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Bráix Cubax: como era o sotaque carioca na época de Machado de Assis?

Como seria o "r" do escritor ao pronunciar as palavras "verme" ou "cadáver"? Os "s" de "Brás Cubas" seriam chiados?

Por Luccas Diaz
Atualizado em 29 Maio 2024, 19h03 - Publicado em 29 Maio 2024, 19h00

“Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver…”: se você acessou a internet nos últimos dias, deve ter lido a frase que abre “Memórias Póstumas de Brás Cubas“, a grande obra-prima de Machado de Assis, com uma entonação, no mínimo, diferente. Depois de ter figurado no topo da lista de mais vendidos da Amazon graças ao vídeo de uma estadunidense que se encantou com o livro, um novo debate acerca de Machado ressurgiu. Natural do Rio de Janeiro, teria o maior autor brasileiro de todos os tempos tido sotaque carioca?

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Nas redes sociais, o que não faltam são memes elaborando a ideia de que Machado, nascido no Morro do Livramento, no centro da capital, falaria tal qual um “carioca da gema”, com direito ao famoso “S” chiado. Brás Cubas, na verdade, seria pronunciado “Bráix Cubax” pelo autor do realismo. Imaginar o texto de um escritor tão renomado e clássico quanto Machado de Assis sendo pronunciado com a sonoridade do sotaque carioca – frequentemente associado a uma certa coloquialidade – parece divertir a internet.

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Os memes, num primeiro momento, parecem bobos, mas transmitem uma mensagem interessante. Eles humanizam e aproximam o autor, que, por vezes, é tão detestado por estudantes que precisam ler seus livros para a escola ou o vestibular.

A narração que viraliza nas redes é da influencer Baueny Barroco, famosa por ter um sotaque carioca pesado. Mais recentemente, o meme até evoluiu e se tornou uma verdadeira reunião de sotaques, com uma thread no X mostrando como a célebre frase é pronunciada em diferentes regiões do país.

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O caso de Machado de Assis é diferente, por exemplo, do de Clarice Lispector, oitenta anos mais jovem que o autor, que tem entrevistas gravadas em vídeo e áudio. Sabemos que a autora, que era imigrante ucraniana, tinha a língua presa e um sotaque de gringa: falava parecendo um francês que aprendeu português.

Com Machado de Assis, o cenário é outro. Assim como todos os nascidos antes da possibilidade da gravação de áudio, não sabemos como o autor falava. Por mais que desfrutemos de milhares de páginas da sua comunicação escrita, não temos nenhum registro de como sua voz soava para os ouvidos contemporâneos. Há, no entanto, uma área da ciência que pode nos ajudar com isso: a Linguística. E spoiler: talvez sua fala nem fosse tão diferente da pronúncia de hoje.

Caldeirão de sotaques

Já reparou que o “carioquês” é bem parecido com a pronúncia dos portugueses? Ainda que os sons tenham melodias diferentes, o sotaque carioca é considerado como o mais próximo do português falado em Portugal – pense no “ora pois” dos portugueses e no “isqueiro” dos cariocas. E não é para menos! A cidade maravilhosa, durante todo o período colonial, sempre teve uma relação única com Portugal – foi capital da colônia e, posteriormente, capital do império.

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O chiado, assim como a redução das vogais “e” e “o”, seria um herdeiro direto desse relacionamento. Um fenômeno que no ano que Machado de Assis nascia, 1839, já rolava solto pela população.

Marcelo Melo, sociolinguista da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), conta em entrevista ao Nexo Jornal que essa mistura linguística se intensificou, sobretudo, com a chegada da família real portuguesa três décadas antes, em 1808. De mudança para o Rio, trouxeram consigo cerca de 25 mil portugueses – 15 mil nobres e 10 mil funcionários.

Hoje esse número talvez nem fizesse cosquinhas nos mais de 6 milhões de habitantes da capital, mas estamos falando do Rio de Janeiro do início do século 19, que não tinha mais de 50 mil habitantes. É claro que não demorou para que a população local começasse a integrar – e até mesmo copiar – o jeito de falar dos recém-chegados, principalmente por parte das elites locais que tão desesperadamente queriam se associar aos nobres da corte.

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Somada à adição do português de Portugal nas ruas fluminenses, não podemos deixar de sublinhar a influência francesa na pronúncia do “R” que parece arranhar a garganta – como em “caderno” e “martelo”. Durante boa parte do século 19, a França figurava como o grande polo cultural do mundo ocidental, ditando costumes, roupas e, por que não, modos de falar. Os nobres da corte portuguesa que chegavam ao Brasil copiavam o “R” francês da mesma forma que as elites cariocas copiavam o seu chiado.

+ Por que o idioma francês tem tanta influência no português?

Sem perceber, se instalava na capital um jeito de falar que era uma mistura ao mesmo tempo do português já falado aqui (influenciado também pelas línguas indígenas e africanas) com o português de Portugal e alguns traços de francês. Tendo Machado de Assis vivido entre 1839 e 1908, é provável, portanto, que o autor falasse esse tal “carioquês” que se consolidava na época.

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