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Casal de médicos compartilha a rotina, experiências e dicas de estudo

Bianca Gabriela e Fabio Yuji do canal Mediários falam sobre o curso de Medicina na prática e dão dicas

Por Juliana Morales
Atualizado em 12 jun 2021, 12h41 - Publicado em 12 jun 2021, 06h01
Fabio e Bianca na Faculdade de Medicina da USP, já no fim da graduação.
Fabio e Bianca na Faculdade de Medicina da USP, já no fim da graduação. (Arquivo pessoal/Divulgação)
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Bianca Gabriela, 27, e Fabio Yuji, 28, se conheceram em 2013, quando os dois cursavam o primeiro ano de Medicina na USP. De colegas de sala viraram melhores amigos. Além da faculdade, os dois acabaram descobrindo outras afinidades: a paixão por literatura e música, por exemplo. Deu namoro.

No segundo ano da graduação, os dois ficaram juntos. Um ano depois, surgiu o primeiro fruto da relação: o Mediários, canal no YouTube que atualmente conta com 165 mil inscritos. Nos vídeos eles dão dicas de estudos, falam muito sobre o universo da Medicina, apresentam a rotina de médicos e indicam livros.

Outro assunto bastante tratado no canal é a residência. Formados em 2018 na graduação, Fábio agora se especializa em Medicina de Família e Comunidade, enquanto Bianca, já formada em Cirurgia Geral, está estudando para se especializar em Gastrocirurgia. Eles contam sobre suas experiências desde a escolha da especialização, como é a prova e a rotina de um residente.

A ideia do canal surgiu em 2015, quando o YouTube teve seu boom. Bianca alimentava seu blog “ABC da Medicina” desde que passou no vestibular e viu na novidade a oportunidade de expandir o seu conteúdo em outro formato,  inspirar e ajudar mais pessoas. Além disso, eram bem poucos os canais que falavam sobre Medicina. Não faltava interesse. Afinal, muitos jovens sonham em entrar no curso.

A ideia era boa, mas para colocar em prática Bianca precisava enfrentar vergonha de ficar de frente da câmera. O namorado também era tímido, mas topou embarcar no projeto e dar o apoio necessário. No início, os vídeos eram mais focados em mostrar os bastidores da universidade e como era estar ali. Ao longo dos anos, eles foram retratando as diferentes fases de suas vidas acadêmicas.

Às vésperas do Dia dos Namorados, o GUIA bateu um papo com esse casal simpático. Bianca e Fabio falaram sobre relacionamento, vestibular, Medicina, carreira e saúde mental. Eles contaram suas experiências, o que deu certo ou não para eles, e deram dicas para estudantes que nos acompanham. Lembrando que a trajetória e melhor forma de estudar é particular de cada um, mas se inspirar em boas histórias podem te ajudar.

Escolha da carreira e vestibular

Desde o fim do ensino fundamental, Bianca já pensava em cursar Medicina. Gostava das matérias que envolviam a área, achava uma profissão bonita, e se inspirava em livros que tinha lido. Já Fabio nunca tinha cogitado Medicina até o cursinho: “Pensei em vários cursos: Música, Engenharia, Direito, Oceanografia. Cheguei a passar em Engenharia depois do Ensino Médio, mas fiquei indeciso e decidi fazer até me decidir. Assim como a namorada, ele fez dois anos de cursinho, antes de conseguir uma vaga na USP. 

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Bianca conta que o diferencial para sua aprovação foi um estudo ativo e personalizado. “Eu estudava conforme as minhas dificuldades, não necessariamente seguindo um cronograma de cursinho”. Para ter mais motivação, ela acompanhava pessoas que já tinham passado por essa fase e lia livros sobre a carreira, como Estratégia da Largatixa, de Dário Vianna Birolini, que conta a história de um cirurgião.

Fabio conta que seu método de estudo também foi o mais ativo possível, fazendo muitos exercícios, simulados e resolvendo provas de anos anteriores. “Sempre refletindo as matérias que eu tinha mais dificuldades”, afirma.

