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A origem do metro, a medida criada para ser o padrão universal

Sistema de medidas foi criado durante a Revolução Francesa, para democratizar os cálculos e transações

Por Luccas Diaz
Atualizado em 30 jun 2024, 15h55 - Publicado em 30 jun 2024, 15h00
origem do metro
 (Canva/Reprodução)
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Há certas coisas na vida que são tão bem definidas em nossa cabeça, que dificilmente as questionamos. Já parou para pensar, por exemplo, o que é um metro? “São cem centímetros”, você pode responder. Mas o que são centímetros, a não ser um metro dividido em cem partes? Dá um nó na cabeça, a gente sabe. Entender a origem curiosa do metro, que só foi adotado há pouco mais de 200 anos, pode ajudar a desfazer essa confusão.

À primeira vista, dois séculos pode parecer muito tempo, mas basta lembrar que estamos falando de uma época anterior aos meios de comunicação para entender que adotar uma única unidade de medida por todo o globo não foi nada simples. Hoje, por mais que o metro seja reconhecido mundialmente, a medida continua de fora do sistema de alguns países. Você já deve ter se deparado, por exemplo, com um estadunidense dizendo que têm 5’7″ de altura. Oi? Ao lado do Myanmar e da Libéria, os Estados Unidos é o mais famoso exemplo a não adotar o metro como medida oficial.

Neste texto, o GUIA DO ESTUDANTE mergulha no mundo da unidade de medida criada para ser universal, da sua origem à adoção.

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Em meio à Revolução Francesa, a métrica

A Revolução Francesa, como bem sabemos, foi um dos mais importantes eventos do século 18. Entre os acontecimentos que levaram ao fim da monarquia na França, era cultivado o desejo de libertação de qualquer controle que a igreja, a nobreza ou a monarquia pudessem ter sobre o povo – ou, pelo menos, dentro da concepção de liberdade que a época permitia. Um desses desejos era a democratização das unidades de medidas para que a população pudesse fazer seus próprios cálculos, sem a manipulação de superiores. Até aquele momento, era dado aos nobres o poder de controlar os pesos e medidas utilizadas em suas terras, um resquício do sistema feudal.

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Para se ter uma ideia, havia nos arredores da França cerca de 800 unidades de medidas diferentes – algumas arrastadas desde a queda do Império Romano. A ausência de padronização criava casos até mesmo engraçados: uma das medidas considerava que uma unidade de terra era definida pela distância que a voz de um homem chegava. Um “quartilho” (ou “pinto”) em Paris era igual a 0,9 litros, enquanto em Saint-Denis significava 1,4 litros. O cenário era caótico e abria margem para golpes e manipulações.

Marquês de Condorcet (1743-1794) é considerado o grande precursor do fim dessa prática. Matemático e filósofo, defendia que, sem um sistema universal e padronizado, as pessoas nunca seriam “realmente iguais em direitos… ou nem mesmo livres”. Foi o que escreveu no livro “Esboço de um quadro histórico dos progressos do espírito humano”, em que imaginou uma sociedade liderada pela ciência e razão. O borbulhante cenário de ideais científicos e racionais em que a Paris de 1789 se encontrava abraçou a ideia do matemático – sobretudo o diplomata Charles-Maurice de Talleyrand-Périgord (1754-1838).

Ele sugeriu, inicialmente, que o resto da nação simplesmente incorporasse as medidas usadas em Paris, mas logo a ideia foi descartada e chegou-se à conclusão de que seria mais vantajoso criar um novo sistema. Um que, com sorte, seria adotado também internacionalmente. Assim, liderado por Condorcet, a Academia Francesa de Ciências reuniu em maio de 1790 os melhores matemáticos da época e propôs que solucionassem o problema.

A medida universal

Para chegar à resposta, os matemáticos Jean-Charles de Borda (1733-1799), Joseph-Louis Lagrande (1736-1813), Pierre-Simon Laplace (1749-1827) e Gaspard Monge (1746-1818), além do próprio Condorcet, se debruçaram sobre um conceito criado um século antes, pelo também matemático francês Gabriel Mouton (1618-1694). Ele solucionava uma questão importante acerca da medição: o que deveria ser usado como base para a medida. Pés? Braços? Polegadas? Nada disso, Motuon sugeria utilizar como base a própria Terra!

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Adaptando o conceito do matemático, o grupo chegou a seguinte conclusão: um metro seria o equivalente a um décimo de milionésimo da distância entre o Equador e o Polo Norte.

A escolha dos dois pontos não foi arbitrária, representava algo natural e imutável – isto é, que para sempre representaria o mesmo valor. Essas características facilitariam a adoção internacional, uma vez que, em tese, não eram limitadas à cultura ou valor de nenhuma nação em específico – embora hoje saibamos que até mesmo a definição de norte ou sul, leste e oeste carrega visões geopolíticas.

O fato é que cálculos preliminares indicavam que a medida seria semelhante ao aune, uma unidade já bem conhecida em Paris. A partir do metro, outras medidas, como volume, área e peso também se padronizariam, respeitando uma equivalência de decimais entre si. O próprio nome “metro” seria uma adaptação de metron, grego para medida.

Um cálculo nada simples

Caso você esteja em dia com os estudos de Geografia, deve ter reparado que a distância entre a Linha do Equador e o Polo Norte representa, na verdade, um quarto de um meridiano. Os meridianos são linhas imaginárias que vão do Polo Norte ao Polo Sul, cortando a Terra em várias “fatias” verticais. Uma dessas linhas passa convenientemente pelo Observatório de Paris, e foi por meio dela que os cientistas se basearam para realizar a medição.

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Claro que apenas estender uma fita métrica monumental estava fora de questão. Então, os cientistas se basearam em duas outras cidades que estavam sob o meridiano de Paris: Dunquerque (França) e Barcelona (Espanha). Mediram a distância e a diferença de latitude entre elas e, adivinha só, utilizaram uma boa e velha regra de três para descobrir a distância do meridiano entre a Linha do Equador e o Polo Norte.

Obviamente que nada disso foi simples e rápido. A pressa do governo francês por um novo sistema de medidas resultou em diversas aprovações provisórias, que iam se aperfeiçoando, substituindo, ou cancelando as anteriores – houve aprovações em 1791, 1793, 1795 e 1799. A própria expedição para medir a distância entre Dunquerque e Barcelona, que deveria ter levado um ano, acabou ficando de escanteio com o eclodir da guerra com a Espanha, e foi finalizada apenas sete anos depois.

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O metro, hoje

Os resultados oficiais da expedição finalmente chegaram em 1799 e, com eles, o cálculo foi enfim oficializado. Para simbolizar a adoção da nova medida, uma barra de platina com um metro foi encomendado e exposta pela França. À medida, porém, que a ciência e as novas tecnologias de mensura foram evoluindo, correções pontuais foram sendo feitas, incluindo uma nova barra de platina-irídio cem anos depois, em 1899.

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Em 1960, a medição foi refeita, desta vez a partir da frequência da luz emitida por átomos de criptônio-86. Posteriormente, em 1960, uma nova tecnologia refinou ainda mais a medição do metro. Renunciando a qualquer localização ou objeto físico, determinou-se que a medida exata deveria ser baseada na velocidade da luz no vácuo durante um intervalo de tempo de 1/299792458 de segundo.

A uniformidade proporcionada pela adoção do metro facilitou cálculos e padronizou transações internacionais. Hoje, é o sistema de unidade de medida mais utilizado do mundo, justamente pelo seu caráter rigoroso e preciso.

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