8 livros para refletir a questão racial no Brasil e nos Estados Unidos
As obras trazem fatos históricos e relatos do cotidiano para mostrar como o racismo atinge esses dois países
Em 25 de maio de 2020, o trabalhador negro George Floyd foi morto brutalmente por um policial branco nos Estados Unidos. Semanas depois, no Brasil, o caso de Miguel Otávio Santana trouxe tristeza e revolta. O garoto negro de 5 anos morreu após cair do 9º andar de um prédio de luxo no Centro do Recife. No momento do acidente, a mãe, que é doméstica, estava passeado com o cachorro dos patrões e Miguel estava aos cuidados da patroa dela, que é primeira-dama de Tamandaré (PE). A mulher foi presa em flagrante por homicídio culposo e solta após pagar fiança de R$ 20 mil. Dois casos tristes envolvendo o racismo que, infelizmente, não são exceção em nenhum dos dois países.
Segundo o Atlas da Violência 2019, estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, de 2007 a 2017 a taxa de negros vítimas de homicídio cresceu 33,1%, enquanto a de não-negros teve um pequeno aumento, de de 3,3%. Em 2017, 75,5% das vítimas de homicídio no país eram negras.
De acordo com um levantamento do jornal britânico The Guardian, nos Estados Unidos a polícia também mata mais negros que brancos. Das 1.093 mortes em intervenções policiais no país em 2016, relatadas no site, 24% são pessoas negras, sendo que elas não passam de 13% da população do país.
A eclosão de protestos contra o preconceito e a violência que atinge os negros coloca luz novamente sobre a desigualdade e a representatividade racial nos dois países. Confira oito obras que trazem fatos históricos e relatos do cotidiano para mostrar como o racismo atinge as duas sociedades.
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Olhos d’Água, de Conceição Evaristo
Por meio de contos, a autora traz para a discussão a pobreza e a violência urbana que atingem a população negra no Brasil. As mulheres, mães, avós e filhas, são apresentadas na obra com todas suas experiências, vulnerabilidades, dilemas existenciais e amores. O livro ganhou o prêmio Jabuti em 2017 na categoria Contos.
A Nova Segregação: Racismo e Encarceramento em Massa, de Michelle Alexander
A autora analisa o sistema prisional dos Estados Unidos e expõe em sua obra como opera o racismo estrutural e institucionalizado nas sociedades ocidentais contemporâneas. A sinopse da editora Boitempo fala da repercussão desse trabalho: “O livro desafiou a noção de que o governo Obama assinalava o advento de uma nova era pós-racial e teve um efeito explosivo na imprensa e no debate público estadunidense, acumulando prêmios e inspirando toda uma geração de movimentos sociais antirracistas”.
O Genocídio do Negro Brasileiro: Processo de um Racismo Mascarado, de Abdias Nascimento
O escritor e ativista Abdias Nascimento vai contra a visão de que o Brasil seria uma democracia racial, mostrando a realidade da população negra do país, incluindo a violência e os abusos. Ele também apresenta o histórico da escravidão dos descendentes de africanos no Brasil. A pesquisa que antecedeu o livro foi banida do Festival Mundial de Arte e Cultura Negras, na Nigéria, em 1977. O questionamento de Abdias sobre a “harmoniosa convivência racial no Brasil” foi substituído, no evento, pela palestra do professor Fernando A. A. Mourão, que defendeu que o Brasil havia acabado com o racismo.
O Sol é para Todos, de Harper Lee
Considerado um clássico da literatura mundial, a obra de 1960 denuncia o racismo e a injustiça por meio da história de um advogado que defende um homem negro acusado de estuprar uma mulher branca nos Estados Unidos dos anos 1930. O livro, ganhador do Pulitzer, é narrado por Scout, filha do advogado, e traz uma história atemporal sobre tolerância e conceito de justiça.
Quem Tem Medo do Feminismo Negro?, de Djamila Ribeiro
A obra reúne um longo ensaio autobiográfico inédito e uma seleção de artigos publicados por Djamila Ribeiro no blog da revista CartaCapital, entre 2014 e 2017. Por meio de suas lembranças, fala sobre o “silenciamento”, processo de apagamento da personalidade que é resultado da discriminação. Usando situações do cotidiano, como ataques a a celebridades negras, o livro destrincha conceitos como interseccionalidade.
Entre o Mundo e Eu, de Ta-Nehisi Coates
O jornalista americano Ta-Nehisi Coates articula grandes questões da história com as preocupações mais íntimas de um pai por um filho. Ele compartilha com o filho e os leitores o seu despertar para a verdade em relação a seu lugar no mundo e uma série de questionamentos sobre o que é ser negro na América.
Um Defeito de Cor, de Ana Maria Gonçalves
Por meio da personagem Kehinde, uma mulher africana, idosa, cega e à beira da morte que viaja para o Brasil em busca de seu filho perdido há anos, a obra retrata a formação do povo brasileiro. Os fatos históricos estão imersos no cotidiano e na vida dos personagens. É uma recriação ficcional da história de Luísa Mahin, que articulou e participou da Revolta dos Malês (1835), na Bahia, e era mãe do poeta e advogado Luís Gama.
A Resposta, de
A história do livro se passa nos anos 1960 e é contada por três mulheres: a jornalista Skeeter, Aibileen, empregada doméstica que criou 17 crianças brancas, e Minny, que, por não levar desaforo para casa, já esteve por diversas vezes desempregada após bater boca com suas patroas. Elas denunciam a discriminação racial e as injustiças. O filme baseado no livro ganhou no Brasil o título Histórias Cruzadas.
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