“Vida e morte de M.J. Gonzaga de Sá”: resumo do livro cobrado na Unicamp 2025
Saiba quais aspectos da obra são fundamentais para se dar bem no vestibular e como relacioná-la com outros livros da lista da Unicamp
No início do século 20, poucas décadas depois da abolição da escravidão, o racismo se manifestava de algumas maneiras específicas na sociedade brasileira. Uma delas era a eugenia, um movimento pseudocientífico que acusava as pessoas negras de serem inferiores. Outra, eram as reformas urbanísticas nas grandes cidades – que no Rio de Janeiro, por exemplo, derrubou os cortiços e empurrou a população que vivia neles para os morros. Esses e outros acontecimentos são pano de fundo do livro “Vida e morte de M.J. Gonzaga de Sá“, publicado por Lima Barreto em 1919.
A obra ajuda a compreender o Brasil da época e o de hoje. Não à toa, entrou para a lista de leituras obrigatórias do vestibular da Unicamp, e será cobrado já na edição de 2025. Pensando nisso, o GUIA DO ESTUDANTE conversou com Maurício Soares, professor de literatura do Curso Anglo, e Vinicius Teixeira, professor de Literatura do Colégio Oficina do Estudante, e preparou um resumo e análise do livro.
Confira.
Sobre a obra
O livro “Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá”, do escritor pré-modernista Lima Barreto, foi publicado em 1919. O texto é narrado pelo personagem Augusto Machado, um funcionário público, negro, de origem humilde e de apenas 20 anos, sobre a vida de seu falecido amigo Manuel Joaquim Gonzaga de Sá, um homem branco, também funcionário público, de 60 anos. A morte de Gonzaga de Sá motiva o narrador a contar os fatos da vida do amigo.
O texto é ambientado no Rio de Janeiro dos anos 1900, ou seja, período no qual a cidade passava por diversas transformações urbanas, tanto paisagísticas quanto estruturais. Afinal, vale lembrar que o Brasil tinha acabado de ter sua república proclamada.
Os contrastes entre a nova fase política e o Império são o pano de fundo dessa viagem pelo Rio de Janeiro, traçando seus bairros periféricos e mostrando as diferenças entre as populações e a formação dessa sociedade no primeiro período da república.
“Nos diálogos travados entre os personagens, os temas mais relevantes são a burocratização do Estado e do funcionalismo público em função da Proclamação da República, e a importância da manutenção do patrimônio histórico, que passou, na visão de Lima Barreto, a ser completamente desprezado pelo Estado, fazendo com que a cidade se transformasse e perdesse sua identidade e características peculiares”, explica o professor Maurício, do Anglo.
Outro tema abordado é o ativismo social. Lima Barreto denuncia pessoas que passam a vida em busca de uma ascensão social e profissional sem nenhum tipo de ética em suas ações. O preconceito racial é o tema principal do autor e, com ele, o avanço de teorias racistas pseudocientíficas – algo que acontecia muito no início do século 20, no Brasil e no mundo.
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Principais aspectos da obra
Segundo Maurício, os vestibulandos devem ter em mente que esse trabalho do Lima Barreto não se trata exatamente de uma história, ou seja, não há grandes revelações no enredo. Se o título do livro é “a vida e morte” de M.J. Gonzaga de Sá e o autor optou por começar pela morte, é justamente para que não houvesse nenhum tipo de surpresa. Foi a partir daí que ele trabalhou o desenvolvimento da relação entre esses dois funcionários públicos.
Sendo assim, os capítulos poderiam até estar distribuídos em outra ordem, porque eles não têm exatamente uma sequência. “Isso nos faz pensar que o estilo do Lima Barreto é exatamente utilizar o enredo um pouco como um pano de fundo ou um pretexto para que ele possa colocar pautas em discussão. Estamos falando de uma literatura engajada e é importante que o vestibulando tenha isso em mente”, explica o professor.
Lima Barreto faz um livro em que há uma espécie de denúncia de cunho político em relação ao Rio de Janeiro, ao abandono das populações periféricas, ao preconceito crescente e à burocratização do Estado.
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Então, segundo o professor, é importante também que o vestibulando saiba que esse livro não tem um gênero muito bem definido: não é um romance tradicional, uma vez que o enredo não se desenvolve de uma forma completa. Não há uma história com começo, meio e fim, e sim essa relação desses personagens acima de tudo, para que as pautas sejam discutidas.
“Também percebe-se o caráter crítico do autor com relação à ideia de ‘modernização’ defendida no período, pois muitos problemas relacionados às moradias e planejamento urbano ficaram escancarados. Se por um lado a gestão municipal da época buscava imitar modelos europeus e embelezar determinadas áreas, por outro, havia a intensificação da pobreza em outras regiões da cidade. Com isso, evidencia-se a diferença do centro e do subúrbio”, completa Vinícius.
Que tipos de questões podem aparecer no vestibular?
Para o professor do Oficina do Estudante, a escolha da obra pelo vestibular da Unicamp reforça a importância de Lima Barreto para a literatura brasileira, já que o autor tem papel fundamental na crítica à sociedade da época, mas que continua muito atual, pois os problemas a serem enfrentados na contemporaneidade ainda são próximos aos daquela época.
Na prática, para as questões, a primeira coisa que os vestibulandos precisam saber é: não é necessário saber tudo sobre a obra, como todas as referências teóricas ou então todos os cenários cariocas explorados.
Segundo Maurício, o importante é entender:
- a discussão central sobre o desenvolvimento do funcionalismo e políticas públicas;
- e a questão e reflexões do desenvolvimento de uma cidade como o Rio de Janeiro – ponto tão importante dentro da identidade brasileira.
“Hoje, nas novelas, sempre há uma representação de um bairro popular, geralmente carioca, e me parece que Lima Barreto foi o precursor desse olhar para essa população tantas vezes reprimida e vítimas de injustiças. O vestibular da Unicamp vai por aí, colocando em perspectiva, por exemplo, algum episódio do livro em relação a algum acontecimento atual, levando o aluno a refletir sobre esse processo, questionando-se o que mudou de lá pra cá? Como Lima Barreto nos faz sentido hoje?”, finaliza o professor.
Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá
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