“Noite na Taverna”: resumo da obra de Álvares de Azevedo
Conjunto de contos que combinam lirismo e inspiração do fantástico, livro tornou-se singular no romantismo
Publicada após a morte de Álvares de Azevedo (1831-1852), a coletânea de histórias curtas “Noite na Taverna” (1855) é a obra do romantismo brasileiro que mais se aproxima dos preceitos byronianos: erotismo e morte em constante diálogo. Bastante próxima do gênero dramático (teatral), a narrativa se inicia em uma taverna obscura, em que viajantes – Solfieri, Bertram, Gennaro, Claudius Hermann, Johann – contam suas aventuras enquanto bebem, numa atmosfera sombria de lascívia e boemia.
Tempo e espaço são difusos, embora as descrições e os nomes dos personagens pareçam remeter a um país estrangeiro. Ao todo, são seis os relatos, todos pautados pelas fantasias que o jovem autor alimentava em sua escola ultrarromântica. Nesses contos predominam cenas de incesto, necrofilia, fratricídio, canibalismo e traição. Há também nesta obra ao menos uma grande referência que a singulariza no panorama do romantismo brasileiro: a filiação à literatura fantástica – o que a aproximaria da melhor tradição do americano Edgar Allan Poe (1809-1849).
Em “Noite na Taverna”, a psicologia tempestuosa de Álvares de Azevedo contrapõe-se ao divagador e idealista do sublime que prepondera em “Lira dos Vinte Anos“, sobretudo na primeira e terceira partes. A noite é simbólica – como em outras obras do poeta – e reflete a melancolia interior dos personagens.
É o ambiente ideal para que os temores e os desejos de cada um dominem a atmosfera, numa identificação de mundo interno com externo, do ser com a natureza, comum ao romantismo. Surgem, assim, as imagens de violência ou de inspiração satânica e os delírios invariavelmente relacionados à morte: “No aperto daquele abraço havia contudo alguma coisa de horrível. O leito de lájea onde eu passara uma hora de embriaguez me resfriava. Pude a custo soltar-me daquele aperto do peito dela… Nesse instante ela acordou… Nunca ouviste falar de catalepsia? É um pesadelo horrível aquele que gira ao acordado que emparedam num sepulcro; sonho gelado em que sentem-se os membros tolhidos, e as faces banhadas de lágrimas alheias, sem poder revelar a vida!” (Solfieri).
O tom lírico que o autor emprega na narrativa mantém o livro identificado com o romantismo. Para parte da crítica, trata-se de uma obra difusa, que se constrói por acontecimentos que brotam uns dos outros, por meio de associações e pretextos, sem uma ligação interna. Trata-se de um estilo comum aos românticos, que preferem se deter nas particularidades e aprofundá-las a buscar a síntese em direção ao abstrato, como faziam os escritores do classicismo.
A realidade, assim, se dá por meio da multiplicação de fatos, o que afasta a necessidade de seleção e organização por parte do autor.
Contudo, é possível que a falta de coerência entre as partes do livro se deva ao fato de Álvares de Azevedo ter morrido antes de terminá-lo. Situação semelhante parece acometer “Macário” (1855), obra fragmentada em que predomina o mesmo ar lúgubre de “Noite na Taverna”.
Título: Noite na Taverna
Autor: Álvares de Azevedo
Esse texto faz parte do especial “100 Livros Essenciais da Literatura Brasileira”, publicado em 2009 pela revista Bravo!
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