Livros da Fuvest 2010: O Cortiço narra degradação moral no Rio de Janeiro
Livro símbolo do naturalismo tem cenário marcado pela urbanização que exclui os pobres
Novidade na lista de livros obrigatórios da Fuvest 2010, O Cortiço, de Aluísio Azevedo, foi publicado pela primeira vez em 1890. É uma obra símbolo do naturalismo brasileiro, avalia Fernando Marcílio Lopes Couto, professor de literatura do Sistema Anglo de Ensino.
O livro, diz Couto, sintetiza dois aspectos do naturalismo: a sexualização (evidenciada pelas referências à sexualidade das personagens e pela presença de homossexuais e ninfomania) e a animalização (que ocorre quando as personagens agem por instinto, reduzidas ao seu instinto animal).
A história se passa no Rio de Janeiro, no fim do século 19, quando a cidade passava por um processo de urbanização que não estendeu seus benefícios aos menos favorecidos, analisa o professor. É isso que Aluízio de Azevedo flagra no romance: um desenvolvimento seletivo, que beneficia apenas alguns.
PERSONAGENS SEM DIGNIDADE
Os personagens mais importantes do livro, segundo Couto, são João Romão e Jerônimo. Romão é o dono do cortiço. Explorando seus inquilinos, ele muda, aos poucos, de classe social. Abandona sua amante (a escrava Bertoleza, que se suicida após ser deixada) e se casa com uma moça rica. Isso mostra sua ascensão social. Mas sua trajetória é de degradação moral, como as outras personagens, comenta o professor.
Jerônimo é um português que emigra para o Brasil para trabalhar e melhorar de vida, mas passa por transformações radicais. Trai a esposa com Rita Baiana, uma morena sedutora, moradora do cortiço, começa a beber e a reclamar do trabalho. Para ficar com Rita, mata o namorado dela, Firmo, coroando sua degradação. Ele perde todos seus valores, como o João Romão. Mas acaba a história mal, analisa Couto.
Se Memórias de um Sargento de Milícias fala das classes baixas usando humor, O Cortiço aborda o mesmo tema com linguagem mais crua, expondo sem rodeios a decadência moral das pessoas, relaciona Fernando Couto. Outra obra da lista obrigatória da Fuvest que se relaciona com O Cortiço é Capitães da Areia (1937), expõe o professor. Os dois livros, diz ele, tratam de problemas urbanos e ligados à moradia.
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