Imagine poder mapear, com certa precisão, todas espécies de um animal e ainda conseguir ver a forma como se distribuem e como vivem? É isso que um grupo de cientistas de Singapura e da China fizeram com as abelhas. Uma nova pesquisa divulgada em dezembro de 2020 conseguiu definir os padrões de comportamento e a distribuição das 20 mil espécies de abelha pelo mundo, formando um “mapa global das abelhas”.
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O resultado, além de ter animado a comunidade científica com as novas possibilidades de mapeamento e preservação da espécie, levantou novamente a discussão a respeito da importância das abelhas para o meio ambiente. Mas por que elas são tão importantes, afinal?
O que diz a pesquisa?
Publicada no periódico científico Current Biology, a nova pesquisa foi feita por meio de uma parceria entre os cientistas da Academia Chinesa de Ciências e da Universidade Nacional de Singapura. O texto explica que, até o momento, os registros acessíveis ao público eram esparsos, especialmente nos países em desenvolvimento e frequentemente imprecisos. De acordo com a pesquisa, África, América Latina, Ásia e Oriente Médio apresentam 84% das espécies globais, mas apenas 12% das espécies eram catalogadas.
A criação do mapa global veio em uma tentativa de democratizar o acesso e organizar os milhares de dados disponíveis. O novo mapa é uma forma de ter melhores referências na distribuição das espécies ao redor do globo. Os resultados apontam para regiões de hotspots, ou seja, de maior riqueza de espécies e reprodução das abelhas. O mapa abaixo mostra que a América do Norte sai na frente em número de espécies.
A partir da distribuição geográfica das espécies, foi possível chegar a conclusões surpreendentes sobre a vida das abelhas. Os resultados podem fornecer “uma nova linha de base e melhores práticas para estudos em abelhas e outros invertebrados pouco estudados”.
- “As abelhas apresentam um raro gradiente latitudinal bimodal com maior riqueza em latitudes médias”: as abelhas, ao contrário da maioria esmagadora dos animais, preferem regiões longe da linha do Equador, com “climas áridos e temperados”;
- “Zonas secas e temperadas hospedam maior riqueza do que áreas tropicais”: as abelhas preferem zonas mais secas e de clima menos quente, motivo pelo qual há menor concentração de espécies no Norte, Nordeste e Centro-Oeste brasileiro, por exemplo;
- “A produtividade e a riqueza das plantas são fatores importantes quando as florestas são excluídas”: novidade nenhuma para a comunidade científica, o desmatamento das florestas afeta diretamente a vida das abelhas;
- “Uma reconstrução global da riqueza de espécies de abelhas é apresentada pela primeira vez”: um novo padrão vem se formando, desde a década de 70, em que as abelhas estão se concentrando em áreas que antes não eram tidas como as principais pelos cientistas.
Por que elas são tão importantes?
Se existe até mesmo um aplicativo para o aluguel de abelhas, significa que a situação é, no mínimo, preocupante. Com o declínio na população desses insetos ao redor do mundo, a polinização assistida se tornou uma opção para agricultores. Mas a preocupação não deveria ser apenas restrita à área agrícola. O papel das abelhas é fundamental para a manutenção da vida na Terra.
Três pontos-chave definem a importância das abelhas para o meio ambiente. O primeiro é a sua função na alimentação do planeta. De acordo com os dados da ONG americana World Bee Day, uma das maiores organizações em defesa das abelhas, elas são responsáveis pela “polinização de quase três quartos das plantas que produzem 90% dos alimentos do mundo”. Um terço da produção mundial de alimentos depende das abelhas, ou seja, “a cada três colheradas de comida, uma depende da polinização.” Isso sem levar em consideração toda a produção de mel, que serve não apenas para o consumo alimentício, mas para a preparação de remédios e cosméticos.
O segundo ponto diz respeito à sustentabilidade agrícola. O pólen nada mais é do que um pequeno grão encontrado nas flores e são produzidos pelo sistema de reprodução das plantas. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Empraba) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, esclarece que as abelhas “ao pousar de flor em flor, usam os muitos pêlos que possuem em seu corpo para coletar o pólen, que elas transportam depois para outras flores”. Com essa ação, as abelhas misturam o material genético das plantas, garantindo uma maior variabilidade e, possivelmente, maior resistência contra pragas e outros insetos predadores. A polinização cruzada eficaz é importante para agricultores, pequenos ou grandes.
O terceiro ponto é o simples fato de que as abelhas estão ligadas à manutenção da biodiversidade. Se as abelhas sumissem do dia para a noite, seria muito provável que os ecossistemas da Terra entrariam em colapso rapidamente. De acordo com a Associação Brasileira dos Estudos das Abelhas (A.B.E.L.H.A.), as abelhas são animais extremamente sensíveis às mudanças de ambiente e temperatura. Elas são, portanto, indicadores de biodiversidade, que, além de serem as maiores polinizadoras do mundo, são formas de ficar de olho na “saúde” do planeta.
Para ir além
Os motivos pelo crescente desaparecimento das abelhas é uma conjunção dos principais problemas ambientais atuais. As alterações climáticas, as novas doenças, a poluição, a introdução de novas espécies em habitats, o plantio de culturas geneticamente alteradas e o uso inadequado de pesticidas são os mais impactantes para as espécies.
Uma forma de entender mais sobre a relação do homem com as abelhas é por meio de filmes e documentários. Um exemplo é o indicado ao Oscar de 2019, Honeyland. O documentário mostra a relação da apicultura com a sociedade humana, contando a história de apicultores nômades que quebram a regra mais básica do cultivo de abelhas: pegue metade do mel, mas deixe metade para as abelhas. A última mulher caçadora de abelhas na Europa deve salvar os insetos para restaurar o equilíbrio natural.
Disponível no Globoplay.
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