturais, os humanos são culturais – ou seja, a cultura em que cada pessoa está inserida compõe a essência desse ser. A partir disso, compreende-se que o silenciamento da herança africana nega a uma grande parte do povo brasileiro a sua própria essência, o que constitui uma violência estrutural e resulta numa noção de não pertencimento generalizada e em uma autoimagem defasada. Frente a isso, o Estado deve agir em prol da promoção de manifestações culturais afro-brasileiras.
Em suma, conclui-se que a desvalorização da cultura africana está diretamente relacionada a um processo sistemático de silenciamento de grupos oprimidos e resulta na falta de pertencimento de muitos indivíduos. Portanto, cabe ao Estado, por meio de uma parceria entre o Ministério da Economia (ME) e o Ministério da Educação e da Cultura (MEC), desenvolver manifestações culturais afro-brasileiras nas escolas, como, por exemplo, peças teatrais e festivais de dança, música e arte, assim como investir financeiramente na promoção de artistas e escritores que têm suas carreiras relacionadas à herança africana. Por fim, essas ações serão responsáveis por impedir o perpetuamento da desvalorização da cultura africana no Brasil.
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