Olavo Bilac foi um dois maiores representantes do Parnasianismo no Brasil. Essa escola literária nasceu na França por volta do ano 1850 e tinha como principais características o positivismo e cientificismo da época, o que estava em oposição ao pensamento do Romantismo – movimento literário anterior ao Parnasianismo. Além disso, os escritores parnasianos pregavam pelo rigor da forma escrita, respeito às regras gramaticais, vocabulário rico e erudito, rimas ricas e preferências por formas fixas (como por exemplo, os sonetos). Quanto aos temas, há uma inclinação a tratar de fatos históricos, paisagens e objetos, sendo que há um tratamento destes temas de forma exótica e mitológica. Por fim, é importante lembrar que os poetas do Parnasianismo faziam uma “arte pela arte”, ou seja, eles acreditavam que a arte existia por si só e deveria se justificar por ela mesma.
Dentro deste contexto, o Parnasianismo brasileiro foge um pouco do ideal parnasiano original francês, pois os poetas brasileiros não tinham a mesma preocupação com relação à objetividade e cientificismo que os franceses tinham. Além disso, os parnasianos brasileiros não fugiram completamente do subjetivismo, que era uma marca do Romantismo. Porém, diferindo do pensamento romântico de antes, os poetas parnasianos tinham uma visão pessimista do homem, pois o enxergam preso à matéria e sem meios de se libertar – o que é um pensamento com influências do cientificismo.
Quanto ao poeta Olavo Bilac, pode-se dizer que embora ele seja um escritor parnasiano, ele também está filiado de certa forma ao Romantismo, uma vez que Bilac apresenta uma sensibilidade muito próxima ao subjetivismo romântico. Assim, a obra de Olavo Bilac aparece como uma combinação entre a tradição clássica dos poetas portugueses e franceses com um romantismo de caráter tipicamente brasileiro.
Do ponto de vista formal, os poemas de Bilac são ímpares dentro da literatura brasileira, não tendo muitos outros exemplos de tamanho rigor formal e estilístico. Olavo Bilac produziu uma poesia com extrema habilidade linguística, com rigor gramatical e rítmico, e grande habilidade de versificação.
Além disso, a poesia de Olavo Bilac tem bastante apelação sensorial, com combinações de cores, sons e imagens. Porém, esse caráter sensorial quase plástico devido a seu rigor, tendia a transformar os sentimentos e ideias tratados em apenas palavras habilmente tratadas. Essa característica descritiva e plástica é típica do parnasianismo, sendo que por conta disso, muitas vezes a poesia de Bilac soa superficial.
Em um primeiro momento, Olavo Bilac volta-se para Roma e a Antiguidade Clássica, escrevendo diversos poemas como “A sesta de Nero” e “O incêndio de Roma”, ambos poemas presentes no livro Panóplias. A partir de sua próxima obra os poemas de Bilac adquirem um forte caráter lírico, sendo que nos sonetos do livro Via Láctea esse lirismo aparece de forma mais espiritualizada, e nos poemas de Sarças de fogo ele é tingido com grande sensualismo e erotismo. Dessa fase, é muito famoso o soneto “Nel mezzo del camin…”, que dialoga com mais dois outros poemas: um do italiano Dante Alighieri (autor de A Divina Comédia), e outro do poeta modernista Carlos Drummond de Andrade, “No meio do caminho”.
Já em seu livro Alma Inquieta, de onde pertencem poemas como “A avenida das lágrimas”, “Noite de inverno” e “A alvorada do Amor”, Olavo Bilac se volta aos temas filosóficos. Até essa fase, tem-se um poeta repleto de sugestões mágicas, impressionistas e sonhadoras, bastante ao gosto dos parnasianos.
Por fim, a última fase do escritor tem forte intenção didática e os poemas adquirem um tom mais descritivo e histórico, muitas vezes carregado de grande sentimento nacionalista. Dessa fase podem-se destacar os poemas “Crepúsculo nas matas”, “Anchieta”, “Vila Rica” e outros presentes em sua última obra, Tarde.
Poemas representativos
“Via Láctea” (Soneto XIII do livro Via Láctea)
É um soneto decassílabo, cuja linguagem é demarcada por certo coloquialismo e intimidade do eu-lírico com seu interlocutor (por exemplo em “tresloucado amigo”). Por conta dessa postura mais intimista e subjetiva, pode-se dizer que o escritor se afasta um pouco da objetividade típica do Parnasianismo. Faz parte da fase lírica de inspiração espiritualista de Olavo Bilac. No poema, o eu-lírico dialoga com um interlocutor – o que é demarcado pelo uso das aspas – que o interroga sobre sua capacidade de ouvir as estrelas, como já fica claro logo na abertura do soneto.
