Enem: aprenda a encontrar a resposta na própria pergunta da prova

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Para fazer o Enem, a primeira coisa a saber é que o exame cobra do aluno a “competência leitora”, ou seja, a sua capacidade de entender o que está lendo. Com concentração, leitura atenta e comparação entre as informações fornecidas na pergunta e as opções de solução, você responde a diversas questões. Outra parte delas, mesmo quando pressupõe conhecimentos referentes ao currículo do Ensino Médio, também exige do aluno boa capacidade de entender informações expressas em textos e imagens.

Uma característica pedagógica dominante no Enem é que boa parcela das questões traz, nos elementos que apresenta aos alunos, as informações que permitem encontrar a resposta certa – sem que, necessariamente, a pessoa domine o assunto. O objetivo principal desse tipo de questão não é medir o conhecimento do aluno a respeito de um conteúdo, mas a sua capacidade de, ao ler o enunciado, raciocinar e extrair as informações que indicam a solução correta.

Neste texto, quando usamos o verbo “ler”, não estamos falando apenas de textos escritos, mas também de fotografias, mapas, ilustrações, gráficos e tabelas. Todas essas formas de comunicação carregam informações cuja leitura e compreensão são fundamentais para um bom desempenho em todas as áreas da prova.

Apresentamos nesta matéria quatro questões de edições anteriores do Enem, uma por área, que trazem as informações embutidas nas perguntas. Analisamos cada uma delas, mostrando que, com uma leitura criteriosa do enunciado e das cinco alternativas – e com raciocínios simples –, o candidato poderia acertar todas. Para começar, trazemos na sequência duas questões exemplares de competência leitora retiradas de provas anteriores do Enem.

Análise e resposta

Essa questão é fascinante, pois se baseia na observação do céu feita por povos distintos, com culturas diferentes, em épocas variadas. O resultado é diverso: os indígenas veem nas estrelas a figura de uma ave do ambiente no qual vivem e que faz parte de suas lendas; os europeus enxergam símbolos mitológicos (Órion) e cristãos (o Cruzeiro).

Note que essa pergunta não exige do candidato nenhum conhecimento prévio sobre astronomia ou cultura dos povos. Em suas afirmativas, a questão exige do candidato competência leitora em relação ao que está escrito (as três primeiras afirmações vêm de elementos contidos no texto) e às duas figuras, pois a afirmativa IV exige que o aluno consiga, comparando as duas imagens celestes, perceber que elas se sobrepõem apenas parcialmente, e que não são idênticas.

O ponto mais claro de identificação é o Cruzeiro do Sul, que equivale à parte acima da cabeça da Ema (e o texto esclarece que se trata do Cut’uxu). A parte de baixo do corpo da Ema equivale, na outra imagem, à constelação do Escorpião. Com isso, o aluno deve concluir que as Três Marias, na constelação de Órion, estão fora da figura da Ema, o que torna a afirmativa IV errada. Como as três primeiras afirmativas estão certas, a alternativa d é a correta.

Análise e resposta

Nesse caso, o Enem lança mão de uma propaganda oficial. O que a prova pretende é que os candidatos coloquem um novo olhar sobre uma peça publicitária que já podem ter visto e façam uma reflexão mais analítica do que a do cotidiano, quando são bombardeados por anúncios e sofrem sua influência de forma quase inconsciente. Assim, o exame nos leva a prestar atenção nas imagens e frases, buscando tirar conclusões de cada par. Para ir bem no Enem, precisamos fazer tudo isso com calma e concentração.

Um detalhe importante da pergunta é que pede ao aluno que aponte “uma” das estratégias persuasivas da publicidade, o que não exclui que a campanha publicitária envolva outras. Para obter a resposta certa, basta que seja apontado um elemento usado na propaganda. Nessa questão, algumas alternativas são descartadas mais facilmente, como a, b e c. A alternativa e é afastada ao prestarmos atenção na terceira imagem, que mostra uma criança – a propaganda também alerta para as graves consequências do fumo passivo.

A alternativa certa, a d, aponta uma das estratégias da campanha: afirmar que o fumo provoca problemas respiratórios. Na peça também se afirma que fumar prejudica as crianças, causa câncer de boca e perda dos dentes, prejudica os fetos e intoxica as pessoas. Caso fossem apontados, esses pontos também estariam certos.

Acertando por eliminatória

Como boa parte das questões do Enem se baseia na leitura e na compreensão da questão, não se intimide quando, durante a prova, parecer a você que não tem nenhum conhecimento do assunto abordado (como certamente aconteceu com 99% dos candidatos ao verem uma pergunta sobre constelações na cultura indígena).

Ao ler com calma a questão, incluindo as cinco opções de resposta, você terá uma ideia mais clara sobre seu grau de dificuldade. Eventualmente, chega-se à resposta excluindo as alternativas que você conclui que estejam erradas e analisando-se cuidadosamente as restantes.

Na sequência, analisamos quatro questões do Enem 2021, uma para cada área do conhecimento. Mostramos, passo a passo, como usar sua compreensão leitora, seu raciocínio e seus conhecimentos para obter a resposta. Para o melhor aproveitamento dos textos, sugerimos que você, primeiro, faça uma leitura criteriosa das questões e tente resolvê-las, para só depois ler a explicação.

Ciências Humanas

Análise e resposta

Em primeiro lugar, é importante você perceber que a resposta a essa questão independe de que você tenha algum conhecimento prévio sobre a Revolução Inglesa de 1640. É claro que, se você tiver informações a respeito na hora da prova, fica mais tranquilo e você irá responder com mais facilidade. Mas a escolha da alternativa certa depende basicamente da compreensão de três textos: o I, o II e a parte final da pergunta e suas alternativas.

