Crie um ‘Palácio da Memória’ para não esquecer mais nada
Técnica milenar é aliada na hora de memorizar grandes quantidades de informações – e, aqui entre nós, é bem divertida
Antes de ser o Doutor Estranho nos filmes da Marvel, Benedict Cumberbatch interpretava o detetive mais famoso do mundo na série britânica “Sherlock” (2010-2016). A adaptação do canal BBC trazia as histórias clássicas de Arthur Conan Doyle para o mundo moderno, sem perder a essência da genialidade analógica de Sherlock Holmes. Em um dos episódios, o detetive se vê empacado na resolução de um caso e resolve buscar uma resposta dentro da própria mente. A técnica usada por ele é uma real e milenar: chama-se Palácio da Memória (ou Palácio da Mente, Palácio Mental).
“Saiam. Preciso ir para o meu palácio da mente”, avisa Sherlock Holmes ao companheiro John Watson e à doutora Stapleton.
“Ah não, de novo não”, resmunga Watson.
“O quê?”, pergunta a doutora Stapleton sem entender.
“Ele não vai te responder por um bom tempo, já podemos ir embora”, afirma Watson à doutora.
“O quê?”, repete, ainda confusa, doutora.
“É o palácio da mente dele. É uma técnica de memória, uma espécie de mapa mental. Você traça um mapa com uma localização – não precisa ser um lugar real –, e então deposita algumas memórias lá dentro… Teoricamente, ao fazer isso, você não esquece de nada que está lá; tudo que precisa fazer é encontrar o caminho de volta para o palácio”, explica Watson.
“Então essa localização imaginária pode ser qualquer coisa? Uma casa ou uma rua?”, pergunta a doutora Stapleton.
“Sim”, responde.
O diálogo entre os personagens encapsula com precisão o que seria o Palácio da Memória. A técnica também é usada pelo atleta estadunidense Nelson Dellis, conhecido mundialmente por vencer concursos de memória. E não é nova: há registros de que o autor grego Cicero a utilizava para decorar partes de seus discursos – há mais de 2.500 anos.
No mundo dos estudos, a técnica pode ser uma ótima aliada na hora de memorizar conceitos importantes de determinado assunto, como os autores de uma escola literária ou as características de cada fase da divisão celular.
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Como fazer um Palácio da Memória
Não há segredos na hora de criar um Palácio da Memória. No livro “Aprendendo a aprender para crianças e adolescentes: como se dar bem na escola“, a cientista, pesquisadora e autora best-seller Barbara Oakley ensina que para montar um palácio eficaz basta uma boa dose de imaginação.
“Pense em um lugar que você conhece bem, como a sua casa. Agora coloque mentalmente as coisas que você precisa memorizar em lugares da sua casa conforme for andando por ela”, escreve.
Segundo a autora, pesquisas recentes mostraram que utilizar a técnica promove uma expressiva melhora na hora de recordar os assuntos memorizados.
“Imagine cada uma delas [as informações que deseja memorizar] de um modo bobo ou surpreendente e adicione um pouco de movimento a elas”, acrescenta. Trazer características humanas para as informações irá ajudar a deixar a memória mais nítida (e “memorável”) dentro do palácio. Quanto mais marcante cada uma, melhor.
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Para exemplificar, a autora descreve a criação de um palácio utilizando a própria casa para decorar uma lista de alimentos – seja para comprar no mercado ou fazer uma determinada receita.
“Imagine encontrar uma garrafa de leite, que lhe escancara um sorriso quando você entra pela porta de frente”, sugere. “Na sala de estar, pense em um pão deitado no sofá.”
Como explicou Watson para a doutora Stapleton na cena de “Sherlock”, um Palácio da Memória deve ser encarado como um mapa mental e, portanto, pode ser usado em infinitos cenários. Você pode criar um para os autores do Modernismo, outro para as fases da divisão celular, outro para os principais momentos da Inconfidência Mineira.
“Você pode usar um mapa de sua cidade ou país, o layout da sua escola, um lugar onde gosta de caminhar ou cenário do seu jogo de videogame preferido”.
Por que o Palácio da Memória funciona?
É simples: há uma área da nossa memória chamada visuoespacial – e ela é enorme. É ela que está por trás das lembranças de lugares e direções. Como o próprio nome indica, mistura o nosso senso direcional com a nossa memória visual. Sua tamanha eficácia está ligada a própria sobrevivência da espécie: para um homem da Idade da Pedra era uma questão de vida ou morte saber voltar para a sua caverna depois de uma caça.
Aposto que você nunca esqueceu onde fica a cozinha da sua casa, ou como chega na sua escola, por exemplo.
O Palácio da Memória funciona justamente por se valer da capacidade da memória visuoespecial para conseguir decorar informações e detalhes. Dando um lar “físico” e familiar para um conjunto de informações, elas se tornam associações da memória visuoespacial. Por isso, é recomendado criar palácios em lugares que conheça muito bem.
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