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Influencer: como gerar impacto na internet com carreiras tradicionais

A médica Isabella Faria e a bacharel em história Fernanda Vianna falam sobre a importância de dividir seus aprendizados e rotinas nas redes sociais

Por Redação do Guia do Estudante
7 set 2020, 10h04

A popularização da internet e das redes sociais gerou uma série de novas oportunidades de carreira que até então não existiam no mercado tradicional. Uma delas, ainda envolta em muitos estigmas e desconhecimento, é a atividade de influencer. E não é preciso ser uma grande celebridade para influenciar, mesmo quem exerce profissões mais tradicionais pode gerar grande impacto nas redes sociais. Para esclarecer um pouco mais sobre como isso funciona, o Na Prática convidou as influenciadoras Fernanda Vianna e Isabella Faria para compartilharem experiências sobre o trabalho.

Profissão influencer: o início

Dona do instagram Fala Fernanda, Fernanda Vianna começou criar conteúdo para a internet há seis anos, enquanto estudava para o vestibular. “Comecei a compartilhar minha rotina de estudo e comentar sobre dicas de estudo e aprendizagem. Foram chegando mais pessoas aos poucos. Foram 5 anos construindo a plataforma, mas só no passado decidi levar a sério as redes sociais como carreira mesmo. Hoje consigo me sustentar com o curso que ofereço de processos de aprendizagem. As redes sociais são uma ferramenta para chegar ao produto final”, explica.

Formada em história e até então professora do ensino básico, Fernanda revela que inicialmente não tinha ideia que ser influencer poderia ser uma opção de carreira. “Mas eu tinha uma demanda reprimida, quem me seguia já queria mais conteúdo. Quando resolvi levar mais a sério, comecei a estudar marketing digital e me profissionalizar para formar o curso. Depois da primeira turma, vi que amava fazer aquilo. Como eu costumava dar aula, sempre me preocupei muito em estudar como funcionava o cérebro em termos de aprendizagem para ajudar meus alunos. O que eu fiz foi pegar esse conhecimento de anos e recalibrar o caminho. Ao invés de ensinar história, ensino a aprender a aprender e estudar efetivamente”, esclarece.

Isabella Faria também começou de maneira parecida como influencer, no ano passado. Criadora de conteúdo da página The Brazilian MD, ela começou a compartilhar dicas de estudo enquanto se preparava para entrar na faculdade de medicina. “Eu postava muito no meu instagram pessoal quando estava estudando, mas senti que não era o local para compartilhar aquilo. Então tive a ideia de criar um perfil só para compartilhar coisas relacionadas a estudo. Inicialmente era algo mais para mim e para os meus amigos. Não tinha essa pretensão de ser um perfil grande”, revela.

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Mas, de forma natural, um grande número de seguidores começaram a chegar até Isabella, interessados em suas dicas de estudo e em acompanhar sua vida como estudante de medicina. “Fui postando cada vez mais porque as pessoas gostavam. Quanto mais gente chegava, mais eu ganhava segurança para me dedicar ainda e compartilhar dicas, minha rotina e abrir para perguntas. Quando eu vi, já tinha muito seguidores. Não planejei de início mas por causa da minha história na faculdade as pessoas foram se interessando. As dicas acabam sendo mais voltadas para medicina porque é o meu mundo, mas eu gosto de dicas que possam atingir outras pessoas. Falo muito de produtividade e desenvolvimento pessoal também e isso serve para todo mundo”, aponta.

Influenciando na prática

Quem pensar que ser influencer é uma tarefa fácil está enganado. Fernanda e Isabella concordam que a profissão demanda muito tempo, organização e que pode ser difícil ver o retorno de todos os esforços. “Eu já cheguei a dar aula de manhã até a noite e acredito que hoje eu trabalho mais como influencer. Por trás de um único post tem muita coisa envolvida. Desde registrar a ideia, pensar na foto, tirar a foto, o que demanda várias tentativas, editar, escrever o texto, revisar até de fato subir. Isso é só para um post. As demandas mudam se for um vídeo, um áudio, uma live, uma leitura guiada ou um IGTV. São vários processos que demandam muito preparo, que também envolve fazer calendário, pensar em linha editorial e estudar sobre o que você vai falar”, releva Fernanda.

