Quem foram os vikings e como eles descobriram a América
Saiba mais sobre a saga dos povos nórdicos europeus
Quando eu estava nas primeiras séries do Ensino Fundamental, os professores de Geografia costumavam pedir para os alunos copiarem com papel vegetal (isso ainda existe?) os mapas do mundo. Sempre fiquei intrigada para saber por que ao lado do nome “Groenlândia”, no continente americano, estava escrito “Dinamarca”, um país europeu que a gente pouco ouve falar na escola. Há alguns anos eu descobri o motivo disso. Foi por essa ilha gelada que chegaram os primeiros colonizadores do Velho Mundo, os vikings.
Pois é, não foi foi Cristóvão Colombo quem descobriu a América. A versão da descoberta feita pelos vikings é recente, no entanto. Até os anos 1960, pouco se sabia sobre isso. Apenas algumas lendas escandinavas, descritas nas “sagas” (relatos épicos em prosa, presentes nas culturas nórdica e germânica, sobre as viagens dos vikings) apontavam para esse fato. A confirmação científica veio com o trabalho do explorador norueguês Helge Ingstad e de sua mulher, a arqueóloga Anne Stine Ingstad. Eles encontraram, com a ajuda de pescadores, vestígios de um assentamento nórdico em L’Anse aux Meadows, no Canadá. Datações feitas por carbono 14 indicaram que os vestígios são mesmo do ano 1000, o que coincide com os relatos vikings (ou seja, provando a presença europeia na América quase 500 anos antes da chegada de Colombo, em 1492).
Quem eram os vikings
Como contado em reportagem da revista Aventuras na História, os vikings foram um povo de camponeses e pescadores que viveu no norte da Europa, nos territórios que hoje correspondem à Escandinávia – Dinamarca, Suécia e Noruega. O nome viking significa homem de vik, ou “baía”, embora alguns especialistas afirmem que sua origem pode ser a palavra “pirata” de antigas línguas escandinavas.
Os vikings praticavam a agricultura e dependiam da criação de gado, bodes, ovelhas e porcos para sobreviver. Eles se organizavam em clãs, espécie de tribos unidas por laços familiares e chefiadas por proprietários de terra, que também assumiam o papel de líderes militares. Os proprietários de terra formavam a classe mais alta da sociedade viking. A classe intermediária era composta por artesãos, pescadores e pequenos agricultores e, a mais baixa, por escravos capturados durante ataques a outras regiões.
A partir do final do século 8, espalharam o terror com os ataques que realizavam nas áreas costeiras da Irlanda, da Inglaterra, da França e da Rússia. Mas não dá para dizer que eles teriam sido apenas de um povo bárbaro e violento. Também tinham grandes habilidades para o comércio e a navegação. Entre os séculos 9 e 11, eles foram a maior potência naval da Europa. A maior especialidade viking se concentrava na construção de embarcações fortes e estáveis para aguentar longas viagens. Isso foi decisivo para a expansão de território e a chegada à Groenlândia.
Descoberta da América
Por volta do ano 1000, o explorador viking Leif Eriksson decidiu partir para além da Groenlândia. Seu próprio pai, Eric, o Vermelho, descobriu a ilha anos antes, em uma de suas viagens. Leif ouviu relatos de que árvores tinham sido avistadas próximo ao local. Como madeira é um item essencial para a construção e manutenção dos barcos, ele montou sua própria expedição e conseguiu chegar ao Canadá. Na primeira viagem ao local, acharam uvas, árvores, salmões e clima temperado. O contato com nativos só aconteceu na segunda expedição, em 1004, e não foi nada amistoso. Houve muito sangue. Apesar de também terem sofrido baixas, os vikings apelidaram os moradores da América de skræling, que poderia ser traduzido como “fracotes”. Aconteceram mais duas viagens às terras recém-descobertas antes do fim da colonização viking.
De quem é a Groenlândia?
De volta à minha pergunta inicial: o que a Dinamarca tem a ver hoje com a Groenlândia? Vamos do início: em 1500, o português Gaspar Corte Real chegou à Groenlândia pelo Atlântico Sul. Um mapa português de dois anos depois já mostrava a Groenlândia como possessão portuguesa, pois ficava a leste da Linha de Tordesilhas. Mas, nesse caso, a posse ficou só no papel.
Em 1604, o rei Cristiano IV da Dinamarca enviou uma expedição para a ilha, porque ele achava que ainda tinham nórdicos morando lá. Não deu certo, pois o gelo atrapalhou a missão. Em 1721, com Hans Egede, os dinamarqueses conseguiram tomar posse do país novamente, mas não encontraram nórdicos, apenas inuítes, que mostraram a eles as ruínas onde os imigrantes europeus moravam. Hoje, 89% dos 56 mil groenlandeses são inuítes. Desde 2009, a Groenlândia é um país semiautônomo. A maioria da população apoia a independência total da Dinamarca. Um plebiscito vai resolver a questão em 2017.