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“A hora da estrela” – Análise da obra de Clarice Lispector

Entenda os principais aspectos da obra

Por Redação do Guia do Estudante
Atualizado em 12 abr 2018, 18h00 - Publicado em 22 ago 2012, 23h53

“A hora da estrela” – Análise da obra de Clarice Lispector

Em seu último romance, Clarice Lispector criou um narrador fictício, Rodrigo S.M, que relata a vida da jovem nordestina Macabéa, ao mesmo tempo em que reflete sobre os sonhos, as manias e os conflitos internos da garota.

– Leia o resumo de “A hora da estrela”

Miséria nossa de cada dia
Publicada pouco antes de sua morte, em 1977, “A Hora da Estrela” é a última obra de Clarice Lispector. Nesse livro, que tem como narrador Rodrigo S.M., alter ego da autora, há o retrato de uma jovem nordestina, Macabéa, que tenta sobreviver na cidade grande. A narrativa, complexa, é marcada pela presença dos conflitos existenciais da protagonista, bem como do próprio Rodrigo S.M.

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Em “A Hora da Estrela”, ficam visíveis algumas das principais características dos autores da terceira fase modernista no Brasil (posteriores aos romances regionalistas), como a utilização de análise psicológica mais aprofundada dos personagens, que revela, por meio da narrativa interior, o fluxo de consciência e o intimismo. No plano formal, há a preocupação por uma linguagem mais elaborada, com a presença das digressões, o uso inusitado da pontuação, ou mesmo sua ausência, as metáforas e a metalinguagem.

Na Dedicatória, a autora deixa claro que se converterá em um ser fictício, Rodrigo S.M., como se fosse outra faceta de sua personalidade, o que não compromete a consciência de sua individualidade. Talvez Clarice tenha optado por se tornar um narrador masculino para poder ser mais agressiva e menos sentimental, o que caracterizaria uma ironia da autora em relação à condição da mulher na sociedade, vista normalmente como um ser frágil e piegas. Assim, por meio do recurso digressivo, a autora busca dialogar com o leitor, despertando nesse um papel mais ativo, que é o de compartilhar a culpa que ela sente e a responsabilidade que tem para com a injustiça social e a alienação simbolizadas por Macabéa.

A obra possui, também, uma peculiaridade: antes do início da narrativa, há, na primeira página, o título do livro, seguido de 13 outros títulos, inclusive um repetido, além da assinatura manuscrita de Clarice.

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A estrutura da obra tem três grandes eixos narrativos e simultâneos, o que torna o enredo fragmentado e quebra a tradicional construção linear. A primeira narrativa tem Rodrigo S.M. relatando a história de Macabéa; a segunda mostra o narrador falando das próprias experiências e do drama existencial que vive; na terceira, vemos o próprio processo de construção da obra, o que caracteriza a metalinguagem.

Comentário do professor
Confira a seguir o comentário do prof. Marcílio B. Gomes Jr, da Oficina do Estudante de Campinas (SP):

A narrativa de “A hora da estrela” é uma interminável pergunta sobre a condição humana, ao longo de um enredo no qual se fundem histórias ou eixos distintos e complementares: ma vida de Macabéa, imigrante nordestina que vive desajustada no Rio de Janeiro; a história do autor do livro, identificado como Rodrigo S. M., sem propriamente um rosto definido, mas que interfere sistematicamente no enredo; e ainda a história do próprio ato de escrever. Nessa arquitetura instigante, Clarice Lispector articula três linhas de reflexão a respeito da existência e da arte: 1) filosófica, com a qual focaliza os limites do conhecimento do mundo, por meio da palavra; 2) social, com a qual investiga os impasses e os confrontos gerados pela incomunicabilidade entre os seres humanos; e 3) estética, com a qual investiga o ato da criação e sua importância na vida das pessoas. O narrador, Rodrigo S. M., é uma figura particularmente interessante, pois, assim como a personagem Macabéa, também está em busca de si mesmo, em busca de uma identidade; ao mesmo tempo em que se identifica com a realidade circundante, sente também estranhamento ao interagir com ela, oscila entre identificação e afastamento. A obra é digressiva, porque não segue uma narrativa linear; é metalinguística pela contínua reflexão sobre sua própria estrutura; apresenta 13 títulos que se referem aos estados de espírito do narrador e desmistificam o poder centralizador de um só.

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O importante para os exames vestibulares é lançar um olhar atento ao estilo da autora, isto é, observar sua linguagem moderna, marcada de metáforas, de frases anômalas, de comparações e de associações inusitadas e surpreendentes que conduzem o leitor às profundezas do ser, isto é, o próprio fluxo de consciência, recurso muito explorado em seus livros. Outro componente decisivo da produção literária de Clarice Lispector é a epifania, o momento da iluminação, da tomada de consciência, em que a personagem é alçada a um altiplano no qual se torna capaz de vislumbrar aspectos nunca antes percebidos da existência e de si mesmo.

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