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“Memórias de um Sargento de Milícias” – Análise da obra

Entenda os principais aspectos do livro de Manuel Antônio de Almeida

Por Redação do Guia do Estudante
Atualizado em 12 abr 2018, 15h17 - Publicado em 3 set 2012, 21h49

O romance de Manuel Antônio de Almeida, escrito no período do romantismo, retrata a vida do Rio de Janeiro no início do século XIX e desenvolve pela primeira vez na literatura nacional a figura do malandro.

Leia o resumo de Memórias de um Sargento de Milícias

Tempo
A história se passa no começo do século XIX, ocasião em que a família real portuguesa se refugiou no Brasil. Por isso, o romance tem início com a expressão “Era no tempo do rei”, referindo-se ao rei português dom João VI. Essa fórmula também faz referência – e isso é mais relevante para entender a estrutura do romance – aos inícios dos contos de fada: “Era uma vez…”

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Narrador
Apesar do título de “memórias”, o romance não é narrado pelo personagem Leonardo, e sim por um narrador onisciente em terceira pessoa, que tece comentários e digressões no desenrolar dos acontecimentos. O termo “memórias” refere-se à evocação de um tempo passado, reconstruído por meio das histórias por que passa o personagem Leonardo.

Ordem e desordem
“Memórias de um Sargento de Milícias” surgiu como um romance de folhetim, ou seja, em capítulos, publicados semanalmente no jornal Correio Mercantil, do Rio de Janeiro, entre junho de 1852 e julho de 1853. Os folhetins não indicavam quem era o autor. A história saiu em livro em 1854 (primeiro volume) e 1855 (segundo volume), com autoria creditada a “Um Brasileiro”. O nome de Manuel Antônio de Almeida aparecerá apenas na terceira edição, já póstuma, em 1863.

As aventuras e desventuras de Leonardo, que o autor faz desfilar diante dos leitores com dinamismo, conduzem o protagonista a apuros dos quais ele sempre se salva, graças a seus protetores. Leonardo é uma personagem fixa no romance e suas características básicas não mudam.

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Duas forças de tensão movem as personagens do romance: ordem e desordem, que se revelarão características profundas da sociedade colonial de então.

A figura do major Vidigal representa o polo que, na história, cuida da ordem: “O major Vidigal era o rei absoluto, o árbitro supremo de tudo que dizia respeito a esse ramo de administração; era o juiz que dava e distribuía penas e, ao mesmo tempo, o guarda que dava caça aos criminosos; nas causas da sua justiça não havia testemunhas, nem provas, nem razões, nem processos; ele resumia tudo em si (…)”.

A estabilidade social representa a ordem, enquanto a instabilidade se refere à desordem. Dessa forma, o barbeiro, completamente adequado à sociedade, ao revelar as origens pouco recomendáveis de sua estabilidade financeira, evoca no seu passado a desordem.

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Personagens como o major Vidigal, a comadre, dona Maria e o compadre pertencem ao lado da ordem. Mas os personagens desse polo nada têm de retidão, apenas estão em uma situação social mais estável.
O polo da desordem é formado pelo malandro Teotônio, o sacristão da Sé e Vidinha. A acomodação dos personagens, tanto na ordem como na desordem, está sujeita a uma mudança repentina de polo, ou seja, não existe quem esteja totalmente situado no campo da ordem nem no da desordem. Não há, portanto, uma caracterização maniqueísta dos tipos apresentados.

O major Vidigal, por exemplo, um típico mantenedor da ordem, transgride o código moral ao libertar e promover Leonardo em troca dos favores amorosos de Maria Regalada.

Romance malandro
Nos estudos sobre a obra, houve uma linha de interpretação que, seguindo as indicações de Mário de Andrade, e tendo como base o enredo episódico do livro, classificou o romance como uma manifestação tardia do “romance picaresco”, gênero popular espanhol medieval dos séculos XVII e XVIII.

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O gênero picaresco – do qual o mais ilustre representante é o romance Lazareto de Tormes – caracteriza-se por narrar, em primeira pessoa, os infortúnios de um pícaro, um garoto inocente e puro que se torna amargo à medida que entra em contato com a dureza das condições de sobrevivência. Por isso procura sempre agradar a seus superiores. O pícaro tem geralmente um destino negativo, acaba por aceitar a mediocridade e acomodar-se na lamentação desiludida, na miséria ou num casamento que não lhe dá prazer algum.

Nenhuma dessas características está presente em “Memórias de um Sargento de Milícias”. Leonardo não é inocente. Ao contrário, parece já ter nascido com “maus bofes”, como afirma a vizinha agourenta. Também não é totalmente abandonado, tendo sempre alguém que toma seu partido e procura favorece-lo.
Ele ainda desafia seus superiores, como o mestre-de-cerimônias e o Vidigal. Por fim, Leonardo não encontra um destino negativo, pois se casa com o objeto de sua paixão (Luisinha, a sobrinha de dona Maria), acumulando cinco heranças e granjeando uma promoção com o major Vidigal.

Existem, de fato, algumas semelhanças entre Leonardo e os personagens picarescos. Uma é a atitude inconsequente do protagonista, que o leva, por exemplo, a esquecer-se rapidamente de Luisinha ao conhecer Vidinha. Depois, o amor antigo retorna, mas nada dá a entender que não possa acabar novamente. Essas semelhanças, porém, são superficiais, por isso é problemática a classificação de “Memórias de um Sargento de Milícias” como romance picaresco.

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O que se vê é que Manuel Antônio de Almeida foge completamente ao idealismo romântico de sua época. Se há traços românticos em sua obra, eles estão no tom irônico e satírico que assume o narrador.
A conclusão possível é que estamos diante de um novo gênero nacional, que se constrói em torno da figura do malandro, personagem que tem influências popularescas, como Pedro Malasarte; mas é urbano e relaciona- se socialmente com as esferas da ordem e da desordem, já citadas.

É mais apropriado, por isso, classificar essa obra como um “romance malandro”, de cunho satírico e com elementos de fábula. Esse gênero frutificará em vários romances posteriores, como “Macunaíma”, de Mário de Andrade, e “Serafim Ponte Grande”, de Oswald de Andrade.

Comentário do professor
A profa. Augusta Aparecida Barbosa, do Cursinho do XI, comenta que “Memórias de um Sargento de Milícias” é uma obra publicada na forma de folhetim durante 1852 e 1853, período em que se manifestava o auge do Romantismo. Além disso, trata-se de um momento pós-independência e havia uma busca por uma identidade nacional. Os fatos narrados no livro acontecem por volta de 1810, período de chegada da corte portuguesa no Brasil, e a história é contada em um tom coloquial e jornalístico (ágil, dinâmico).

Acompanha-se no livro o crescimento do “herói” Leonardo, desde sua infância de travessuras, suas primeiras ilusões amorosas e aventuras, até sua fase adulta com trabalho e casamento. A dinâmica da narrativa é repleta de humor que envolvem situações tidas como amorais, e em diversas passagens há uma conversa direta com o leitor, digressões e metalinguagem. Além disso, durante a obra o autor busca em alguns momentos relacionar o tempo passado com o presente, comenta a profa. Augusta.

Uma característica que difere a obra de Manuel A. de Almeida dos outros autores românticos de seu tempo é que ele nos apresenta a classe mais baixa, com tipos não letrados transitando entre a ordem e a desordem. Mesmo as personagens mais honestas tiveram seus deslizes. Por fim, uma questão em que se deve ficar atento na hora das provas é em que aspectos “Memórias de um Sargento de Milícias” antecede o Realismo, finaliza a profa. Augusta.

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