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?A novela está para o Brasil assim como o cinema está para os Estados Unidos?, diz professora da USP

Coordenadora do Centro de Estudos de Telenovelas da ECA-USP lembra também que a produção de telenovelas envolve uma grande geração de empregos de diversos tipos

Por Redação do Guia do Estudante
Atualizado em 16 Maio 2017, 13h55 - Publicado em 17 Maio 2010, 12h48


Para a especialista, é preciso gostar do que se estuda, construir uma relação afetiva e racional ao mesmo tempo

Por Fábio Brandt

Além de ter contribuído para o aprimoramento das técnicas de produção televisivas, as novelas têm grande potencial econômico e de geração de empregos, afirma Maria Immacolata Vassallo de Lopes, professora da USP especialista nesse gênero audiovisual e coordenadora do Centro de Estudos de Telenovelas da universidade.

Inaugurado em 1992, o centro preenche uma lacuna do mundo acadêmico: análise crítica das telenovelas. “Havia muito preconceito com esse objeto de estudos na universidade, Isso já melhorou, mas ainda existe”, comenta a professora. O debate em torno da novela e do meio universitário voltou a tona com as gravações de Passione, em que a atriz Carolina Dieckmann interpreta uma pós-graduanda em Jornalismo na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP.

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Confira a entrevista que a professora concedeu ao GUIA:

GUIA DO ESTUDANTE – O que a senhora achou das gravações da novela Passione dentro da ECA?
MARIA IMMACOLATA VASSALLO DE LOPES – A universidade deve preservar o debate e isso significa ter opiniões diferentes. A polêmica na verdade tem a ver com a relação da ECA com a Globo, com o mercado. Não concordo com estudantes que dizem que fica mal deixar a Globo entrar, filmar e gravar. Recentemente, recebemos uma sala abarrotada de estudantes de Jornalismo para ouvir o William Bonner, e a Globo estava aqui.

– Gravações de novela na USP causam controvérsia entre alunos

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Sou professora aqui há muito tempo, faço pesquisa financiada por órgãos públicos e tenho parcerias para as quais preciso de coisas que a Globo tem. A relação da universidade com empresas é algo que está andando e precisa andar mais. Quero saber no que isso faz mal.
Posso estar errada, mas toda vez que a universidade ganha certa visibilidade é melhor pra nós. Isso mostra que aqui tem curso de jornalismo. A visibilidade é fundamental, mostrar o trabalho da universidade pra sociedade. Soube que a personagem é estudante de jornalismo, mas para mim seria ótimo que ela fizesse mestrado em telenovela! (risos)

GE – Qual é a importância da telenovela para a sociedade?
MVL – Ela é um objeto popular que sofreu e sofre discriminação quanto à sua importância. Devemos ver o que a novela representa no Brasil. Isso inclui sua importância econômica, que está na base do maior conglomerado midiático do Brasil, a Globo.

A gente aprendeu a falar de “padrão Globo de qualidade”. Isso significa que foram desenvolvidos desde recursos tecnológicos até a narrativa de autores. Além disso, a telenovela é um formato da ficção televisiva diferente de séries e minisséries porque é um produto único no mundo: uma narrativa longa e diária. São quase dois filmes e meio por semana, por oito meses. Imagine o grau da produção, de recursos humanos, a mão de obra especializada empregada em uma novela.

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GE – Como é o mercado para quem quer trabalhar com novelas?
MVL – Alguém que vai estudar Comunicação, por exemplo, deve prestar atenção. A telenovela é uma fantástica indústria cultural, dá muito emprego. As novelas não visam só sustentar níveis de audiência. Há também novelas de exportação. Os estudantes devem entender que isso é mercado profissional. Tem espaço para quem é de Comunicação, Letras, Design e outros. O trabalho deles vai convergir pra um produto central da cultura brasileira, reconhecido internacionalmente.

GE – Qual a influência da telenovela na sociedade?
MVL – O livro foi para civilização europeia o que o cinema foi para os Estados Unidos. A telenovela é isso para o Brasil e para a América Latina. Essa narrativa galvaniza o país ao apresentar o que a gente conhece, o que se espera dele.

GE – Que tipo de preconceito a senhora identifica contra as novelas?
MVL – Do ponto de vista intelectual, novela é um produto popular. É um produto feito para refletir a visão de mundo de uma determinada classe. Muitos objetos populares são alvo de estudo sérios, como a economia, a formação dos empregos e coisas que têm gradação de valor.

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Mas quando estudamos programa de auditório, telenovela e a televisão, vem toda essa discussão sobre a qualidade da televisão, que é pertinente. Mas não se pode condenar a TV como um todo. A televisão tem muitos gêneros, muitas abordagens. Tem que vê-la como algo diversificado.

Claro que existe preconceito entre os próprios alunos. Começo a falar de telenovela e percebo isso. Mas faço alguma pergunta a respeito e todo mundo quer saber, eles não assistem, mas sempre estão sabendo o que ocorre, participam da discussão sobre o que está ocorrendo. Não fica bem falar que eu assisto telenovela.

GE – A senhora assiste a telenovelas?
MVL – A gente tem um grupo, dividimos e gravamos as coisas importantes pros projetos. Mas tento ver, principalmente, essa do horário nobre, em casa. Ela traduz o estágio da indústria cultural. Fora as séries e minisséries que passam em outro horário.

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GE – Qual foi a última novela a que a senhora assistiu por entretenimento?
MVL – A gente tem que gostar do que estuda! Tem que ter uma relação que, mais do que racional, seja afetiva. A ciência estuda pouco o afeto, a relação das pessoas com o tema. É ambígua a sua pergunta, porque assisto por entretenimento, mas não acho que é entretenimento! (risos). Vejo com o olhar de quem estuda.

Assisti inteiras Caminho das Índias, Duas Caras, A Favorita. Se não vejo todos os dias, tento acompanhar bem, duas ou três vezes por semana. Você tem que saber do que está falando. Não dá pra falar sobre telenovela. Se não assisto, se não gosto, como vou baixar a critica? Isso não é estudo, é panfleto.

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