Era junho de 2019 quando o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deu a ordem de atacar o Irã. Aeronaves civis de empresas americanas foram orientadas a evitar o espaço aéreo iraniano, enquanto navios e aviões militares se posicionavam para abrir fogo. Trump acabaria recuando e substituindo a ação direta por um ataque cibernético contra o sistema de computadores das Forças Armadas do adversário – que, por sua vez, alegou que a ação não atingiu o objetivo.
O episódio de tensão teve início dias antes, quando os iranianos derrubaram um drone militar americano que teria invadido seu espaço aéreo (Washington nega). Este não foi o primeiro e nem o último episódio de conflito entre os dois países. Trata-se, na verdade, de um longo desentendimento entre dois antigos aliados.
Estados Unidos e Irã eram muito próximos, em termos militares, comerciais e diplomáticos, ao longo de todo o século 19 e por boa parte do 20. Os parceiros romperam há 40 anos, em fevereiro de 1979.
EUA e Irã: amigos antigos
A região onde hoje fica o Irã foi sede de um dos maiores impérios da Antiguidade, o Aquemênida, fundado em 550 a.C. por Ciro, o Grande e só derrotado dois séculos depois pelas tropas de Alexandre, o Grande.
A partir do século 3, o Império Sassânida resgatou a autonomia e a prosperidade para a região – até que, no século 6, o território foi ocupado novamente, dessa vez pelos árabes muçulmanos, que transformaram o Irã (então conhecido como Pérsia) num centro de produção acadêmica e cultural.
Diferentes dinastias se sucederam, até que o Império Cajar, que havia chegado ao poder em 1794 e transformado o país numa monarquia constitucional em 1906, foi deposto em 1925. Tinha então início a dinastia Pahlavi.
Dois monarcas se sucederam no poder: Reza Xá Pahlavi governou até 1941, quando foi substituído por seu filho, Mohammad Reza Pahlavi. Até este momento, os Estados Unidos eram considerados excelentes amigos, com os quais o Irã contava sempre que se sentia ameaçado por potências estrangeiras, principalmente Rússia e Reino Unido.
Foi assim em 1911, quando o professor e missionário presbiteriano americano Howard Baskerville, que vivia em Teerã, pegou em armas para defender a democracia – acabou morto e ainda hoje é considerado um herói local. Os americanos também haviam ajudado a fundar a primeira Faculdade de Medicina do país, na década de 1870, e ao longo da década de 1910 haviam prestado consultoria a fim de organizar as finanças iranianas.
A amizade começou a ruir quando os americanos cometeram um erro: em 1953, organizaram um golpe de Estado para mudar o governo do Irã. O primeiro-ministro, eleito democraticamente, era Mohammad Mosaddegh, que tinha como meta nacionalizar empresas iranianas, em especial as produtoras de petróleo, e assim reduzir a dependência econômica em relação às potências ocidentais, em especial os Estados Unidos. Com apoio do serviço secreto britânico, o MI6, a CIA conseguiu que Mosaddegh fosse derrubado do cargo.
Uma tentativa de assassinato falhou, mas na sequência centenas de militantes pagos pela agência de inteligência americana invadiram a residência do primeiro-ministro, que acabou sendo detido e condenado por traição. Enquanto Mosaddegh passava o resto da vida em prisão domiciliar (ele morreria apenas em 1967), o monarca Mohammad Reza Xá Pahlavi assumia o controle do governo, de forma autocrática, e com total apoio dos americanos. Antes e depois do golpe, Pahlavi se encontraria pessoalmente com diversos presidentes americanos, incluindo Harry S. Truman, Dwight D. Eisenhower, John F. Kennedy e Richard Nixon.
Eixo do mal
A CIA não conseguiu prever: no fim de 1978, preparou um relatório em que afirmava que o Irã não reunia condições para o início de uma revolução. Poucas semanas depois, em fevereiro de 1979, o aiatolá Ruhollah Mūsavi Khomeini, que até então vivia no exílio em Paris, retornou a sua terra natal para conduzir uma rebelião contra o monarca. Tinha fim o reinado de Pahlavi e início a república de orientação islâmica.
Khomeini, que em 1963 havia declarado que garantir às mulheres o direito de votar e serem eleitas era o equivalente a defender a prostituição, popularizou, em manifestações públicas, a expressão “Marg bar Āmrikā”, persa para “morte à América”.
Ainda em 1979, no dia 4 de novembro, um grupo de estudantes muçulmanos invadiu a embaixada dos Estados Unidos em Teerã. Os 52 diplomatas americanos detidos só seriam liberados depois de 444 dias. Em reação, o governo americano estabeleceu um embargo que, desde então, estrangula a economia do país muçulmano. Na sequência, os americanos ainda deram suporte ao Iraque de Saddam Hussein, que invadiu o Irã em 1980, dando início a uma guerra que durou oito anos.
Em 1988, os americanos realizaram, contra poços de petróleo iranianos, sua maior operação naval de combate desde a Segunda Guerra. E, em julho, abateram, por engano, um Airbus A300B2, uma aeronave civil iraniana que conduzia 290 pessoas, de seis nações diferentes. Todos, incluindo as 66 crianças a bordo, morreram.
Depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, o presidente George W. Bush prometeu atacar o que ele chamou de “eixo do mal”, formado por Coreia do Norte e dois ex-aliados, Iraque e Irã. Desde então, os americanos acusam o Irã de desenvolver bombas atômicas – utilizando a infraestrutura, aliás, desenvolvida com apoio dos próprios Estados Unidos na década de 1950, quando o país apostou na construção de usinas nucleares.
Tentativa de aproximação
Enquanto esteve no governo, entre 2009 e 2017, o presidente americano Barack Obama tentou se reaproximar do Irã. Em 2013, chegou a manter uma conversa telefônica com o presidente iraniano, Hassan Rouhani, no primeiro contato pessoal dos líderes dos dois países desde a década de 1970. As nações chegaram a costurar um acordo, em que o Irã se comprometia e interromper qualquer programa de enriquecimento de urânio a fim de produzir bombas atômicas. Em troca, os americanos retiraram o embargo econômico sobre o país.
Com a eleição de Donald Trump, os Estados Unidos cancelaram o acordo e retomaram o embargo. A tensão voltou com toda a força. Enquanto Trump ameaça invadir, os iranianos prometem fechar o acesso ao Estreito de Ormuz, que liga o Golfo Pérsico ao restante do planeta.
Enquanto os iranianos, que veem sua economia ser estrangulada novamente, acusam os americanos de sustentar grupos rebeldes e de utilizar, com frequência, drones para investigar áreas estratégicas do país, os Estados Unidos alegam que o Irã pode iniciar uma hecatombe nuclear.
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