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Quem foi Marçal Tupã-Y, o líder indígena que enfrentou a Ditadura e discursou para o papa

"O Brasil não foi descoberto, foi invadido e tomado dos indígenas”, afirmou o ativista para o papa João Paulo II em um discurso histórico

Por Redação
2 mar 2025, 10h00
Marçal Tupã Y em encontro com o papa João Paulo II, em 1980
Marçal Tupã Y em encontro com o papa João Paulo II, em 1980 (Paulo Suess/CIMI/Divulgação)
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Marçal Tupã-Y (1920-1983), também conhecido como Marçal de Souza, foi um líder guarani que dedicou sua vida à luta pela sobrevivência de seu povo e pela preservação das terras indígenas. Nascido em 1920, no Mato Grosso do Sul, teve uma infância marcada pela perda precoce dos pais e pela experiência de viver em diferentes aldeias e orfanatos, Tornou-se um defensor dos direitos dos indígenas e uma figura internacionalmente reconhecida – em 1980, encontrou-se com o papa João Paulo II e fez um discurso emocionante para o pontífice. Em sua jornada, fundou a União das Nações Indígenas (UNI) e se consolidou como uma voz poderosa na denúncia dos abusos cometidos contra os povos nativos do Brasil. 

Marçal também “antecipou” as grandes questões que afligem as comunidades até hoje, como a invasão de terras e a violação de direitos. Durante a Ditadura Militar, período em que os indígenas eram marginalizados e tinham poucas oportunidades de se manifestar politicamente, conseguiu fazer frente à repressão. Porém, seu ativismo o tornou um alvo, e ele foi assassinado em 1983, em um crime que permanece sem solução. 

Mesmo com sua morte, o impacto de sua luta reverbera até os dias de hoje, tornando Marçal um símbolo da resistência. Sua trajetória de luta contra o latifúndio, o racismo e as opressões sofridas pelos povos originários se transformou em legado.

Saiba mais sobre sua trajetória.

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Infância e formação inicial 

Marçal de Souza Tupã-Y nasceu em 24 de dezembro de 1920, em uma aldeia guarani localizada no estado de Mato Grosso do Sul. Desde muito jovem, enfrentou os efeitos da colonização, que resultou na destruição das culturas indígenas e no avanço das terras destinadas aos fazendeiros. Marçal ficou órfão de pai e mãe ainda aos 8 anos, momento que marcou sua infância e o obrigou a ser encaminhado para orfanatos e diferentes terras guaranis ao longo da sua juventude.

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Cresceu imerso em dificuldades. Aos 12 anos, foi adotado por uma família presbiteriana, o que o levou a Campo Grande e mais tarde a Recife. Durante essa fase, ele trabalhou em diferentes empregos e buscou estudar para, com o tempo, se formar em enfermagem pela Organização Mundial de Saúde (OMS), um curso que o ajudaria a retornar às suas origens com uma visão mais ampla sobre a saúde e o bem-estar de seu povo.

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O início de sua luta pelos direitos indígenas 

Nos anos seguintes, Marçal se dedicou ao atendimento médico de sua comunidade, ao mesmo tempo que começou a se envolver nas questões políticas e sociais que afetavam os povos indígenas. Sua luta, que começou de forma mais local, logo tomou proporções nacionais. No final da década de 1960 e início da década de 1970, o Brasil estava em plena Ditadura Militar, e os povos indígenas eram ainda mais marginalizados e despojados de suas terras e direitos.

Em 1973, Marçal foi um dos principais líderes a denunciar as condições de vida precárias das aldeias. Sua denúncia mais contundente envolvia a expropriação de terras indígenas, o tráfico de meninas guaranis para trabalho forçado, e a exploração ilegal de madeira, frequentemente apoiada por fazendeiros que desejavam expandir suas propriedades.

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Ele também criticava as políticas públicas que falhavam em atender às necessidades dos povos indígenas, e em 1980 fundou a União das Nações Indígenas (UNI), para unir as diferentes etnias e  fortalecer a luta pela preservação das terras.

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Ascensão como líder e mobilização nacional 

Marçal se destacou como um elo de ligação entre os movimentos indígenas e os outros movimentos sociais do Brasil. Sua mobilização chegou ao ponto de ele ser recebido pelo Papa João Paulo II, durante sua visita ao Brasil em 1980. Em um gesto histórico, Tupã-Y fez um discurso em defesa dos povos indígenas. “O Brasil não foi descoberto, foi invadido e tomado dos indígenas”, disse Marçal, em uma crítica direta ao processo histórico de colonização e à visão oficial sobre a história do país.

Esse discurso trouxe para Marçal uma atenção internacional, tornando-o uma figura de destaque no cenário político, tanto dentro do Brasil como fora dele. Suas palavras ecoaram em todo o mundo, colocando os problemas dos povos indígenas em uma esfera global e ressaltando a urgência dessa questão. Ele passou a ser, então, um símbolo de resistência, um defensor da demarcação de terras e da preservação das culturas nativas.

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Conflito com fazendeiros e o assassinato 

A luta de Marçal, no entanto, não foi sem custos. À medida que ele se tornava mais enfático em suas críticas, seus inimigos também se multiplicavam. Fazendeiros e empresários que se beneficiavam da exploração ilegal das terras indígenas passaram a vê-lo como uma ameaça direta aos seus interesses. As pressões sobre ele aumentaram, e ele foi ameaçado de morte inúmeras vezes.

Em 1983, foi cruelmente assassinado em sua casa, na aldeia Campestre, com cinco tiros. A violência refletia não apenas o ódio e a intolerância contra ele, mas também a brutalidade enfrentada por outros líderes indígenas. Sua morte chocou o Brasil e foi um marco na história indígena no país.

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O legado de Marçal de Souza Tupã-Y 

Apesar de sua morte trágica, Marçal deixou um legado. Ele foi homenageado postumamente, recebendo o título de Herói Nacional do Brasil. Sua imagem e suas palavras continuaram a inspirar as novas gerações de ativistas indígenas e a fortalecer a resistência dos povos originários.

Além disso, em 1994, a Câmara Municipal de Dourados passou a entregar anualmente o Prêmio Marçal de Souza Tupã-Y, destinado a reconhecer pessoas e instituições que se destacam na promoção dos direitos e da cultura indígena no Brasil. 

Recentemente, em 2023, a família de Marçal solicitou à Comissão de Anistia do Ministério dos Direitos Humanos que fosse feita uma reparação pelos danos causados pela sua morte. O pedido se baseia não apenas no assassinato do líder, mas também no contexto de perseguição política e repressão sofrida pelos povos indígenas durante a Ditadura Militar.

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