Por que o sebo onde compramos livros usados tem esse nome?
Prepare-se para um mergulho linguístico seboso (no bom sentido!)

Você já parou para pensar por que aquele cantinho mágico onde a gente garimpa livros usados — às vezes até com dedicatória do autor! — tem esse nome tão… “oleoso”: sebo? A resposta envolve latim, suor das mãos e uma boa dose de humor brasileiro.
O professor Guilherme Evaristo Arjona, da unidade de Alphaville da Start Anglo Bilingual School, explica: “A utilização da palavra ‘sebo’ como sinônimo de ‘alfarrábio’, isto é, de local onde se compra livros usados, tem origem incerta. A hipótese mais aceita — e provável — é a de uma metonímia um tanto quanto bem-humorada derivada do latim sebum, que significa substância graxa, secreção extraída de glândulas sebáceas, gordura”.
“Como os livros eram constantemente manuseados, por conta do contato com a pele das mãos, ficavam engordurados e sebosos. Por isso, os locais onde eram comercializados passaram a ser chamados de sebo. Esse termo, tipicamente brasileiro, popularizou-se na década de 1960.”
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Mas o que é metonímia, mesmo?
Se bateu a dúvida, calma que a gente explica!
Metonímia é uma figura de linguagem em que uma palavra é usada no lugar de outra com a qual tem uma relação próxima.
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No caso do “sebo”, o nome do lugar onde se vendem livros usados não tem a ver diretamente com livros — mas sim com a gordura deixada pelas mãos que folheiam esses livros.
Ou seja: em vez de falar dos livros em si, fala-se do “efeito colateral” do uso deles. É como dizer “um bom prato” para se referir à comida ou “ler Machado” para dizer que leu um livro do autor Machado de Assis.
Muito além da livraria
A palavra “sebo” tem vários significados no português. Além de designar o local onde compramos livros usados, também pode significar:
- Vela, especialmente as mais antigas feitas com gordura animal;
- Pessoa pedante, metida, antipática;
- Namoro licencioso, relacionamento passageiro;
- E até uma interjeição que expressa impaciência ou desdém.
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Exemplos
Para ver como a palavra se usa na prática, olha só esses exemplos de frases:
- O moço era todo metido a sebo, falando difícil, teimoso;
- Encontrei um livro autografado pelo Drummond num sebo perto de casa;
- Durante o apagão acendeu o sebo, assim conseguiu terminar a leitura que tanto o entusiasmou;
- Ora sebo! Não quero saber dessa história!
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O charme das páginas usadas
Mesmo com um nome grudento, o sebo é irresistível para quem ama livros. A escritora Telma Guimarães Castro Andrade conta em “Mistério no sebo de livro”, como foi sua primeira vez entrando em um:
“SEBO. O nome me pareceu grudento, pegajoso. Assim mesmo resolvi entrar. Precisava comprar um livro de ‘segunda, terceira, infinitas mãos’ e tinha de ser ali mesmo. Não sabia por onde começar a procurar o livro. Pensei em perguntar a um senhor que estava logo na frente, mas fiquei sem graça. Ele estava tão compenetrado! Foi aí que vi a mocinha sentada à bancada em forma de U, anotando alguma coisa, ajeitando notas.”
No fim das contas, sebo é lugar de história viva — não só das que estão escritas nos livros, mas também das mãos que os folhearam, das dedicatórias escondidas e das descobertas que só quem gosta de virar página entende. Você já visitou algum?
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