Anti-heroi romântico marca Memórias de um Sargento de Milícias
Livro contrasta com Iracema e se aproxima de Dom Casmurro por questionar estética literária
“A Fuvest pode atualizar o tema da malandragem, presente em tantas outras obras, como Macunaíma, de Mário de Andrade, e Ópera do Malandro, do Chico Buarque”. É o que alerta Fernando Marcílio Lopes Couto, professor de literatura do Sistema Anglo de Ensino.
Ele diz isso porque Memórias de um Sargento de Milícias (1854), de Manuel Antônio de Almeida, tem como personagem principal um típico malandro carioca, Leonardinho. Mas o principal sobre este livro e sobre este personagem é entender como eles destoam de sua própria estética literária, o romantismo, sugere Couto. “Ele apresenta distinções do romantismo convencional. O herói, por exemplo, é substituído pelo anti-herói”.
Couto caracteriza Leonardinho como alguém que “vive de subterfúgios, nas frestas da sociedade”. Além disso, “ele não trabalha, nem tem família constituída normalmente”. Apesar disso, apaixona-se por Luisinha e, depois, por Vidinha. Em ambos os casos, no entanto, enfrenta problemas para se declarar às moças – conflito frequente nas obras românticas.
Os pais do protagonista, Leonardo-Pataca e Maria-da-Hortaliça, se conhecem durante uma viagem de navio entre Portugal e o Brasil. Em terra firme, descobrem a gravidez e vão viver juntos. Anos depois, ela foge para Lisboa com um capitão de navio e Leonardo-Pataca entrega o filho para o tio criar. A partir daí o garoto começa uma vida errante.
Outra personagem importante é o major Vidigal, representante da lei, apresentado de forma caricata, que se coloca diversas vezes no caminho de Leonardinho. Ele é inclusive preso por vadiagem.
“A linguagem do livro também escapa da retórica convencional do romantismo. Ele surgiu em um momento em que o romantismo demonstrava uma tendência ao humor”, comenta o professor Fernando Couto.
ANALOGIAS
O romantismo excêntrico de Memórias de um Sargento de Milícias contrasta com a harmonia presente em Iracema (1865), de José de Alencar. Esse livro, segundo Couto, “tem um herói bem alinhado”, um guerreiro colonizador que associa amor e honra.
Por outro lado, Dom Casmurro (1899) relaciona-se com Sargento de Milícias por também destoar de sua estética, o realismo. A obra de Machado de Assis, explica Couto, questiona a possibilidade do alcance da verdade, quando ela era a principal marca realista.
Couto relaciona ainda Leonardinho a Pedro Bala, protagonista de Capitães da Areia (1937) e também um anti-herói: um menino assaltante.
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