– Leia a análise de São Bernardo
Criado por uma negra doceira, Paulo Honório foi um menino órfão que guiava um cego e vendia cocadas durante a infância para conseguir algum dinheiro. Depois começou a trabalhar na duro na roça até os dezoito anos. Nessa época ele esfaqueia João Fagundes, um homem que se envolve com a mulher com quem Paulo Honório teve sua primeira relação sexual. Então é preso e durante esse período aprende a ler com o sapateiro Joaquim. A partir de então ele passa somente a pensar em juntar dinheiro.
Saindo da prisão, Paulo Honório pega emprestado com o agiota Pereira uma quantia em dinheiro e começa a negociar gado e todo tipo de coisas pelo sertão. Assim, ele enfrente toda sorte de injustiças, fome e sede, passando por tudo isso com muita frieza e utilizando de meios antiéticos, como ameaças de morte e roubo. Após conseguir juntar algumas economias, retorna a sua terra natal, Viçosa, com o desejo de adquirir a fazenda São Bernardo, onde tinha trabalhado.
Para tanto, Paulo Honório inicia uma amizade falsa com Luís Padilha, herdeiro de São Bernardo. Luís era um moço apaixonado por jogo, mulheres e bebida, e aos poucos Paulo consegue conquistar a confiança dele. Inexperiente, Luís Padilha começa a financiar projetos que não trarão sucesso incentivado por Paulo Honório, que fazia tudo isso com a intenção de fazer Luís Padilha ficar falido financeiramente. Tendo sucesso em seu plano, Paulo consegue comprar a fazenda São Bernardo por um preço irrisório.
Com a ajuda de seu amigo Casimiro Lopes, Paulo Honório manda matar Mendonça, fazendeiro vizinho, e consegue expandir os limites das terras da São Bernardo. Através de empréstimos bancários, investe em máquinas e na plantação de algodão e mamona. Para escoar seus produtos, Paulo Honório constrói estradas e passa a se dedicar cada vez mais ao trabalho. E, para conseguir obter tudo isso, ele comete as maiores injustiças e utiliza de todos os meios que puder, garantindo impunidade através de uma grande rede de relacionamentos. Seus ajudantes são: Gondim, o jornalista local; o padre Silvestre; e o advogado Nogueira, que manipula os políticos locais.
Com a fazenda em ótima situação, Paulo Honório contrata o Seu. Ribeiro para cuidar das contabilidades, contrata Luís Padilha como professor e constrói uma escola para alfabetizar os empregados e agradar ao governador do Alagoas. Além disso, manda buscar a negra doceira que o havia criado, a velha Margarida, arranjando moradia para ela na São Bernardo.
Um dia Paulo Honório percebe que precisa de um herdeiro para suas ricas terras e por conta disso resolve se casar. Pensa nas filhas e irmãs de seus amigos, mas nenhuma lhe agrada. Então, um dia conhece a professora primária Madalena na casa do juiz Magalhães. Da mesma forma determinada como conseguiu obter e administrar sua propriedade, Paulo Honório convence Madalena a se casar com ele.
Após o casamento a moça e sua tia Glória mudam-se para a fazenda e o rico fazendeiro vai percebendo que a rotina na São Bernardo começa a se alterar. Madalena se interessa pela vida dos empregados e dá opiniões sobre as condições precárias do professor Padilha, exigindo a compra de materiais escolares. Além disso, ela passa a dividir as tarefas de escrituração com Ribeiro.
Paulo Honório, que imaginava Madalena como uma mulher frágil e normalista, incomoda-se profundamente com o comportamento da moça e então começam as brigas do casal, que evidenciam a personalidade violenta do fazendeiro. Não conseguindo dominar a mulher como controlava todos, Paulo Honório se torna cada vez mais agressivo com todos e revela um ciúmes excessivo. Mesmo o nascimento do filho não ameniza o ciúmes que sente de Madalena e suas desconfianças de traição.
Certa noite, o juiz Magalhães visita o casal e conversa animadamente com Madalena. Isso deixa Paulo Honório com mais ciúmes ainda e ele fica se atormentando durante a madrugada imaginando o prazer que um intelectual poderia despertar na esposa. Comparando-se ao juiz, sente-se bruto e inculto e chega à conclusão de que a traição era inevitável e Madalena grosseiramente.
No dia seguinte Paulo Honório vê a esposa muito abatida escrevendo uma carta direcionada a Azevedo Gondim e novamente se descontrola exigindo explicações. Ela então rasga a carta e o chama de assassino. Depois, ele se arrepende do que fez, mas não esquecendo o insulto recebido, convenceu-se de que Padilha havia contado algo para Madalena e resolve expulsá-lo. Porém, o professor diz que é fiel e obediente a Paulo Honório e que ela deve ter ouvido as histórias por meio da população local.
E assim Paulo Honório vai ficando cada vez mais paranoico em relação a suposta infidelidade da mulher e se torturava ao som de passos imaginários durante a noite e outros delírios. Enquanto isso, Madalena sofria e sua solidão só aumentava, sentindo-se humilhada e sem dignidade. Por fim, perde o interesse pelo próprio filho.
