A prova de redação é, para muitos, a parte mais temida do vestibular. O tema é descoberto na hora e, por mais que o candidato domine o assunto, o recorte dado pela banca faz toda a diferença no direcionamento do texto.
A coletânea dá o tom da discussão que será apresentada e, junto com o repertório do candidato, forma o texto que será entregue.
Nesse contexto, você já parou para analisar quais os temas deram mais dor de cabeça aos candidatos que prestaram Fuvest ao longo dos últimos anos?
Conversamos com o professor e autor do Sistema de Ensino pH, Thiago Braga, para levantarmos quais os temas mais complexos propostos pela Fuvest nos últimos anos e explicarmos no que consiste a maior dificuldade de cada um. Confira:
2019: “De que maneira o passado contribui para a compreensão do presente?”
O tema de 2019 trata da relação entre a valorização do passado e o entendimento do presente. Segundo Braga, ele pode ser considerado complexo por ser extremamente amplo.
“O estudante poderia decorrer sobre memória, fatos do passado e muitas outras coisas relacionadas ao tema. Por mais que os textos da coletânea possibilitassem um direcionamento, a abrangência poderia efetivamente prejudicar a tangência do tema”, explica.
Diversos raciocínios que o estudante construísse para desenvolver o texto poderiam gerar a fuga do que foi proposto, e a banca é bastante criteriosa a respeito disso. Outra dificuldade era fazer a própria conexão entre o passado e o presente.
2016: “As utopias: indispensáveis, inúteis ou nocivas?”
“O tema de 2016 também entra na lista porque fala de utopia, o inalcançável, o não-lugar. A complexidade do próprio conceito já torna difícil seu desenvolvimento”, diz Braga.
Poderia ser complicado para o candidato entender a relação filosófica da utopia com a realidade. “O estudante pode ter dificuldade de chegar na ideia de que o ser humano pode mirar no impossível para alcançar, dentro do possível, o máximo de possibilidades”, explica.
Por ser algo filosófico e genérico, a proposta também fazia o estudante correr o risco de não escrever sobre o que a banca propôs.
2015: “‘Camarotização’ da sociedade brasileira: a segregação das classes sociais e a democracia”
“O tema de 2015 tem uma complexidade ligada a uma não definição do próprio tema sobre qual parte da sociedade é ou está sendo ‘camarotizada’, dando, novamente, um caráter muito genérico à proposta”, diz Braga.
Por ser um tema que dá muitas possibilidades, quando o candidato se vê diante disso há uma tendência de ele não conseguir desenvolver uma linha de raciocínio coesa no texto.
2011: “O altruísmo e o pensamento a longo prazo ainda têm lugar no mundo contemporâneo?”
O tema de 2011, “O altruísmo e o pensamento a longo prazo ainda têm lugar no mundo contemporâneo?”, carrega uma dificuldade natural que é o conceito de pensamento a longo prazo. Para Braga, o estudante precisaria determinar o que seria esse tempo.
Ele precisava se desprender de um pensamento comum para delinear uma linha de trabalho que possibilitasse a construção da dissertação.
2010: “Imagem e Realidade”
De todos esses temas elencados até agora, o de 2010 (“Imagem e Realidade”), segundo o professor, foi certamente o mais difícil.
O estudante deveria escolher imagens que são construídas sobre pessoas, fatos, livros, instituições ou situações, tendo como base a afirmação de que é comum substituir o real e o imediato por essas imagens. Em resumo, a banca pedia a construção de uma relação entre essas imagens e a realidade de fato.
“A complexidade do tema proposto fala por si. Os textos da coletânea falam sobre imaginação simbólica e como nós não nos relacionamos diretamente com a realidade.”
Braga explica que, primeiro, o candidato deveria ter uma capacidade de abstração e de análise muito alta. Depois, pragmatismo para transformar suas ideias em uma abordagem prática no desenvolvimento do texto. E tudo isso com argumentações fundamentadas na linha de raciocínio construída.
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