Ela ainda complementa que as coisas sempre podem mudar e se reinventar no meio do caminho. “Às vezes você pensa em fazer algo em um formato, mas depois decidi por outro diferente para ser melhor para o público. Essa é um pouco da graça, tudo está sempre mudando. Vejo muito beleza nesse processo e fico muito satisfeita, mas as pessoas não tem ideia do trabalho que tudo demanda. Além disso, eu pessoalmente tenho uma preocupação de me manter muito presente, respondendo todos os comentários. E muitas vezes existe uma desvalorização do criador de conteúdo pelas marcas. Há um pouco de receio de falar sobre isso e reclamar publicamente. Mas é algo que deixa a gente chateado”, compartilha.

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Já Isabella ainda precisa conciliar o trabalho de influencer com as funções de médica generalista e os estudos para a residência. “Sempre gostei de fazer várias coisas ao mesmo tempo. Quanto mais coisa, mais motivada eu fico. Mas é difícil conciliar as duas coisas. São rotinas muito longas. Então é fundamental se organizar, ter uma agenda para anotar tudo. Gostaria de ser mais constante, mas a gente acaba tendo que fazer o que dá com o tempo que a gente tem. Além disso, existe o desafio de passar credibilidade. Você tem que apresentar muito bem quem você é, porque está ali falando e por quê as pessoas deveriam escutar. No início, é bem difícil, mas com o tempo a gente aprende”, pondera.

A médica também analisa que pelo fato da profissão de influencer ser algo relativamente novo ainda há muito o que descobrir sobre a prática. “Conheço muitas pessoas que largaram a medicina para se torarem influencers em tempo integral porque demanda muito tempo. Mas para quem gosta é interessante e acaba tendo um retorno bom quanto mais trabalho você tem. É uma carreira que está começando mesmo. Eu não sentiria segurança de fazer só isso, mas é uma forma legal de você mostrar sua outra carreira para o mundo, com base no seu trabalho de influencer. Você consegue mostrar seu dia a dia, os lados bons e ruins da profissão, é algo legal. Mas ainda falta um pouco de respeito para os profissionais da área, inclusive com remunerações baixas”, observa.

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A responsabilidade do influencer

Por causa do impacto e o alcance que o conteúdo do influenciador pode atingir, existe uma preocupação muito grande com o que deve (ou não) ser compartilhado pelas profissionais. Fernanda indica que tenta escolher muito bem o que fala e mostra. “Não quero transparecer que sou uma super-heroína por isso também mostro quando não consigo fazer o que me propus e minhas vulnerabilidades. Tento sempre ser transparente. Meu público, em geral, são pessoas acima de 25 anos então essa questão é mais tranquila. Mas tomo cuidado para não fazer promessas infundadas, não colocar achismos, nem nada como máxima”, exemplifica.

Ainda que exista essa preocupação com o que é vendido nas redes sociais, Fernanda opina que o trabalho de influencer, principalmente relacionado à profissões mais tradicionais, é muito interessante para disseminar conhecimento. “As redes sociais aproximam muito as pessoas e você aprende coisas que talvez no convívio normal não aprenderia, porque essa não é a proposta. Isso tem proporcionado um crescimento grande para as pessoas porque a gente consome conteúdo de várias áreas e pode aproveitar esse conhecimento na nossa vida. O profissional, quando vira um influenciador, agrega muito para ele e para os outros. Ele se humaniza e se torna acessível. Você aumenta seu alcance e democratiza o acesso à informação”, examina.