“Nel mezzo del camin…”
Famoso poema de Olavo Bilac que retoma o verso de abertura do livro Inferno, que é a primeira parte d’A Divina Comédia, obra-prima do poeta italiano Dante Alighieri. No poema de Dante, esse trecho corresponde à uma metáfora do caminho que o protagonista do poema está para enfrentar e vencer, em busca de sua amada e de uma revelação divina. No poema de Bilac, percebe-se que é um eu-lírico masculino que lamenta a dor de separar-se de sua amada após longos anos juntos. Do ponto de vista formal, temos que o poema é construído em torno de paralelismos e quiasmos (figura de linguagem que repete os termos em versos diferentes, mas em ordem invertida). Além disso, há a presença do enjambement ou cavalgamento, que é a ruptura de uma frase entre dois versos, o que gera um alongamento do metro e aproxima o ritmo do verso ao ritmo da prosa.
“Vila Rica”
Esse soneto faz parte do livro Tarde, representante da última fase do escritor Olavo Bilac, cujos temas se voltam para fatos históricos de forma quase didática. Em “Vila Rica”, Bilac faz referência ao declínio do Ciclo do Ouro (séc. XVIII), período em que a extração e exportação do ouro era a base da dinâmica econômica do Brasil colônia. Vila Rica é o antigo nome da cidade de Ouro Preto (Minas Gerais), que foi um dos mais importantes locais de mineração no período. Com certo caráter nacionalista, o eu-lírico apresenta o declínio do Ciclo do Ouro com tom melancólico e de lamentação.
Comentário do professor
A profa. Augusta Aparecida Barbosa, do Cursinho do XI, comenta que “Os melhores poemas de Olavo Bilac” é uma obra importante para conhecer o trabalho de um dos mais importantes poetas brasileiros de todos os tempos. Como poeta parnasiano, Olavo Bilac se propõe a preservar um estilo rígido na construção dos poemas. Assim, é claro que ele busca na métrica e na estrofação uma regularidade clássica e precisa, reforça a profa. Augusta. A título de exemplo, pode-se citar o poema “Profissão de fé”, onde ele mesmo afirma a rigidez de sua norma.
Entretanto, nos poemas selecionados para esta coletânea mostra-se um Bilac que vai além do Parnasianismo e das leis da forma, ressalta a profa. Augusta. Apresenta-se com temas variados, poemas que esbarram no lirismo amorosa, na sensualidade e, porque não dizer, erótico. Olavo Bilac, eleito como “O príncipe dos poetas”, mostra-nos suas mais diversas faces nessa obra, termina a profa. Augusta.
Sobre Olavo Bilac
Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac nasceu em 16 de dezembro de 1865 na cidade do Rio de Janeiro. Considerado excelente aluno desde pequeno, consegue autorização para ingressar no curso de Medicina por vontade de seu pai aos 15 anos de idade. Porém, não chega a concluir a faculdade. Mais tarde ingressa na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo, mas também não termina este curso. Homem de letras, foi jornalista, poeta e dedicou boa parte de seu tempo à educação. Sua estreia como poeta aconteceu em 1884, publicando o soneto “Sesta de Nero” no jornal carioca Gazeta de Notícias. Quatro anos depois, Olavo Bilac publica o livro Poesia e passa a ganhar mais fama entre o meio literário. É membro-fundador da Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira número 15, cujo patrono é o poeta Gonçalves Dias.
Além de sua carreira literária, Olavo Bilac teve intensa participação política e social no Brasil, sendo um dos fundadores da Liga da Defesa Nacional e lutando em favor da obrigatoriedade do serviço militar no país. Olavo Bilac é o autor do Hino à Bandeira Nacional e chegou a ser preso por fazer oposição ao governo do general Floriano Peixoto.
Em 1907, foi eleito pela revista Fon-Fon o “príncipe dos poetas brasileiros” e constitui a Tríade Parnasiana, ao lado de Alberto de Oliveira e Raimundo Correia. Suas principais obras são: “Poesia” (1888), “Ironia e Piedade” (1916) e “Tarde” (1919).