A divulgação de uma redação nota 1.000 no Enem 2016 tem chamado a atenção para uma prática que parece cada vez mais comum entre aqueles que estão se preparando para o exame: o plágio. Ou, para colocar de outra forma, o uso de fórmulas prontas, com frases inteiras copiadas de outras redações nota mil.
O Guia do Estudante teve acesso ao espelho da redação de uma aluna do Rio de Janeiro – uma das 77 redações que receberam nota máxima no Exame em 2016 – com trechos idênticos ao de duas outras redações. Uma delas foi feita pelo estudante Raphael de Souza, do Rio de Janeiro, que tirou nota 1.000 no Enem 2015 (cujo tema era “A persistência da violência contra a mulher no Brasil”). A outra redação usada como referência foi escrita pelo professor Rafael Cunha e publicada em 2014 no site do curso Descomplica, como exemplo para o tema do exame de 2014, “Publicidade infantil em questão no Brasil”.
“Eu fazia três redações por semana. Meu professor ensinou como era a estrutura da dissertação e eu tinha muitas redações como modelo“, diz a aluna. Ela mesma contou que usou ideias de outros textos: “No dia do Enem, eu já sabia mais ou menos o que iria escrever. Não tinha a redação pronta porque não sabia qual seria o tema, mas usei aquela do equilíbrio aristotélico [a do estudante Raphael de Souza] como base”. A estudante também contou que continua estudando para o vestibular – apesar da nota alta, ainda não conseguiu os pontos necessários para o curso que deseja.
O tema da prova de redação do Enem 2016 foi “Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil”. Apesar de se tratarem de assuntos diferentes, os argumentos e citações utilizados na redação copiada eram os mesmos. Veja abaixo a comparação (clique na imagem para ampliar).
As equivalências foram percebidas em alguns fóruns e blogs pela internet, que, sem repercussão, comentaram o assunto à época do lançamento dos espelhos, em abril.
Resposta do Inep
O Inep, órgão do Ministério da Educação responsável pelo Enem, reprova tal prática.
Ao Guia do Estudante, a professora Maria Inês Fini, presidente do Inep, afirmou: “Consideramos lamentável o episódio. O Inep adotará as necessárias providências para dificultar esse tipo de atitude que impacta negativamente no desenvolvimento ético de nossa juventude e população adulta e nos critérios de justiça e transparência dos processos de acesso ao ensino superior no Brasil”.
As regras para a formulação da redação do Enem proíbem o candidato de realizar cópia de textos, ou escrever menos de sete linhas não originais, sob pena de anulação do texto. No caso, o edital é específico a respeito da coletânea, que não deve ser copiada na redação, mas entende-se que as produções devem ser originais, do próprio estudante.
A cópia da coletânea é o segundo principal motivo de nota zero na redação; em 2016, foram 8,3 mil candidatos nesta situação.
Fórmula pronta
Dissertações – o tipo de texto pedido na prova de redação do Enem – têm uma estrutura relativamente fixa: introdução, desenvolvimento e conclusão. No entanto, o conceito de uma fórmula para uma redação nota mil parece ter ido muito além disso. Estão surgindo na internet sites com dicas de expressões e até mesmo argumentações inteiras para serem usadas pelo aluno na prova.
Conforme observado em pesquisa feita pelo GUIA DO ESTUDANTE, vários outros textos circulam pela internet com cópias integrais ou parciais da mesma redação do estudante Raphael de Souza, com algumas alterações para se adequar a diferentes temas – no entanto, não há evidências de que estes textos tenham sido reproduzidos na prova do Enem.