Todo mundo que já estudou algo sobre a Segunda Guerra Mundial deve saber que os judeus foram vítimas de experimentos terríveis. Os médicos nazistas usavam os prisioneiros como cobaias humanas para verificar todo tipo de hipótese, usando até mesmo crianças. Mas o que algumas investigações mostram é que esse tipo de prática não era exclusiva dos alemães. A escola de Medicina da Universidade de Kyushu, no Japão, está exibindo uma exposição que mostra os experimentos de vivissecção cometidos em soldados americanos prisioneiros do exército japonês.
Exército japonês durante batalhas do oceano Pacífico. (Foto: Getty Images)
Explico: vivissecção é dissecar um corpo ainda vivo, ou seja, cortar o corpo para observar a anatomia, com o propósito de estudá-lo. Na universidade de Kyushu, os estudos foram realizados em oito soldados americanos mantidos como prisioneiros de guerra, que tiveram partes do cérebro e do fígado removidos para testes.
Os soldados foram capturados em maio de 1945, após seu bombardeiro, de modelo B-29 (o mesmo modelo de avião que transportou a bomba de Hiroshima), ter sido derrubado. De acordo com os registros, o capitão da operação, Marvin Watkins, foi levado para Tóquio para ser interrogado, e os oito tripulantes levados para a Faculdade de Medicina da universidade, que à época era chamada Universidade Imperial de Kyoto.
Soldados americanos feitos prisioneiros de guerra por japoneses, em 1944. (Foto: Getty Images)
O caso foi levado a um tribunal de guerra em 1948, em que testemunhos contra 30 médicos e membros da equipe alegaram que os prisioneiros haviam sido submetidos a injeções de água do mar nas veias, para verificar se poderia substituir o soro fisiológico, além das partes de órgãos removidas. A remoção de parte do fígado pretendia ver se os homens testados sobreviveriam; já a remoção de parte do cérebro afetado foi feita para checar uma possível cura para a epilepsia. Como imaginado, nenhum dos prisioneiros sobreviveu.
A exposição da Universidade de Kyushu não trata apenas dos experimentos: conta, no geral, os mais de 100 anos da instituição. A opção por exibir, também, os documentos sobre os terríveis estudos conduzidos nos porões demonstra uma quebra de tabu ao colocar em discussão aberta o que aconteceu – e, principalmente, mostra que os crimes cometidos na Segunda Guerra não são exclusividade dos nazistas.
*Com informações do The Japan Times e do The Telegraph.