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Por que Clarice Lispector é a diva pop da literatura na internet?

Entenda o que faz a autora ser tão popular como conselheira amorosa, guru e diva pop das redes

Por Letícia Albuquerque
Atualizado em 13 jan 2023, 17h38 - Publicado em 31 jul 2020, 10h12

“Liberdade é pouco, o que eu desejo ainda não tem nome”. Quem nunca viu ou ouviu essa frase por aí? Para além do universo da literatura, Clarice Lispector conquistou também a internet. A escritora, que nasceu há pouco mais de 100 anos, em 1920, tem seu rosto espalhado por diversos ambientes digitais, acompanhado de memes e citações que criam uma personalidade única para Clarice a partir do pouco que se sabe sobre a autora.

Apesar da fama literária, ela gostava pouco da vida pública ou de ser considerada como escritora. “Tudo o que eu digo, a maior bobagem, é considerada como uma coisa linda ou uma coisa boba”, contou em uma de suas entrevistas mais conhecidas para a TV Cultura, em 1977. Ironicamente, sua popularidade digital confirma o que pensava Clarice. Pequenos fragmentos da sua produção geraram uma admiração digital que lhe conferiria o status de conselheira amorosa.

Para Rachel Teixeira Valença, coordenadora de literatura do Instituto Moreira Salles, essa reputação se deve muito a sua colaboração em jornais. “Já que grande parte dessa produção abordava o tema das relações de amor”, afirma, “talvez isso tenha valido a ela tal título”.

Conselhos de Clarice

Tereza Quadros, Helen Palmer foram dois dos pseudônimos usados por Clarice, que também foi ghost writer da atriz Ilka Soares. A autora usava a liberdade do anonimato para escrever sobre moda, maternidade, etiqueta e amor por meio de seu ((estilo único e com senso de humor)).

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Assim como em seus livros, Clarice incorporava pequenas provocações, característica muito diferente do que se esperava das despretensiosas colunas femininas da época. Seja mencionando Simone de Beauvoir, até então inédita no Brasil, ou com comentários que se fazem presente até hoje em discussões feministas, ela chamava atenção. Coletâneas como De Amor e Amizade (2010) e Correio Para Mulheres (2018) reúnem textos de suas colunas como jornalista e cronista de assuntos femininos. Em “Quem é que você deve imitar?”, ela diz: “a questão está toda aí: você deve imitar você mesma”.

“Creio que o leitor procura identificar-se com o que lhe é mais familiar, mais próximo”, explica Rachel. Ao falar sobre temas como a solidão, o sagrado, o amor e a morte, suas obras continuam tocando o que há de mais atemporal no nosso cotidiano: as “aflições humanas”, como descreve a coordenadora do IMS. 

O artigo A Hora da Estrela Virtual: Leitura, Literatura, Reapropriação e Remix de Clarice Lispector nas Redes Sociais, de Anderson Paes Barreto e Carolina Dantas de Figueiredo, publicada na Revista Brasileira de História da Mídia, da Universidade Federal do Piauí, ainda aponta que as citações retiradas da obra da escritora servem como “pérolas de sabedoria” e se assemelham aos “microcontos”, populares entre autores a partir dos anos 1990. 

Ainda que o microconto não seja considerado um gênero literário, autores como Tolstói, Julio Cortázar e Ernest Hemingway produziram narrativas de ficção em um espaço menor que um tuíte. Apesar de não existirem definições claras quanto à produção, o limite costuma ser de 150 caracteres, enquanto em um tuíte cabe, no máximo, 280. Para os autores do artigo, as citações de Clarice ganham ares de pequenas narrações que se bastam por si próprias. Nesse sentido, ela “aparece como diva (…), mas também como amiga ou guru”, afirmam.

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O mistério clariciano

Nas redes sociais, pouco importa se as frases de Clarice são mesmo de Clarice. Ainda segundo Anderson e Carolina, o compartilhamento de certos conteúdos por fãs, no ambiente virtual, indica também uma apropriação de certas características daquele ídolo. “A simples ideia de que determinado texto é da autora já aquece seu público e o reúne em certo grupo de identidade ou interesse”, continuam. Assim como os fandoms, seguir, curtir ou compartilhar conteúdos relacionados a um tema nos insere imediatamente a um grupo social virtual.

Clarice sempre foi particularmente atraente. Autor da obra Clarice, uma Biografia, o americano Benjamin Mosler afirma que a figura de Clarice era muito magnética: “em 15 anos ela passou de refugiada, como milhões de sírios hoje, para se tornar uma lendária dama do Rio”, falou em entrevista ao El País.

Rachel concorda que é difícil deixar de levar em consideração o fascínio exercido por suas características pessoais. Reclusa, elegante e bela, a atmosfera de mistério sobre a vida da escritora deixam a imaginação livre para criarmos todas as Clarices virtuais.

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Mas a contemporaneidade da escritora, certamente, reúne seus fãs. Em entrevista ao portal GaúchaZH , Teresa Montero, autora da biografia “Eu Sou uma Pergunta“, argumenta como o debate sobre as mulheres empoderadas só é possível a partir do trabalho de pioneiras no passado, como Clarice. Assim, suas obras continuam moldando nosso cotidiano. E a autora nos desvenda caminhos que, até hoje, ainda não compreendemos.

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