Isabella afirma que sempre pensa duas ou três vezes antes de postar algo, principalmente em conteúdos relacionados à prática médica. “Me preocupo em seguir as regras do conselho de medicina e da ética médica. Mesmo quando é algo da minha rotina, não necessariamente médico. Sei que tenho que tomar um cuidado maior. Por ser algo muito novo, qualquer coisa que exponha a mais, enquanto ainda estamos entendendo toda essa exposição das mídias sociais, pode ser ruim para a carreira e pode ser mau interpretado. Realmente é algo que penso muito e temos que tomar cuidado porque é a nossa vida, o nosso dia a dia. Mas quando fazemos as coisas corretas e com éticas acho difícil que a gente se arrependa depois”, observa.

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De forma complementar, a médica opina que o impacto que um influencer tem na vida das pessoas é muito considerável, independente do tamanho do seu perfil. “Se ele tem um conteúdo informativo e que ajuda os outros, o impacto no indivíduo é grande. Claro, que quanto mais seguidores você tem, normalmente mais pessoas você consegue impactar. Mas vai muito além de números. Você acaba ajudando as pessoas em uma escala macro. Eu comecei querendo compartilhar conhecimento. Acaba que o influenciador também tem muitos ganhos pessoais no quesito de desenvolvimento pessoal e isso é bem legal”, garante.

O que é preciso para trabalhar na área?

Para quem tem interesse em explorar essa área de atuação, as influencers indicam algumas habilidades e conhecimentos que podem contribuir com o processo. Fernanda aponta que é preciso entender como as plataformas funcionam, o básico de marketing digital e como fazer conteúdos diferentes em canais distintos. “Acho importante sempre pedir feedback para produzir conteúdo. Às vezes, você acha algo importante mas o público não quer saber disso. Você também precisa ter constância porque disputa atenção com muita gente. Sugiro uma organização básica para registrar ideias e se planejar. Além disso, é importante ser acessível. Lidamos com pessoas, então é preciso ter educação, sinestesia e tentar deixar tudo o mais humano possível”, recomenda.

Isabella cita que entender de marketing pessoal, edição de imagens e saber se vender são importantes para o influencer. “Isso ajuda as pessoas a te escutarem. Você precisa saber se apresentar, ainda que seja falando com uma câmera. O networking também é algo valioso que você acaba desenvolvendo. Então, você conseguir desenvolver essas conexões em ambiente digital é muito relevante. Saber sintetizar o que você quer dizer também é importante para as redes sociais. Um bom primeiro passo é estudar profissionais da área que você quer atuar para entender como eles trabalham. Depois, só começa. Vai sem vergonha e sem medo. Todo mundo começa do zero e vai aprendendo, testando e se encontrando”, divide.

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A médica enxerga que existe ainda muito estigma na profissão, mas que os profissionais do setor trabalham duro pelo seu reconhecimento. “Uma das concepções mais erradas vem do termo blogueirinha, que é muito usado no sentido pejorativo. As pessoas consideram que quem está se expondo nas redes sociais muitas vezes é fútil, não tem conteúdo de valor para entregar e ganha dinheiro fácil. Como se o que vem não fosse fruto de trabalho duro e qualquer um consegue ganhar muito dinheiro de forma rápida. Mas a verdade é que não é assim. Não tem dinheiro e fama rápido. Demanda muito esforço e tempo. É preciso levar isso em consideração. Mas temos muita gente boa no mercado produzindo conteúdo relevante”, afirma.

E ainda que muitas pessoas acreditem que o mercado esteja saturado, Fernanda compartilha a visão de que sempre haverá espaço para quem produz conteúdo de qualidade. “Se você tem comprometimento e resolve os problemas e as dores de alguém, tem espaço. Foque em produzir de forma relevante. Fale sobre coisas que sejam importantes para quem você quer atingir e esteja sempre atento ao que seu publico quer. É muito positivo o contato e o retorno que você tem sobre o seu trabalho. O trabalho do influencer hoje não se trata tanto de números, mas da interação. Atrás de cada número tem uma pessoa. Então, foque no conteúdo. É isso que vai alavancar seu potencial como influenciador”, garante.

Este texto foi originalmente publicado no portal Na Prática, parceiro do Guia do Estudante.

 

 

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