3 fatos sobre o desempenho de cotistas nas universidades
Será que eles realmente pioram a qualidade das universidades, como apontam críticos? Veja o que dizem as pesquisas
A sanção de uma lei há pouco mais de 22 anos transformou completamente as salas de aula das universidades brasileiras. A chamada Lei de Cotas estipulou que, todos os anos, pelo menos 50% das vagas ofertadas pelas universidades federais devem ser destinadas a estudantes vindos de escolas públicas. Essa metade das vagas é ainda subdividida, com uma reserva específica para alunos pretos, pardos e indígenas (PPI).
A iniciativa para incluir a população negra nas universidades têm funcionado: o número de matrículas pelas cotas étnico-raciais cresceu 266,4% de 2012 a 2023, segundo o último Censo da Educação Superior. Mas a política ainda não é consenso entre a população. Em pesquisa do DataFolha divulgada no início deste ano, 83% disseram concordar com as cotas sociais – ou seja, pelo critério de renda –, mas só metade está de acordo com o critério racial.
Quando o assunto são cotas, ainda há uma crença de que elas burlam a lógica meritocrática, promovem uma suposta discriminação de certos grupos ou, ainda, pioram a qualidade das universidades ao aprovar alunos despreparados. Mas nada disso tem respaldo na ciência.
Veja abaixo três dados sobre o desempenho de cotistas nas universidades, revelados por pesquisadores.
1. Ao final da graduação, cotistas e não-cotistas têm o mesmo desempenho
Adriano Senkevics, pesquisador do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) e especialista em Gestão de Políticas Públicas pela UnB (Universidade de Brasília), é um dos que estudam o assunto e afirma: o desempenho dos cotistas não é inferior aos de seus colegas que ingressaram sem cotas – ao menos no final do curso. Diversas pesquisas apontam que há, sim, uma defasagem inicial, mas que ela é superada ao longo da graduação.
Em entrevista ao GUIA DO ESTUDANTE, o professor da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e especialista em Ações Afirmativas, Marcelo Henrique Romano Tragtenberg, explicou que os cotistas podem até mesmo superar seus pares. Segundo ele, nos cursos de Engenharia da UFSC esse grupo chega a ter uma nota 0,6% maior no último semestre.
2. Mais cotistas chegam até o final do curso
O último Censo da Educação Superior, divulgado em outubro deste ano, indicou que, comparado aos não-cotistas, estudantes que ingressaram pelas cotas étnico-raciais nas universidades federais tem uma taxa maior de conclusão do curso. Enquanto 51% deles se formam, somente 41% dos não-cotistas alcançam o mesmo feito.
O mesmo cenário se repete nas universidades privadas: se forma mais quem entra pelo Prouni (Programa Universidade para Todos) e Fies (Fundo de Financiamento Estudantil).
3. Cotistas não diminuem a qualidade das universidades
Também não há evidências de que as cotas baixem a qualidade das universidades brasileiras, como indicam críticos. Pelo contrário: pesquisadores apontam como evidência o crescente prestígio das instituições, mesmo duas décadas após a implementação das cotas.
“No último ranking da revista Times, a UFSC está em sexto lugar entre as melhores universidades da América Latina. A integração de alunos cotistas tem melhorado a qualidade da universidade porque, de forma geral, são alunos muito mais dedicados. Aproveitam a oportunidade para conseguir melhorar a própria perspectiva de vida”, afirmou Tragtenberg, da Federal de Santa Catarina, em entrevista ao GUIA DO ESTUDANTE em 2022, quando a política completava exatos 20 anos.
Em 2024, 55% dos estudantes que ingressaram na USP (Universidade de São Paulo) eram oriundos de escolas públicas. Este ano, a universidade também voltou a ocupar o topo do ranking Times Higher Education (THE) como melhor universidade da América Latina.
Questão racial foi o grande tema do Enem 2024
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