Lendo o texto I, vê-se uma análise que destaca o embate entre duas concepções de sociedade: a da liberdade (no texto o Iluminismo, o Liberalismo) contra a tirania representada pelo rei. O texto II destaca outros agentes da revolução, como os “camponeses”, “tecelões” e “crentes”. A pergunta não entra no mérito de qual dos textos está mais “certo” ou “errado” em sua abordagem, mas apenas pede que o aluno indique qual é a diferença entre as visões do tema, o que exige basicamente compreensão dos textos.

Podemos afastar a alternativa b, pois o texto II não fala de “homogeneidade de lutas religiosas”; também a c, já que não se discute a “unicidade” de abordagens históricas, que, como se vê, são divergentes; a d, que não traz nenhuma crítica a “interesses políticos”; e a e, pois, ao elencar vários elementos, em nenhuma momento se destaca a “superioridade” de um deles. O traço distintivo do texto II, em relação ao texto I, é a enumeração de múltiplos agentes no processo da Revolução Inglesa, expressando várias “demandas sociais”: “contra os cercamentos”, “contra a miséria”, “contra o Anticristo”… A alternativa correta é a a.

Ciências da Natureza

Análise e resposta

Encontrar a alternativa correta a essa questão exige combinar a compreensão do texto do cordel e comparar as suas informações com a tabela científica apresentada como texto II. Temos de responder a qual planeta o cordel faz referência. Tendo isso em mente, não é muito fácil entender os primeiros quatro versos, relativos à posição em relação ao Sol e à Terra (“nosso planeta amado”). Fica a ideia de que o planeta em questão está um pouco mais perto da Terra do que do Sol.

Comparando essa informação com a tabela, percebe-se que ela exclui apenas Mercúrio, que está mais perto do Sol. A informação decisiva para a resposta, então, está no penúltimo verso: “menos denso que a água”. A coluna “Densidade relativa média” mostra que apenas Saturno está abaixo de 1,0, valor-padrão da densidade da água. Mesmo que na hora você não se lembrasse disso, Saturno é o que tem a menor densidade, o que seria um indicativo decisivo.

A alternativa correta é a d. Mas ainda há uma informação suplementar no cordel que confirma a resposta: o título “Senhor dos Anéis”, referência aos anéis de Saturno (o planeta com os anéis mais visíveis no Sistema Solar).

Linguagens e Códigos

Análise e resposta

Temos aqui um trecho de uma das grandes obras literárias do Brasil, o livro de contos Sagarana, do escritor João Guimarães Rosa, autor também de Grande Sertão: Veredas. Guimarães Rosa é um dos maiores escritores brasileiros, entre outros motivos, pela extraordinária renovação da linguagem literária, enriquecendo-a com a oralidade de falares do interior do país. Por isso, a leitura de seus escritos não é de toda fácil. Exige certa tenacidade do leitor.

Sagarana é uma leitura orientada para o Ensino Médio, mas é também um livro extraordinário para momentos de lazer em qualquer idade. No contexto dessa questão do Enem, é perfeitamente possível ao aluno encontrar a resposta a partir de uma leitura atenta do texto e da confrontação com as alternativas. Pode-se depreender a situação narrada pelo trecho apresentado: um empregado chegou atrasado ao trabalho e está se explicando ao chefe, num ambiente em que há outros funcionários também falando. A transcrição das falas se aproxima da forma oral praticada pela população brasileira (o texto é de 1967, como está informado em letras pequenas ao pé da reprodução).

O aluno tem então de apontar qual característica do texto teria importância para a cultura do Brasil. Podemos descartar a letra a, pois a referência a uma possível doença (“nevralgia”) é usada apenas como desculpa pelo trabalhador atrasado; a b, pois não há menção a nenhuma profissão extinta (os personagens estão em ambiente de trabalho braçal, e seus afazeres nessa citação são genéricos); a c, pois não há relação entre os nomes dos personagens (Tercino, Laio, Correia, Marra…) e suas personalidades; a e, pois não há comentários à “desmistificação” de superstições. A leitura e a análise levam à conclusão de que há um valor particular nesse texto pelo resgate de ditos populares alusivos a “memórias e saberes coletivos” da população brasileira. A correta é a alternativa d.

Matemática

Análise e resposta

Questão típica de competência leitora, de texto e imagem (sobretudo imagem, tanto a da fotografia quanto a dos desenhos de cada alternativa). O texto descreve detalhadamente o Atomium, de forma que o aluno não tenha dúvidas de que ele está observando na foto um enorme cubo de metal apoiado em um dos vértices. A única palavra que não é do vocabulário cotidiano é “ortogonal”, mas que deveria ser totalmente familiar ao estudante do Ensino Médio. Significa “perpendicular”, ou seja, que se posiciona em “ângulo reto” – no caso do Atomium, em relação ao chão.

Isso significa que o ponto mais alto do cubo é uma esfera situada diretamente sobre a esfera que está na base da foto (e essa esfera superior fica oculta na foto pela esfera que aparece no alto da imagem). Em resumo, o texto esclarece as três dimensões da imagem plana que temos na frente dos nossos olhos.

Precisamos então imaginar como seriam as linhas do cubo vistas de baixo, a partir do vértice inferior do cubo. É uma “leitura” da descrição e da foto transportada para linhas simples por uma projeção mental. Em outras palavras, é a projeção gráfica em três dimensões de um cubo a partir de um de seus vértices. Um recurso que poderia ser usado pelo aluno, na hora do exame, seria imaginar um cubo comum (um dado, por exemplo) num desenho de três dimensões. A alternativa a tem excesso de linhas internas; a b e a d são excessivamente simples, e tal como a c, remetem a imagens planas; a resposta certa é a e, projeção espacial de um cubo.

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