Há quem diga que, desde pequena, Cecília Meireles já estava marcada pelo “signo da ausência”. Quando nasceu, em 1901, no Rio de Janeiro, seu pai e três irmãos haviam morrido. A sua mãe deixou-a órfã aos 3 anos. Desse momento até a sua estreia como poeta, aos 18 anos, consolidou-se um estilo que sofreria poucas mudanças ao longo da vasta obra que deixou: a predominância de uma linguagem marcadamente simbolista, envolta sempre por uma “certa ausência do mundo”, característica que a escritora julgava seu principal defeito. Mas, para a crítica, era uma das grandes qualidades de sua produção, que ainda renderia uma obra um pouco destoante dessa poética: Romanceiro da Inconfidência (1953).
Nessa sua obra-prima, “uma narrativa rimada”, como a própria Cecília definiu, contam-se os episódios da Inconfidência Mineira (1789), que terminou com a morte de Tiradentes. E que, como afirmou a poeta em conferência, não haviam sido devidamente abordados pelos escritores contemporâneos. Romanceiro, como sugere o nome, é um conjunto de romances, entendido nesse caso como um gênero de origem medieval, com poemas épico-líricos transmitidos oralmente. Em geral, esses romances relatavam os feitos de povos e heróis. “O Romanceiro Cigano” do espanhol Federico García Lorca, influenciou Cecília na concepção.
Antes de chegar ao episódio histórico propriamente, o poema passa pelos ciclos do ouro e do diamante, que afirma serem erigidos sobre a cobiça e a barbárie. Traz capítulos inteiros sobre alguns dos protagonistas – como os poetas Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga. Composto por 85 romances, além de cenários e falas, Romanceiro é fruto de um trabalho exaustivo de pesquisa e concepção. Tratava-se, seguramente, da maior empreitada de sua carreira.
Logo na abertura do livro, em Fala Inicial, já se estabelecem os parâmetros com os quais o poema será construído: “Não posso mover meus passos/ por esse atroz labirinto/ de esquecimento e cegueira/ em que amores e ódios vão […] Não choraremos o que houve,/ nem os que chorar queremos:/ contra rocas de ignorância/ rebenta a nossa aflição“.
O sentimento da dúvida – que aparece ao longo de todos os poemas – denuncia a arbitrariedade dos fatos e da história. Não há como distinguir entre verdade e mentira, lealdade e traição. A linguagem de inspiração simbolista utiliza-se do tom de mistério e de imaterialidade para envolver os inconfidentes em seu contexto e prenunciar-lhes o fim. Às vezes, investe em uma voz de perplexidade. A eficiência dos versos do Romanceiro se deve ao uso preciso que Cecília faz de sonoridades e rimas, da tensão e distensão dos versos, que assumem formas distintas de acordo com o assunto de que tratam.
Cecília morreu no Rio de Janeiro, em 1964. Dedicou-se ao magistério no ensino primário e foi professora de literatura brasileira nas Universidades do Distrito Federal e do Texas, nos Estados Unidos. É também autora, entre outros, de Viagem (1939), Vaga Música (1942), Doze Noturnos de Holanda e O Aeronauta (1952) e Mar Absoluto (1945).
O GUIA DO ESTUDANTE tem um podcast focado nas obras obrigatórias dos vestibulares, o Marca Texto. Na primeira temporada conversamos com com professores do curso pré-vestibular Anglo sobre os livros cobrados na Fuvest, inclusive Romanceiro da Inconfidência. No episódio do link, você encontra o resumo, interpretação, contexto histórico e análise de personagens da obra. Dá o play e bom estudo!
Título: Romanceiro da Inconfidência
Autor: Cecília Meireles
Esse texto faz parte do especial “100 Livros Essenciais da Literatura Brasileira”, publicado em 2009 pela revista Bravo!
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