Aprenda a escrever bem com este psicólogo de Harvard
A publicação de um chefe de comunicação explicando as dicas de Steven Pinker viralizou no LinkedIn
Não importa qual é sua linha de trabalho, escrever é necessário. Escrever bem, então, é algo que pode ajudar um profissional a avançar na carreira. Afinal, em meio a tanta comunicação mal feita, um e-mail bem redigido, uma apresentação clara ou uma posição bem apresentada podem ir mais longe do que se imagina.
Glenn Leibowitz, chefe de comunicação da consultoria McKinsey na China, abordou o assunto em um um post recente no LinkedIn. Utilizando o trabalho de Steven Pinker, um renomado psicólogo, linguista e neurocientista de Harvard e autor de Guia de Escrita (e também de Os Anjos Bons da Nossa Natureza, o livro mais inspirador que há para Bill Gates), Leibowitz explica como deixar seu texto mais claro e porque evitar jargões e clichês é como “achar uma nota de cem dólares na calçada”.
Leia a tradução do NaPrática.org abaixo:
Como escrever bem? (e porque!)
“Por que há tantos escritos que são tão difíceis de entender? Por que um leitor típico precisa sofrer para seguir um artigo acadêmico, as letras pequenas do imposto de renda ou as instruções para instalar uma rede wireless em casa?”
Essas são questões que Steven Pinker, psicólogo de Harvard, pergunta em seu livro Guia de Estilo. São questões que frequentemente encontrei – e tendei lidar com – em minha carreira como escritor de negócios e editor.
Quando vejo algo cheio de jargões, clichês, termos técnicos e abreviações, duas questões imediatamente vem à cabeça.
Primeiro: o que aquilo está tentando dizer exatamente? Segundo: como o escritor pode transmitir suas ideias mais claramente, sem precisar se apoiar em uma linguagem que confunde o leitor?
A maldição do conhecimento
Para Pinker, a causa raiz de tanta escrita ruim é o que ele chama de “a maldição do conhecimento”, que define como “uma dificuldade de imaginar como é para alguém que não sabe algo que você sabe. A maldição do conhecimento é a melhor explicação que eu tenho para explicar porque pessoas boas têm uma prosa ruim.”
“Qualquer lazer humano – música, gastronomia, esporte, arte, física teórica – desenvolve gírias para evitar que seus entusiastas tenham que dizer ou digitar uma descrição longa toda vez que se referem a um conceito familiar para os colegas. O problema é que, conforme nos tornamos proficientes em nosso trabalho ou hobby, passamos a usar essas palavras com tanta frequência que elas fluem de nossos dedos automaticamente e esquecemos que nossos leitores podem não ser membros do mesmo clube.”
“As pessoas de negócios parecem particularmente suscetíveis a sofrer com essa “maldição do conhecimento”.
São expostas a uma sopa de letrinhas de termos técnicos, jargões e acrônimos no trabalho – ou mesmo mais cedo, na faculdade ou na escola de negócios – que então usam na interação diária com outros.
Esses termos de insiders e abreviações servem como um dialeto que as pessoas usam para comunicar suas ideias por escrito, por e-mail ou em apps de conversa, em propostas de negócios e apresentações.
Elimine maus hábitos
“Como podemos eliminar a maldição de conhecimento?”, pergunta Pinker. “Um escritor atencioso vai cultivar o hábito de adicionar algumas palavras explicativas aos termos técnicos comuns, como ‘Arabidopsis, uma planta com flor’ ao invés de apenas ‘Arabidopsis.’
Não é um ato magnânimo: um escritor que explica termos técnicos pode multiplicar seu número de leitores mil vezes com apenas um punhado de caracteres, o equivalente literário de achar uma nota de cem dólares na calçada.
“Leitores também vão agradecer o escritor pelo uso frequente de ‘por exemplo’, ‘como’ e ‘assim como’, porque uma explicação sem exemplo é pouco melhor que explicação nenhuma.”
Quando escrevo uma sentença que me faz pausar e pensar sobre seu significado, assumo que outros leitores podem reagir da mesma maneira.
Se uma frase não está clara para mim, pode não estar clara para outros. É uma abordagem que recomendo para qualquer um que esteja tentando melhorar sua escrita.
Torne a linguagem acessível
Certamente não há uma receita única para esse problema. Se você está escrevendo um artigo científico sobre, digamos, edição de DNA, então precisa usar a terminologia científica relevante disponível.
Para escritos destinados a um público mais amplo, no entanto, você deve torná-los tão acessíveis quanto for possível.
E há diversas maneiras de fazer isso: usar uma linguagem fresca ao invés de clichês, usar uma linguagem mais simples e mais clara no lugar de jargões da indústria, explicando as letras de um acrônimo…
Antes de clicar em “publicar” e enviar seu escrito para o mundo, seja honesto consigo mesmo em relação à probabilidade que um leitor tem de entender uma passagem ou frase.
Antes de imprimir – ou publicar – seus escritos, tire alguns momentos para garantir que o que você escreve é claro e compreensível para tantos leitores seus quanto for possível.
Como Richard Feynman, físico vencedor do prêmio Nobel, certa vez escreveu: “Se você se escutar dizendo: ‘Acho que entendi isso’, significa que não entendeu.”
Esse texto foi originalmente publicado no portal Na Prática, da Fundação Estudar, parceira do Guia do Estudante.