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Como deveria ser a escola, segundo Paulo Freire

Para o educador pernambucano, o estudante precisa aprender a ler o mundo para poder transformá-lo

Por da redação
Atualizado em 8 Maio 2023, 14h41 - Publicado em 19 set 2017, 18h12
Ilustração com Paulo Freire, pensador brasileiro
(Pinterest/Reprodução)

Aprender é um ato revolucionário. Por meio da educação, e de maneira coletiva, o indivíduo deve tomar consciência de sua condição histórica, assumir o controle de sua trajetória e conhecer sua capacidade de transformar o mundo. Assim pode ser resumida a ideia central do pensamento do pernambucano Paulo Freire (1921-1997), o mais notável educador brasileiro, reconhecido internacionalmente por sua concepção libertária e autônoma de educação e por seu método inovador de alfabetização de adultos.

Formado em direito, Paulo Freire optou por se dedicar ao magistério. No final dos anos 1940 até início dos anos 1960, tomou contato com a realidade de camponeses e operários pernambucanos e se envolveu em projetos de educação popular. Essas experiências foram decisivas para formar a essência de suas ideias e formatar o seu método. Freire teve suas obras traduzidas para mais de 20 idiomas. Em maio de 2017, completam-se 20 anos de sua morte.

Emancipação e autonomia

O método Paulo Freire ganhou grande repercussão após ser colocado em prática em Angicos (RN), em 1963, quando 300 trabalhadores rurais foram alfabetizados em 45 dias. Em vez do aprendizado mecânico e de letras e palavras descontextualizadas da vida dos educandos, o método freireano propõe partir da realidade dos alunos e de seu universo vocabular. A alfabetização ocorre mediante a discussão de suas experiências de vida, de seus problemas e de questões do cotidiano.

“Não basta saber ler mecanicamente ‘Eva viu a uva’. É preciso compreender qual a posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir uvas e quem lucra com esse trabalho.”

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Paulo Freire in Moacir Gadotti, Paulo Freire: Uma Biobibliografia, 1996.

A ideia é que a leitura da palavra proporcione a leitura crítica do mundo e permita a compreensão da sua realidade social e política. Essa seria a essência da educação emancipadora e autônoma, que possibilita que pessoas das classes menos favorecidas da sociedade desenvolvam uma consciência crítica de sua situação e vejam-se como protagonistas da própria história, capazes de transformar a realidade, sempre coletivamente: “Ninguém luta contra forças que não entende; ninguém transforma o que não conhece (…)” / “Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor”.

Tal educação libertadora e problematizadora, segundo Paulo Freire, só pode se constituir num processo onde educador e educando aprendem juntos. Essa visão se opõe diretamente ao que Freire chama de “educação bancária” – em referência aos bancos, como se a educação fosse um ato unilateral de depositar conteúdos. A educação bancária coloca de um lado o educador, como o único a deter o conhecimento, e, de outro, o educando, tratado como um ser passivo que nada saberia. Atuando dessa forma, a escola suprime a capacidade crítica dos alunos, acomodando-os ao mundo existente.

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Educação e política

Embora repudiasse qualquer tipo de doutrinação, recentemente Paulo Freire foi alvo dos defensores do movimento Escola sem Partido, que combate uma suposta “doutrinação política e ideológica” no ambiente escolar. Segundo o autor pernambucano, não cabe ao professor ser um pregador, pois o ensino deve ser plural. E esse pluralismo não quer dizer abrir mão de ter uma opinião, mas sim tê-la e dialogar com outros pontos de vista.

Para Paulo Freire, toda educação é política – e não existe neutralidade. Enquanto a missão da “educação bancária” é eliminar a capacidade crítica dos alunos e acomodá-los à realidade, a “educação problematizadora” quer despertar a consciência dos oprimidos, inquietá-los e levá-los à ação (libertação). São, portanto, duas visões antagônicas do papel da educação.

 

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