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“O Avesso da Pele”: resumo e análise da obra de Jeferson Tenório

O livro emprega recursos pouco usuais em romances para recontar a história de Henrique, assassinado pela polícia

Por Redação
16 jul 2025, 15h00
avesso da pele jeferson tenório
 (Canva/Companhia das Letras/Redes sociais/Reprodução)
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Racismo, identidade, violência policial e construção da memória. É isso que quem decide ler “O Avesso da Pele” encontra nas páginas escritas por Jeferson Tenório. A obra, que em 2024 foi censurada em diversos estados brasileiros como Paraná, Mato Grosso do Sul e Goiás, está presente na lista de leituras obrigatórias da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Conquistou o prêmio Jabuti em 2021 e, este ano, entrou para a lista dos melhores livros brasileiros de literatura do século 21 elaborada pela Folha de S. Paulo.

Se você quer conhecer melhor a narrativa, seja para se preparar para o vestibular, ampliar seu repertório para a redação ou mesmo se aprofundar em uma história que retrata o Brasil, o GUIA DO ESTUDANTE te ajuda. Conversamos com Vanessa Botasso, coordenadora de redação do Poliedro Curso de Campinas, e preparamos um resumo com o contexto da obra, personagens, principais características e até relação com outros livros dos vestibulares. 

Sobre o que fala “O Avesso da Pele”

Ambientado em Porto Alegre (RS), “O Avesso da Pele” tem como narrador o jovem Pedro, que acaba de perder o pai, Henrique, assassinado em uma abordagem policial. Logo nas primeiras páginas, Pedro visita pela primeira vez o apartamento do pai e afirma que a partir dos objetos encontrados ali tentará reconstituir sua vida. “Olho para tudo isso e percebo que serão esses objetos que vão me ajudar a narrar o que você era antes de partir. Os mesmos utensílios que te derrotaram e que agora me contam sobre você. Os objetos serão o teu fantasma a me visitar”, sentencia.

E é exatamente essa história interrompida de Henrique que o livro conta em suas quase 200 páginas. Por coincidência, o personagem central do romance é justamente um professor de Literatura que leciona em escolas públicas. Por isso, o sucateamento da educação, as precárias condições de ensino e a desigualdade enfrentada por alunos e professores é uma das temáticas mais fortes da obra. Mas a principal, de longe, é o preconceito racial.

Pai e filho são homens negros que enfrentam diariamente o racismo, seja no ambiente de trabalho, em suas relações pessoais, ou quando são vítimas de violência policial. Quando foi assassinado a tiros, Henrique voltava para casa distraído e maravilhado com a aula daquele dia – a primeira em que os alunos ouviram atentos.

“[…] Você nem percebeu quando os reflexos vermelhos de uma sirene bateram na parede de um prédio próximo a você. Nem percebeu a aproximação de uma viatura da polícia, e também não percebeu quando eles param o carro ao seu lado. Você só se deu conta do que estava acontecendo quando um deles falou mais alto e disse para você parar. Era uma abordagem. Sua cabeça ainda estava na sala de aula, ainda estava em Dostoiévski. Ele gritou para você parar. Gritou para você ir para a parede. Mas você não escutou ou não quis escutar. Ele e os outros policiais estavam nervosos, era só para ser mais uma abordagem de rotina. Só isso, vamos, porra, colabora. Mas você não estava se importando mais com a rotina deles. Ele gritou novamente para você ir a parede, ele já estava apontando a arma. Mas para você já não fazia diferença, porque daquela vez eles não iam estragar tudo.”

Tempo e espaço

A história se passa em Porto Alegre, no sul do Brasil, região de menor população negra no país. “A escolha geográfica é significativa, pois destaca a presença e a resistência de pessoas negras em um espaço historicamente marcado pela branquitude, pela imigração europeia e pelas desigualdades raciais”, diz a especialista. 

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Em relação ao tempo da narração, o estudante deve ter cuidado redobrado. Uma vez que o narrador busca reconstruir a história do pai por meio de memórias esparsas, a estrutura do livro acaba fragmentada, com saltos temporais e mistura de tempos verbais.

Por fim, o contexto histórico sugere que a obra se passa em torno da década de 1980.

O narrador de “O Avesso da Pele”

Compreender o narrador de “O Avesso da Pele” tampouco é uma missão simples. O livro é narrado em primeira pessoa por Pedro, que também faz parte da história. Seria, então, o caso de um narrador personagem? Não exatamente.

Os narradores personagens costumam ser também protagonistas da história – e não é isso que ocorre na obra de Jeferson Tenório, que tem como personagem central Henrique.

Portanto, seria mais adequado definir o narrador deste livro como testemunha: ele acompanha os fatos, está envolvido neles, mas não é o personagem principal.

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Em determinados trechos, Jeferson Tenório emprega o discurso direto, estabelecendo um diálogo entre Pedro e Henrique, já falecido. É quando aparece o uso da 2ª pessoa do discurso, algo bastante incomum em romances.

O grande trunfo desta miscelânea é que este ponto de vista – alinhado a uma linguagem direta, mas também emocional e poética – permite ao leitor aproximar-se da consciência do narrador enquanto vítima de uma profunda violência. 

Personagens

Já em relação aos personagens, são três principais: 

  • Henrique: protagonista cujas experiências de vida e morte são o centro da narrativa
  • Pedro: filho de Henrique e narrador da história, reconstrói a vida do pai por meio de lembranças e reflexões
  • Martha: mãe de Pedro, figura que compõe o núcleo familiar e contribui para a dimensão intergeracional da história

Análise

Segundo a professora, a obra é uma ficção que se ancora em memórias e experiências pessoais para refletir sobre a persistência do racismo estrutural na sociedade brasileira, assim como a perpetuação da violência racial entre gerações. No caso da violência policial, por exemplo, o livro deixa entrever que o caso de Henrique, assassinado pelo Estado, não é isolado, e reflete uma estrutura que vitima pessoas negras. 

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O impacto do racismo em outros contextos, como o educacional e até nas relações amorosas, também não fica de lado enquanto o narrador reconstrói a trajetória do pai.

Apesar das temáticas de opressão, o livro também explora o poder da memória e da afetividade na reconstrução da identidade. Neste cenário, a família se destaca como um núcleo de resistência que transmite legados, principalmente pela relação entre Henrique e Pedro. As memórias afetivas que o narrador cultiva sobre o pai são motor para que ele pense a própria identidade.

“Em todos os casos, essa obra se coloca como parte das narrativas que apontam para a urgência de mudanças estruturais na sociedade para combater a desigualdade racial. Nesse sentido, mostra o papel da literatura como instrumento de denúncia e conscientização social”, explica Vanessa.

O próprio título do livro, “O Avesso da Pele”, propõe uma reflexão sobre o que verdadeiramente deveria ter valor na sociedade: o que guardamos do lado de dentro. Para pessoas negras, a pele, o maior símbolo da identidade, torna-se também uma prisão, um marcador de diferença que, muitas vezes, impede o sujeito de ser tratado como um igual.

        Quem é Jeferson Tenório?

        Nascido no Rio de Janeiro e radicado em Porto Alegre, Jeferson Tenório é graduado em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mesma universidade que hoje cobra seu livro no vestibular. Além de escritor, também atua como professor de literatura na rede pública de ensino.

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        Mestre em Literaturas Luso-africanas, Jeferson conclui também um doutorado em Teoria da Literatura.

        Lançou seu primeiro livro, “O Beijo na Parede”, em 2013. Seu último lançamento é “De onde eles vêm”, de 2024.

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