O casal destaca algumas dicas de estudo para os leitores do GUIA: 

– Tenha regularidade nos estudos

– Trace metas e cronogramas possíveis

– Sempre reflita sobre o conteúdo que está aprendendo, pensando em como aplicá-lo na sua vida

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– Não esqueça de separar um tempo de lazer

Faculdade e relacionamento

“Tem muita gente que fala que é ruim namorar ou ser casado com alguém da mesma área, porque você vive mais ainda o universo de Medicina. Tem os lados positivos e negativos. Mas sempre foi muito bom ter alguém para apoiar e compartilhar experiências”, conta Bianca. 

Eles relembram que estudavam juntos, e ajudavam o outro na disciplina em que cada um tinha mais dificuldade. Sobre a parte não tão legal, Bianca responde que para muitos casais que ficam muito tempo juntos têm o desafio da convivência. “Mas as turmas da faculdade eram grande, não estávamos em todas as aulas juntos”, conta a médica, brincando com parceiro que dá risada.

Ela continua: “Mas no nosso caso deu certo. Foi bom porque ajudou a nos conhecer bastante e compreender a personalidade do outro. Por isso, quando nos casamos (em 2019), foi um processo bem natural”.

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Medicina sem ilusão

Outra coisa que o casal concorda é que, ao escolher um curso, é preciso pesquisar bastante sobre a faculdade e conversar com veteranos sobre como é na prática.

No caso de Medicina, existe a ideia equivocada que o estudante já chega na faculdade atendendo pacientes e atuando no hospital, como aparece em séries e filmes. “A gente pensa que vai entrar na faculdade e já vai usar jaleco, e não é bem assim. Nos primeiros anos, até anatomia é muito teórica”, afirma Fabio. 

Por ser um curso concorrido, que exige muito conteúdo dos estudantes, e apresenta bastante competitividade, Bianca ressalta a importância de pensar em características necessárias para ser médico, além das habilidades mais técnicas. “Quem quer fazer Medicina precisa querer cuidar de outras pessoas, ter boa comunicação e empatia. A frase ‘o médico que só sabe de medicina nem de medicina sabe’ traduz bem isso”.

Saúde Mental

Atualmente, Bianca trabalha no pronto-socorro de um hospital como médica generalista. Fabio atende os pacientes em uma UBS (Unidade Básica de Saúde). Assim como muitos companheiros da área da saúde, os dois têm trabalhado intensamente na pandemia. “Ano passado, tive experiências muito tristes e que me fizeram refletir. Eu falava com o Fabio e ele me ouvia e me ajudava, porque eu fiquei mais sensibilizada”, conta a médica. 

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Além da rotina puxada, Bianca diz que o descaso com a crise sanitária também gera cansaço. “É uma frustração você estar trabalhando e ter gente que não usa máscara, e  governo que não está investindo na vacina”, diz.

Fabio ressalta que esse cenário complicado tem aumentado a discussão sobre a saúde mental dos médicos. Aspecto importante que deveria ter mais atenção e debate, inclusive, durante a graduação. “Nós precisamos entender que somos humanos também. O médico é um profissional, mas ele está sujeito a todos os sentimentos. Precisamos estar bem para cuidar dos outros”, defende. 

Sobre a perspectiva da morte, ele explica que o médico tem que ter empatia, entender que o outro está sofrendo, mas sem carregar o sofrimento do outro em todo momento. “Se formos engolidos por esses sentimentos, não vamos conseguir ajudar as pessoas e exercer nossa função”. 

No tempo livre, para relaxar, além de ler, os dois médicos gostam de escutar música e tocar instrumentos juntos.

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Dicas de leitura

Como Bianca e Fabio são apaixonados por Literatura, pedimos para cada um deles indicar uma leitura para quem está pensando ou sonha em seguir carreira médica.

Por um fio, do Drauzio Varella 

Bianca: “É um livro bom para pensar na atuação do médico e em empatia. Eu li durante a faculdade e gostei bastante. Ele conta vários casos da prática dele, experiências, dilemas e histórias de pacientes. É muito bonito. Vale para ver se você gosta mesmo da parte clínica, de contato com pessoas.”

Musicophilia, do Oliver Sacks

Fabio: “Oliver Sacks é um neurologista que tem um olhar muito humano. Não fica só na parte técnica. Ele fala de muitos diagnósticos raros, mas contando as histórias das pessoas.”

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