A Revolução Farroupilha, que teve início em 20 de setembro de 1835, é sem dúvidas uma das revoltas brasileiras que ficaram marcadas no imaginário popular – tanto que virou pano de fundo de romances, como A Casa das Sete Mulheres. Para o Rio Grande do Sul, a importância da data é ainda maior, celebrada em um feriado também conhecido como o “Dia do Gaúcho“.
Longe de ser uma revolta de um único dia, a Guerra dos Farrapos foi a mais longa do Brasil Império, e estendeu-se por 10 anos. Tudo começou com uma demanda anti-imperial e republicana, em que as elites riograndeses pediam a deposição do presidente da província, Antonio Rodrigues Fernandes Braga, e a chance de escolher os próximos presidentes e comandantes de armas.
Mas, com o tempo, as coisas mudaram de figura. As elites passaram pouco a pouco a negociar com o governo do Rio de Janeiro, sede do Império, e o conflito acabou pacificado. Pelo menos para parte dos combatentes, já que escravizados negros que haviam integrado as fileiras dos farrapos foram emboscados e mortos.
Abaixo, conheça três pontos importantes sobre a Revolução Farroupilha.
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1. Uma revolução das elites
Leonardo dos Reis Gandia, doutor em História Social pela USP, explica que a Guerra dos Farrapos, ao contrário de outras revoltas do período regencial, foi das elites, já que foi arquitetada por influentes figuras do Rio Grande do Sul. A principal delas foi Bento Gonçalves da Silva, que redigiu o famoso Manifesto da República Riograndense. No documento, ele acusava a República, entre outros pontos, de:
- Por covardia, “escolher mal seus diplomatas e conduzir uma política falsa e indecorosa para com as nações estrangeiras”;
- Fazer tratados com potências estrangeiras, contrárias aos interesses e dignidade da nação;
- Fazer “pesar contra o povo gravosos impostos e não zelar pelos dinheiros públicos”;
- Permitir “contrabandos vergonhosos extremamente prejudiciais”.
Um outro acontecimento que evidenciou o caráter elitista da revolta foi o Massacre de Porongos – chamado pelos líderes do movimento de “Surpresa dos Porongos”. Em 14 de novembro de 1844, quando as elites estavam em vias de firmar um acordo final com o Império, reuniram-se para emboscar escravizados negros que haviam se juntado aos farrapos em troca de uma prometida alforria. Vários foram capturados e mortos.
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2. Separatismo
Embora fosse contra o Império, a Revolução Farroupilha não tinha, em um primeiro momento, caráter separatista. No entanto, quando as forças imperiais reagiram com violência aos revoltosos, esse discurso ganhou mais força. Em 11 de setembro de 1836 foi proclamada a República Rio-Grandense, também conhecida como República de Piratini. Vale ressaltar que nem todos os líderes do movimento viam a separação do restante do país como uma solução.
Uma outra “nação” fundada no contexto da Guerra dos Farrapos foi a República Juliana ou República Catarinense, no estado que hoje corresponde a Santa Catarina. Foi neste momento que surgiram figuras simbólicas do movimento como Anita e Giuseppe Garibaldi.
3. Concessões e anistia: o saldo da revolta
Inúmeras revoltas regenciais foram encerradas com violência, mas a dos farrapos terminou por meio de acordos entre lideranças riograndenses e o Império. O conflito foi pacificado por Luis Alves de Lima e Silva, que mais tarde se tornaria o Duque de Caxias, que ofereceu à elite rebelde “concessões, a reincorporação de seu oficiais militares e da Guarda Nacional às forças imperiais em suas patentes, o pagamento das dívidas da província pelo Império, a garantia de indicação dos presidentes pela elite da província, bem como a anistia geral e irrestrita”, explica Leonardo dos Reis Gandia ao site da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP).