Pouco menos de 15 minutos após o fechamento dos portões da Universidade Paulista (Unip) na Rua Apeninos, região central de São Paulo, formou-se um grupo de cinco pessoas que chegaram atrasadas e, por isso, não puderam entrar para fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Todas haviam vindo de ônibus da Zona Leste da cidade (a maioria morava longe de qualquer estação de metrô) e reclamavam da distância que tiveram de percorrer para chegar ao local de prova.
Francieli (à esq.) e Gilda, que não conseguiram chegar a tempo para a prova. Conformadas, elas pretendem comparecer ao segundo dia de prova neste domingo
Francieli Augusto de França, de 18 anos, saiu de sua casa em São Mateus às 10h30 da manhã – duas horas e meia antes do fechamento dos portões. Por causa do trânsito, ela precisou, assim como outros do grupo, descer do ônibus antes do seu ponto e fazer parte do trajeto correndo. Mesmo assim, não conseguiu chegar na hora. “Só recebi o cartão de confirmação com o endereço esta semana e, como trabalho de segunda a sábado, não tive tempo para visitar o local da prova com antecedência para calcular melhor o tempo”, lamenta.
"O que acontece se o local de prova designado for longe da minha casa?" |
O edital do Enem não prevê alteração dos locais de prova. Em sua página oficial na internet, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), responsável por aplicar o Enem, responde a pergunta da seguinte maneira:
"Confira com antecedência o local de prova e, se possível, compareça ao local para ter uma ideia de quanto tempo levará, a fim de não se atrasar. o edital não prevê alteração dos locais de prova." |
Glauber Rafael, de 24 anos, morador de Itaquera, já havia feito o trajeto de ônibus até o local de prova várias vezes e nunca levava mais de 50 minutos. Desta vez, saiu de casa às 11h50 e também chegou 15 minutos atrasado.
“Quando veem casos como os nossos, as pessoas dizem que devíamos ter nos planejado melhor. Mas nós fazemos tudo isso – o problema é que não sabemos como vai estar no dia. Hoje, meu ônibus demorou muito para passar e peguei trânsito. O processo seletivo já começa excluindo estudantes na questão da pontualidade”, constata Gabriel Lucas, outro morador de São Mateus que saiu de casa uma hora e meia antes da prova, mas pegou trânsito e chegou atrasado.
Além do trânsito, a espera pelo transporte público é outro fator que pode atrapalhar os candidatos. Gilda Barreto, de Sapopemba, saiu de casa às 11h, mas teve de esperar quase 40 minutos pelo seu ônibus. Foi lá que conheceu outra candidata, Gleici de Jesus, que havia saído de casa no mesmo horário. Não deu tempo. “Onde moramos não tem trem nem metrô, então a única opção é o ônibus. Eles deviam colocar os candidatos para fazerem provas mais perto de casa – ou pelo menos levar em conta a facilidade de acesso ao transporte público”, diz Gleici.
Segunda tentativa
Depois de discutir a respeito, os candidatos disseram que pretendem comparecer ao segundo dia de prova, neste domingo (4). “Zeramos no primeiro dia, mas ainda podemos somar pontos no segundo, ainda mais com a nota da redação. Acho que vale a pena ir”, conclui Gabriel.
Desta vez, sairão de casa bem mais cedo – ainda mais porque, aos domingos, a circulação de ônibus é reduzida e algumas linhas (como a usada por Gleice e Gilda neste sábado) nem circulam. Francieli pretende sair de casa por volta das 9h50. Se ela fosse seguir a recomendação do MEC de estar no local de prova com uma hora de antecedência, teria de sair ainda mais cedo.
Todos os candidatos estavam prestando o Enem pela primeira vez e pretendiam usar a nota para tentar entrar em uma faculdade ou conseguir entrar em um programa de financiamento estudantil.
Candidata esquece o RG e fica sem fazer a prova; irmão chegou para lhe entregar o documento segundos após o fechamento dos portões |
A história de Grazieli de Oliveira de Jesus sensibilizou quem estava por perto. A estudante, que pretendia usar a nota do Enem para entrar em uma faculdade de turismo, chegou cedo ao local e aguardou um tempo, nervosa, do lado de dentro dos portões. Pouco antes das 13h, porém, teve de sair: ela havia esquecido sua carteira de identidade, sem a qual não é permitido fazer a prova. A parte mais triste é que, logo após o fechamento dos portões, seu irmão chegou com o documento. Não houve conversa: ela ficou de fora. |