Segundo um levantamento feito em 2015 pela Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED), há mais de 5 milhões de brasileiros fazendo um curso EAD. Do total, cerca de 30% são cursos regulamentados de graduação e pós-graduação, e o restante engloba cursos livres de extensão e aprimoramento.
Apesar do elevado número de estudantes e de ofertas de cursos, muitas dúvidas podem persistir a respeito dessa modalidade de ensino. Para esclarecê-las, o Guia do Estudante realizou um bate-papo com Fernanda Furuno, especialista em educação a distância (EAD), uma das fundadoras do portal Guia EAD Brasil e integrante do conselho da ABED – Associação Brasileira de Educação a Distância. Fernanda tem experiência de quase 20 anos atuando com EAD em instituições de ensino superior, e também acompanhando as tendências de mercado.
Leia a entrevista a seguir e assista ao bate-papo que aconteceu ao vivo nos estúdios da Editora Abril.
Guia do Estudante: Fernanda, quais características um curso precisa ter para ser considerado a distância?
Fernanda: Um curso é considerado a distância quando o processo de ensinar e aprender ocorre quando estudantes e profissionais da educação não necessariamente estão reunidos ao mesmo tempo ou no mesmo espaço, e contam com a utilização de recursos tecnológicos de informação e comunicação, para possibilitar interações e práticas de estudo propostos por uma equipe multidisciplinar (composto equipes técnicas e pedagógicas), e que em geral tem acompanhamento e avaliação da aprendizagem.
GE: A que você atribui o crescimento dessa modalidade? E existe um perfil de aluno específico que procura a opção EAD?
Fernanda: De acordo com uma pesquisa realizada pela ABED e divulgada no ano passado, com dados de 2015, mais de 5 milhões de brasileiros estudam a distância, sendo que aproximadamente 30% no ensino formal (graduação e pós-graduação) e 70% nos cursos livres de extensão e aprimoramento (cursos de línguas, habilidade e competências específicas, tecnologia etc.). Esses indicadores apontam que há realmente uma grande aceitação pelo público, que atualmente tem cada vez mais acesso à internet e dá valor à mobilidade, flexibilidade de tempo e necessidade de aprimoramento. Além disso, há cada vez mais ofertas de instituições e empresas oferecendo produtos voltados a aprendizagem online.
GE: O que o aluno deve observar na hora de escolher um curso nessa modalidade?
Fernanda: Recomendo que o primeiro ponto de atenção seja identificar se a metodologia atende o que os alunos estão procurando. É muito importante que eles tenham conhecimento dos recursos disponibilizados (conteúdo programático, atendimento, acompanhamento, atividades, tempo de duração, tempo de dedicação estimada, material didático, certificação, formas de pagamento…). Assim, alinham expectativas com a realidade e tendem a ter mais sucesso. No caso dos cursos superiores, é muito importante que os alunos se certifiquem de que a instituição é credenciada para a oferta de cursos superiores a distância pelo MEC. Essa informação está disponível no site https://emec.mec.gov.br/, e geralmente também consta nos sites das instituições.
GE: O curso de graduação a distância é indicado para todos ou o aluno precisa ponderar a respeito das características específicas desta opção?
Fernanda: Eu acredito que quando o aluno se certifica de que o curso é o que ele está decidido a fazer e está de acordo com a metodologia proposta, há mais chance de conclusão. É muito importante a consciência de que nos cursos a distância (assim como nos cursos presenciais) os alunos podem encontrar algumas dificuldades no percurso, mas a persistência, dedicação, organização, concentração e foco são determinantes para alcançarem o que desejam.
GE: Muitos alunos receiam a distância entre o professor e a própria turma. Isto é um problema mesmo nos cursos EAD ou existem alternativas para eliminar essa barreira?
Fernanda: Tendo acompanhado várias experiências, acredito que essa colocação seja um preconceito em relação à modalidade. Nos cursos superiores a distância em geral há muito incentivo à interação entre alunos e docentes e tutores. Seja por meio de atividades, canais específicos de contato, ou por conferências virtuais que são muito comuns nessa modalidade. O que pode ocorrer é a falta de iniciativa do aluno em entrar em contato com seus pares e professores, tutores ou coordenadores… mas essa é uma opção do aluno. E isso também ocorre na modalidade presencial: há alunos introspectivos que não se propõem a interagir. De qualquer forma, já nos primeiros contatos da turma, em geral, os alunos já criam redes de comunicação formal ou até informais para se comunicarem.
GE: Existe o mito de que um curso EAD é mais “fácil” do que um presencial. Isso procede?
Fernanda: Bom, em minha experiência o que geralmente acontece é o oposto: os alunos muitas vezes se surpreendem ao ver que os cursos são muito exigentes. Isso porque todo o modelo pedagógico é de fato desenhado para estimular a melhor experiência e aprendizagem, e o plano de ensino de todas as disciplinas do curso é contemplado pelos materiais didáticos disponibilizados. O processo de avaliação final é presencial (o que é uma exigência do MEC) e todas as diretrizes curriculares nacionais de cada curso são cumpridas, incluindo aulas práticas e estágios (de acordo com cada curso).
GE: Atualmente, o aluno pode escolher entre muitas opções de cursos EAD. Existe também a possibilidade de optar por um curso que seja parte presencial e parte a distância?
Fernanda: Sim, há uma variedade enorme de cursos disponíveis, desde os cursos de Pedagogia e Administração, que são os mais populares, como Gastronomia ou Engenharia. Pelo MEC há dois tipos de cursos: presenciais e a distância. Mas muitas instituições estão diversificando a oferta oferecendo cursos presenciais, semi-presenciais e a distância. Os semi-presenciais em geral, são cursos a distância com uma carga horária presencial maior (por exemplo, duas aulas semanais presenciais). Aulas práticas também compõem encontros presenciais de acordo com curso e provas presenciais são obrigatórias nos cursos a distância (realizadas na instituição ou em seus polos). É importante também ressaltar que a legislação permite que os cursos presenciais tenham até 20% da carga horária total do curso com oferta a distância. Por esse motivo, vários alunos têm disciplinas ou parte delas online em seus cursos presenciais.
GE: Uma dúvida recorrente dos alunos é em relação ao mercado de trabalho. Existe algum tipo de preconceito em relação a quem opta por um curso EAD em vez do presencial?
Fernanda: É importante ressaltar que não há diferença entre o diploma de um curso presencial e um curso a distância. Assim como a aprendizagem e o aproveitamento dos alunos, tudo depende muito mais do interesse de cada um do que propriamente da metodologia. Também a experiência profissional aliada à teoria é algo que os empregadores estimam bastante. E muitos alunos EAD já estão colocados no mercado de trabalho ou já tem uma experiência profissional interessante nas áreas de formação. Além disso, a disciplina, a habilidade de comunicação e o compromisso com a “entrega” dos alunos que estudam a distância são características importantes que podem ser um diferencial na hora da contratação. Cada vez mais as empresas buscam profissionais mais autônomos e comprometidos com a execução do trabalho longe da empresa ou de sua supervisão “presencial”.