Quem leu o noticiário recentemente deve ter se deparado com a novidade de que a população indígena no Brasil cresceu 88,8% entre a realização dos dois últimos Censos. No Censo 2010, constava que o país tinha 896,9 mil pessoas que se declararam indígenas. Já no Censo 2022, realizado no ano passado com algum atraso, esse número saltou para quase 1,7 milhão – 1.693.535 pessoas, para ser exato.
Esses dados, porém, enganam. O grande avanço numérico não se deu ao fato de a população indígena ter aumentado. “Não é que nasceu muita gente indígena e morreu pouca”, declarou Marta Antunes, coordenadora do Censo de Povos e Comunidades Tradicionais do IBGE, ao jornal Folha de São Paulo. A variação foi grande por que a metodologia do Censo 2022 foi diferente da do anterior: ou seja, foram feitas perguntas diferentes, em contextos diferentes, que acabaram acarretando em mais pessoas se declarando dessa etnia.
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O método importa
Em ambas as edições do Censo, uma pessoa só foi contabilizada como indígena quando ela fazia a auto-declaração. As opções apresentadas à pergunta “Qual é a sua cor ou raça?” eram “branca, preta, amarela, parda ou indígena”. Em 2010, quando uma pessoa estava em uma localidade delimitada oficialmente como Terra Indígena e se declarava branca, preta, amarela ou parda, o recenseador em seguida fazia uma pergunta extra: “você se considera indígena?”.
Em 2022, a segunda pergunta também foi feita, mas não apenas em Terras Indígenas demarcadas oficialmente – e, sim, em qualquer território considerado indígena. Isso incluiu terras oficialmente delimitadas, mas também agrupamentos indígenas e outras localidades, como aldeias ou cidades. Ou seja, a nova edição do Censo deu a mais gente a oportunidade de se autodeclarar indígena – o que acabou acontecendo.
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Outra diferença foi que o Censo 2022 se aproximou mais das lideranças dos povos originários e guias comunitários para esclarecer a importância de responder às perguntas do recenseamento. Isso pode ter facilitado o acesso a mais pessoas nessa categoria, e aumenta a precisão dos dados.
O que os números não mostram
Apesar do aumento considerável de população, a situação dos povos originários do Brasil segue sendo delicada. Na verdade, nos últimos anos, os indígenas seguiram enfrentando ameaças à sua existência. Uma delas, foi a pandemia de Covid-19, que matou desproporcionalmente mais pessoas entre os povos originários, devido ao pior acesso ao sistema de saúde, o atraso das vacinas e à menor exposição a doenças sazonais e novas, como era o caso da Covid.
Outra grande ameaça vivida por essa população foi a crise humanitária que os Yanomami enfrentaram nos últimos anos. Em janeiro de 2023, o Ministério da Saúde declarou estado de Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional no território yanomami, a maior terra indígena do Brasil. O motivo foram as condições em que os indígenas dessa etnia foram encontrados por profissionais da saúde, com sinais graves de desnutrição, malária e infecção respiratória. A desassistência por parte de órgãos federais teria sido a principal causa da crise sanitária.
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O último Censo aponta que mais de metade das pessoas que se declara indígena (cerca de 51%) está na Amazônia Legal, uma região que abarca 770 municípios das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. O estado com maior população originária é o Amazonas, com 490,9 mil pessoas, seguido da Bahia, com 229 mil.
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