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“O Largo da Palma” – Análise da obra de Adonias Filho

Entenda os principais aspectos da obra

Por Redação do Guia do Estudante
Atualizado em 12 abr 2018, 15h59 - Publicado em 16 set 2012, 23h27

– Leia o resumo de O Largo da Palma

Um palco para as histórias do povo
As narrativas presentes em “O Largo da Palma” têm como ponto referencial este famoso espaço urbano de Salvador, o Largo da Palma. Os primeiros quatro contos são permeados pelo cheiro dos pãezinhos de queijo que são vendidos em uma venda próxima à Igreja da Palma. A igreja, o Mercado Modelo, o Jardim de Nazaré e outras referências espaciais são usadas para construir um mapa de uma cidade quase onírica.

A Salvador que aparece em “O Largo da Palma” não é a cidade das lutas sociais, das diferenças entre raças e outros embates socioculturais. O que vemos nos contos desse livro é um cenário onde a classe média-baixa, os velhos, mendigos, imigrantes e a província empobrecida ganham foco. Porém, apesar desse cenário onde o que se tem destaque é a pobreza material do povo que ali vive, constrói-se através de uma linguagem lírica um ar esperançoso para as angústias de quem ali vive.

Outra característica dos contos presentes na obra é uma certa humanização do Largo da Palma, como por exemplo a igreja que era “humilde e enrugadinha” e que testemunhava tudo o que ali acontecia com sua “curiosidade de velha muito velha”; ou então as “ruas pequenas e estreitas tentam se ocultar como envergonhadas”. Dessa forma, cria-se um lugar quase mítico, que não fica alheio aos problemas das pessoas que vivem ali, mas, pelo contrário, torna-se parte ativa na vida das pessoas dali, sofrendo, sentindo, amando.

Do ponto de vista formal, com exceção de “Um corpo sem nome” que é narrado em primeira pessoa, todos os outros contos são em terceira pessoa e o narrador é onisciente, ou seja, tem acesso aos pensamentos e sentimentos das personagens. Em todos os contos têm-se a predominância do discurso indireto livre, com raros momentos de diálogo em discurso direto.

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A referência temporal é dada por referências históricas e descrições do próprio local: a “velha igreja”, o chão sem calçamento coberto de grama (em “Os enforcados”) ou mesmo pelo cheiro dos pãezinhos de queijo que faz o leitor deduzir que as narrativas ali contadas se dão em um mesmo período. Em diversos contos faz-se o uso de flashbacks, como por exemplo em “Um corpo sem nome”, onde o corpo da mulher morta ali no chão do Largo da Palma faz o narrador lembrar-se de um episódio que ocorreu em sua juventude.

Na primeira narrativa, o pão aparece carregando a conotação de algo divino, sagrado. Através do amor, trabalho e devoção, Célia consegue devolver a voz do namorado, que ficou mudo quando perdeu a mãe, através dos pãezinhos de queijo.

Na segunda narrativa aparece uma outra história de amor e o Largo da Palma torna-se novamente testemunha de uma história humana. A história entre Eliane e Odilon é carregada de persistência e fidelidade, resistindo ao tempo assim como a velha igreja da Palma. No final, o Largo se veste de branco, simbolizando as transformações que ocorrerão dali em diante na vida das personagens, principalmente para Eliane.

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Já em “Um avô muito velho”, as histórias de amor dão lugar às histórias sobre a morte. O velho Loio aparece como um homem que foi levando a vida apenas procurando o bem e a paz, sem nem ver o tempo passar. Por fim, levado pelo imenso amor que tinha pela neta, realiza a eutanásia para livrar sua neta do sofrimento que estava passando.

Na quarta narrativa temos novamente uma história onde a morte é o ponto central. Ao contrário do que acontece em “Um avô muito velho”, onde o Largo é testemunha de tudo e tem boa memória, em “Um corpo sem nome” ele já é velho demais e não tem memória para todos os acontecimentos.

Em “Os enforcados” temos a narração de um fato histórico (Revolta dos Alfaiates) através do ponto de vista de um cego. Apesar da ironia desse recurso, através de um cego, que está alheio aos fatos exteriores, pode se mostrar as verdades ocultas aos olhos de todos.

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Por fim, em “A pedra” temos uma história que envolve aprendizagem através do sucesso e do fracasso. Para que Cícero chegue ao Largo da Palma, ele precisa encontrar um diamante, ou seja, uma pedra bruta que precisa ser lapidada para ter valor. Da mesma forma, Cícero chegará ao Largo e lá passará por uma série de situações de onde deve tirar algumas lições e só então poderá voltar a seu ponto de partida, só que dessa vez mais experiente. No começo da narrativa temos o Largo da Palma sofrendo junto a seu povo que é assolado pela peste bubônica.

Comentário do professor
O professor Deco Duarte do Colégio Gregor Mendes comenta a obra:
“O largo da Palma” é um livro de contos que reúne seis histórias que têm em comum o fato de acontecerem nesse logradouro de Salvador, Bahia. O teor das narrativas não guarda muita proximidade, havendo histórias que vão do sentimentalismo de feições românticas, como “A moça dos pãezinhos de queijo”, trama na qual um jovem impossibilitado de falar recupera a fala ao se ver tocado pelo sentimento amoroso por Célia, a vendedora dos pãezinhos; a outras narrativas como “Os enforcados”, conto em que se descrevem as impressões de um cego diante do enforcamento de envolvidos na “Revolta dos Alfaiates”, e que possui um viés mais crítico de denúncia do silenciamento de um movimento de contestação social e cujo tempo narrativo destoa das demais peças do livro, uma vez que há um recuo para o passado.

O caráter plural da obra facilita a cobrança na prova da UFBA, pois é possível estabelecer diversas relações com outros livros abordados bem como entre os próprios contos. O largo da Palma aparece como microcosmo da realidade, onde se confrontam amores felizes (“A moça dos pãezinhos”), amores desfeitos e refeitos (“O largo de branco”), a morte (“Um avô muito velho”, “Os enforcados”, “Um corpo sem nome”), o sucesso e o fracasso (“A pedra”), a condição da mulher (“O largo de branco” e “Um corpo sem nome”), entre outros possíveis temas.

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