Um dia Paulo Honório, ao contemplar orgulhoso sua propriedade do alto da torre da igreja, vê Madalena escrevendo. Ele desce, confere o trabalho dos empregados e acha uma folha no chão. Lendo e relendo o trecho escrito, Paulo Honório tem certeza que é uma carta endereçada para um homem e é tomado por intenso ódio.
Então ele sai atormentado à procura da esposa e a encontra na igreja com uma aparência muito calma. Ele exige explicações, mas ela lhe diz muito desanimada que o restante das folhas estava no escritório. Por fim, ela lhe pede perdão por todos os aborrecimentos e diz que o ciúmes estragou a vida dos dois. Paulo Honório passa a noite sozinho no banco da sacristia.
Chegando em casa no dia seguinte, ele ouve gritos e descobre que Madalena havia se suicidado. Ela havia deixado sobre a bancada uma carta de despedida para o marido, sendo que faltava uma página, justamente aquela que ele havia encontrado no chão no dia anterior.
Após a morte de Madalena, D. Glória e Seu. Ribeiro deixam a fazenda. Luís Padilha junta-se os revolucionários para lutar na Revolução de 30 e também deixa São Bernardo. O juiz Magalhães é afastado do cargo e os limites da fazenda passam a ser contestados judicialmente. Com tudo isso, Paulo Honório se encontra abandonado.
Por fim, em meio a solidão e somente com a companhia de Casimiro Lopes e seu cachorro, Paulo Honório escreve sua narrativa. Amargurado pelo passado, toma consciência da desumanização por que passou enfrentando a dureza do sertão. Incapaz de mudar, Paulo Honório busca algum sentido para a sua vida refletindo sobre o passado e escrevendo sua história sentado à mesa da sala, fumando cachimbo e bebendo café.
Lista de personagens
Paulo Honório: personagem central e narrador do livro. Homem rude e violento, dá sua vida ao trabalho. Para conseguir o que quer, não mede esforços e nem meios, vindo a praticar diversos atos antiéticos.
Negra Margarida: doceira que cuidou de Paulo Honório durante a infância.
Salustiano Padilha: ex-dono da fazenda São Bernardo e pai de Luís.
Luís Padilha: após a morte do pai herdou a fazenda, mas se entregou à bebida, jogos e às mulheres. Vítima dos planos de Paulo Honório, vê-se endividado e é obrigado a vender a fazenda.
Madalena: professora primária que fora criada pela tia. Casa-se com Paulo Honório. Instruída e educada, tem opinião própria e forte, o que desagrada a seu marido.
Dona Glória: tia de Madalena.
Seu Ribeiro: senhor que trabalha na fazenda. Fica próximo de Madalena.
Joaquim Sapateiro: ensina Paulo Honório a ler na prisão.
Azevedo Gondim: jornalista amigo de Paulo Honório. Havia sido encarregado de escrever as histórias do narrador, mas por utilizar uma linguagem mais erudita, desentende-se com Paulo Honório.
Casimiro Lopes: amigo antigo de Paulo Honório, executa as ordens dele sem pestanejar.
Mendonça: dono da fazenda Bom-Sucesso, é assassinado para que Paulo Honório possa aumentar as áreas de sua fazenda.
Dr. Magalhães: juiz amigo de Paulo Honório.
Sobre Graciliano Ramos
Graciliano Ramos de Oliveira nasceu em Quebrangulo, Alagoas, em 27 de outubro de 1892. Terminando o segundo-grau em Maceió, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como jornalista durante alguns anos. Em 1915 volta para o Alagoas e casa-se com Maria Augusta de Barros, que falece em 1920 e o deixa com quatro filhos.
Trabalhando como prefeito de uma pequena cidade interiorana, foi convencido por Augusto Schmidt a publicar seu primeiro livro, “Caetés” (1933), com o qual ganhou o prêmio Brasil de Literatura. Entre 1930 e 1936 morou em Maceió e seguiu publicando diversos livros enquanto trabalhava como editor, professor e diretor da Instrução Pública do Estado. Foi preso político do governo Getúlio Vagas enquanto se preparava para lançar “Angústia”, que conseguiu publicar com a ajuda de seu amigo José Lins do Rego em 1936. Em 1945 filia-se ao Partido Comunista do Brasil e realiza durante os anos seguintes uma viagem à URSS e países europeus junto de sua segunda esposa, o que lhe rende seu livro “Viagem” (1954).
Artista do segundo movimento modernista, Graciliano Ramos denunciou fortemente as mazelas do povo brasileiro, principalmente a situação de miséria do sertão nordestino. Adoece gravemente em 1952 e vem a falecer de câncer do pulmão em 20 de março de 1953 aos 60 anos.
Suas principais obras são: “Caetés” (1933), “São Bernardo” (1934), “Angústia” (1936), “Vidas Secas” (1938), “Infância” (1945), “Insônia” (1947), “Memórias do Cárcere” (1953) e “Viagem” (1954).