Para que serve o travessão, acento que “entrega” se um texto foi feito por IA
Discussão recente nas redes diz que o uso do travessão é sinal de um texto feito por IA. Mas será mesmo? Entenda como usar e para serve esse acento

Nas últimas semanas, uma discussão curiosa tomou conta das redes sociais: usuários começaram a apontar o uso do travessão (—) como um dos principais indicadores de que um texto foi escrito por Inteligência Artificial. Pois é! Internautas compilaram uma série de exemplos do que seria uma “escrita de IA”, e uma das formas mais eficazes de identificar seria justamente o uso desse acento.
O motivo seria que, até pouco tempo atrás, só víamos o travessão em textos formais, literários ou acadêmicos. E, desde o avanço das IAs generativas, ele começou a aparecer em todo lugar…
A teoria pode até parecer divertida, mas esconde um problema real: muita gente ainda não entende bem para que serve o travessão. Ou confunde com outros sinais parecidos, como hífen e meia-risca. Por isso, antes de sair acusando um texto de ser gerado por IA, é bom entender como esse recurso funciona.
Neste texto, o GUIA DO ESTUDANTE te mostra quando usar (ou não) o travessão e dá dicas para quem quer dominar esse acento que pode ser útil em qualquer texto.
+ Palavras que muita gente coloca acento, mas não têm
O que é o travessão?

O travessão (—) é um sinal de pontuação usado para destacar elementos dentro de uma frase ou indicar a mudança de voz num diálogo. Ele é mais longo do que o hífen (-) ou do chamado “meio travessão” ou “meia risca” (–).
Embora tradicionalmente mais frequente em textos de diálogo, o travessão é também muito útil na composição do raciocínio de uma oração. Seu principal objetivo é dar ênfase, quebrar a linearidade da leitura ou marcar interrupções, ou explicações, sem o peso das vírgulas ou dos parênteses. Vamos entender a diferença entre esses três acentos.
- Hífen (-): é o menor dos três. Serve para unir palavras compostas (ex: guarda-chuva, bem-estar) ou indicar separação silábica (ex: ca-sa-men-to);
- Meia-risca (–): tem uso mais na gramática inglesa, mas também é usado para definir intervalos (ex: 1939–1945). Em português, é menos comum;
- Travessão (—): é o mais longo. Serve para pontuar, marcar intervenções no texto, destacar informações ou introduzir falas em diálogos.
+ Como se escreve: dia a dia ou dia-a-dia?
Quando usar travessão?
Segundo o gramático Evanildo Bechara, no livro “Moderna Gramática Portuguesa”, o travessão “pode substituir parênteses ou vírgulas com maior carga expressiva”, funcionando como uma “pausa enfática que orienta a leitura”. Já Celso Cunha (1917-1989), em “Nova Gramática do Português Contemporâneo”, destaca seu papel na “organização da estrutura do discurso”, sobretudo em textos literários.
Portanto, de forma geral, o travessão pode ser usado em três contextos principais. São eles:
+ Saiba como usar a vírgula – e quais são os três erros mais comuns
1. Para destacar informações acessórias ou intervenções no meio da frase
O travessão substitui vírgulas ou parênteses, mas com mais ênfase.
A verdade — dura como um tapa — veio à tona.
2. Para introduzir e marcar diálogos
Provavelmente a forma mais conhecida, o travessão é usado para indicar falas de personagens. Esse uso ajuda a distinguir a voz do narrador da fala do personagem e é regra em narrativas tradicionais.
Veja esse exemplo de “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos:
— É muito tempo — disse Fabiano, coçando a cabeça.
3. Para encerrar frases com ênfase ou pausa dramática
É esse o uso que viralizou nas redes como “típico” de IA. Mas, como mostra a tradição literária, ele também é ferramenta estilística de escritores humanos.
Como visto na célebre frase de “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis:
Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis — nada menos.
+ 5 livros que vão te ensinar a escrever melhor – para o vestibular e a vida
Pequeno guia para não errar
O travessão é um dos sinais mais versáteis da Língua Portuguesa. Quando bem usado, ele traz ritmo, ênfase e clareza ao texto. Mas é preciso alguns cuidados para o texto não ficar truncado ou literário demais.
Veja algumas dicas para não errar mais.
- Use com propósito, não por estilo: se em um único parágrafo você usou mais de dois, talvez esteja exagerando. Reavalie se parênteses ou vírgulas não seriam mais adequados;
- Cuidado para não confundir com o hífen: eles têm funções diferentes. O hífen une palavras compostas (ex: guarda-chuva), enquanto o travessão serve para pontuação e estruturação do texto;
- Cuidado com a digitação: em muitos teclados, o travessão não aparece automaticamente. No Word, use “Ctrl + Alt + – (do teclado numérico)” ou configure substituições automáticas;
+ Escrever à mão nos torna mais inteligentes
Mas… travessão é “coisa de IA”?
A resposta é simples: não. O travessão existe na Língua Portuguesa muito antes das Inteligências Artificiais começarem a escrever textos. O que acontece é que muitos modelos de linguagem, como o ChatGPT, aprendem com bases textuais formais e bem pontuadas, o que inclui o uso frequente do travessão. Daí o “estilo” da IA ser mais propenso a recorrer a esse sinal com frequência.
Mas atenção: isso não significa que usar travessão demais seja sinal de que seu texto foi feito por um robô. O que importa é o equilíbrio! Em textos jornalísticos ou acadêmicos, o uso excessivo pode deixar a leitura truncada. Já em crônicas, blogs e textos de opinião, o travessão pode ajudar a criar um ritmo mais envolvente – desde que usado com moderação.
Prepare-se para o Enem sem sair de casa. Assine o Curso GUIA DO ESTUDANTE ENEM e tenha acesso a todas as provas do Enem para fazer online e mais de 180 videoaulas com professores do Poliedro, recordista de aprovação nas universidades mais concorridas do país.