Isaac Newton é conhecido principalmente por suas pesquisas no ramo da física. O cientista inglês dedicou sua vida ao estudo da gravidade e suas três leis que definem o movimento dos corpos são, até hoje, assunto certo no vestibular. Sua vida girava tanto em torno desse assunto que ele não se limitou apenas às suas observações matemáticas. Em um artigo publicado na revista Nature Plants, o pesquisador David Beerling, da Universidade de Sheffield, mostra que Newton também dedicou parte do seu tempo ao estudo das plantas. Em um trecho de suas anotações, que datam do início da década de 1660, foram encontradas ideias sobre como a seiva das plantas vence a gravidade e consegue subir da raiz até as folhas, mesmo nas árvores mais altas. Teorias sobre o processo só seriam formuladas por biólogos modernos quase 200 anos depois.
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A letra de Newton não é lá muito legível, mas o site do jornal Público, de Portugal, conseguiu “decodificar” parte do enunciado. Escreveu Newton: “Suponha-se que ‘b’ [esteja] no poro de um vegetal cheio de fluido e matéria e que um glóbulo ‘c’ atinge e afasta a partícula ‘b’, então o resto da matéria nos poros ascende do ponto ‘a’ para o ponto ‘b’.”
Em seu artigo, David Beerling “traduz” a explicação. O “glóbulo ‘c’” é a luz, que naquele século era considerada como uma substância em vez de energia. Para Beerling, a descrição de Newton em que o “glóbulo ‘c’ atinge e afasta a partícula ‘b’” nada mais é do que a explicação da transpiração em que a água é liberada pelos poros devido ao calor do Sol. E quando o físico refere que a “matéria nos poros ascende do ponto ‘a’ para o ponto ‘b’”, está explicando que a perda de água nas folhas obriga a seiva a subir do caule para as folhas.
A explicação dos botânicos vai além das deduções de Newton, mas não deixa de ser genial saber que, no início da década de 1660, ele já tenha pensando em uma hipótese muito parecida com a que conhecemos hoje. Os cientistas só conseguiram observar e descrever os estômatos, estrutura vegetal que se abre e fecha dependendo da quantidade de água absorvida pelas raízes, a partir de 1675. O próprio microscópio ainda era um aparelho recente e a ideia de “célula” só surgiu pela primeira vez em 1665, usada pelo inglês Robert Hooke.
Entenda o processo
Segundo a explicação do professor de Biologia, Leandro Neves, o mecanismo pelo qual os vegetais absorvem e transportam a água, mesmo contra a ação da gravidade, está associado a diversos fenômenos: transpiração e tensão nas folhas, coesão e adesão no xilema e absorção radicular.
A teoria conhecida como “Hipótese da tensão-adesão-coesão”, lançada apenas em 1895 (quase 200 anos depois das ideias de Newton), diz que a água é consumida na fotossíntese ou perdida via transpiração nas folhas, causando uma pressão negativa neste órgão, fazendo a água ascender. As moléculas de água são polares e ligam-se umas às outras por pontes de hidrogênio, mantendo-se agrupadas (coesão); estas moléculas ainda podem aderir à parede do xilema (adesão) formando uma coluna de água contínua. Por fim, a ascensão da água cria um déficit de água na raiz, fazendo com que a pressão osmótica force a entrada de água do solo para a raiz, fazendo com que mais moléculas subam.