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“O Processo”: análise da obra de Franz Kafka

A luta de um homem para entender o crime que cometeu e por qual invisível tribunal é acusado é o tema deste romance inacabado

Por Redação do Guia do Estudante
20 jun 2023, 11h44

Na manhã em que completa 30 anos, Josef K é visitado no quarto de pensão onde mora por dois sujeitos que o informam que está preso. Os homens se recusam a revelar a natureza da acusação e comunicam ao réu que ele poderá responder ao inquérito em liberdade, desde que se apresente para interrogatórios periódicos no tribunal. É esse o argumento inicial de “O Processo” (1925), romance que Franz Kafka (1883-1924) – advogado que se ocupou vários anos de um ofício burocrático em uma companhia de seguros e que se tornou, segundo o filósofo francês Jean-Paul Sartre, “pai da literatura moderna” – nunca concluiu.

+ Conheça a vida e obra de Franz Kafka

Nascido em Praga, quando a cidade ainda pertencia ao Império Austro-Húngaro (hoje a cidade pertence à República Tcheca), Kafka cresceu sob a influência de três culturas: a judaica, a alemã e a tcheca. Essa identidade multifacetada fez com que ele se sentisse, muitas vezes, estrangeiro em sua própria terra.

A sensação de alheamento (somada a uma relação conturbada com o pai autoritário) é traço marcante de sua biografia – e teve intenso reflexo em sua produção literária, publicada em grande parte postumamente por seu amigo Max Brod. Em “A Metamorfose” (1915), um de seus escritos mais conhecidos, a sensação de inadequação é levada ao extremo: o protagonista, o caixeiro-viajante Gregor Samsa, desperta certa manhã transformado em inseto.

Em sua curta existência, Kafka travou experiências com as pesadas engrenagens da burocracia e da Justiça estatais. Com elas, formou o esteio de obras como “Na Colônia Penal” (1914), “O Castelo” (1926) e, claro, “O Processo”. Em comum, as obras compartilham o drama de personagens que se vêem tolhidos por forças a um só tempo arbitrárias e desconhecidas. Para o crítico literário alemão Wolfgang Kayser, a saga desses personagens reflete “a estranheza que não provém do eu, mas da essência do mundo e da falta de concordância entre ambos”. Ou seja, percebe-se, nessas histórias, o desespero do homem diante do absurdo que parece rodeá-lo.

Em “O Processo”, Joseph K aflige-se com a falta de sentido que lhe corrói a vida. Seus relacionamentos afetivos são artificiais e seu cotidiano, metódico e vazio. É o processo que faz com que K desperte para a própria existência: ele ensaia um relacionamento amoroso com sua vizinha e busca ajuda de outras pessoas, na vã esperança de se livrar do inquérito.

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Do ponto de vista histórico, “O Processo” pode ser considerado uma antevisão do nazismo, cujas raízes já podiam ser sentidas durante a vida de Kafka. A ascensão do nacional-socialismo e o antissemitismo convertido numa indústria de morte a condenar réus baseada no argumento despropositado da raça acabaram tornando-se o contraponto amargo e real da alegoria kafkiana.
A narrativa do romance é marcada pela mistura do real e do simbólico, pelo mergulho no inconsciente e pelo emprego de metáforas que por vezes podem soar exageradas ou grotescas, procedimentos que se repetem em toda a obra do autor. O uso desses recursos o situa dentro da escola expressionista, movimento estético focado na expressão da angústia, da dor e do mal-estar do ser humano perante a realidade lhe que escapa.

Mas o escritor é tão singular em seu universo literário que o termo kafkiano alcançou as páginas dos dicionários, como sinônimo de algo evocatório de uma atmosfera de pesadelo, de absurdo, em um contexto que se furta à lógica ou à sensatez. Ou, como observou o crítico americano Harold Bloom, “a expressão kafkiano se tornou um termo universal para o que Freud chamou de ‘o fantástico’, uma coisa ao mesmo tempo conhecida e estranha para nós”.

Título: O Processo
Autor: Franz Kafka

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Esse texto faz parte do especial “100 Livros Essenciais da Literatura Mundial”, publicado em 2007 pela revista Bravo!

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“O Processo”: análise da obra de Franz Kafka
A luta de um homem para entender o crime que cometeu e por qual invisível tribunal é acusado é o tema deste romance inacabado

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