Uma clássica prova da Unicamp, bem contextualizada, cheia de atualidades e que exigia senso crítico. É assim que professores ouvidos pelo GUIA DO ESTUDANTE avaliam a primeira fase da Unicamp 2024, aplicada neste domingo (29) para mais de 60 mil candidatos de todo o país. Usando referências pop para contextualizar as questões, como a série da Netflix Wandinha, a novela Pantanal e o penteado “nevou”, a prova estabeleceu vínculos com temas sociais importantes como o racismo, a meritocracia e as desigualdades sociais de forma geral. “Candidatos que tendem a não assumir que existe o racismo estrutural, ou a própria censura, teriam dificuldade em responder algumas questões”, avalia Caê Lavor, Diretor de Ensino Médio e Avaliações do SAS.
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Em relação à construção das questões, essa primeira fase também consagrou um modelo adotado pela Unicamp ao longo das últimas edições. Embora os enunciados fossem simples e diretos, a prova exigia leitura dos candidatos – e, muitas vezes, era possível encontrar a resposta apenas a partir daí. A necessidade de interpretação de gráficos, imagens e outros gêneros textuais também é uma marca do vestibular que se repetiu.
Além da leitura, o diretor do Curso Anglo, Sérgio Paganim, também destaca como um pilar da prova o estabelecimento de relações entre diferentes tipos de texto e até assuntos. Uma questão de linguagens, por exemplo, trazia a notícia de uma mulher linchada por causa de uma fake news e pedia que o candidato associasse o acontecimento a um trecho do livro Olhos d’água, da escritora Conceição Evaristo.
Por fim, é consenso entre professores que a prova foi muito bem contextualizada, cobrando conteúdos programáticos, mas sempre associados a temas atuais e cotidianos.
Confira abaixo a análise de cada disciplina, baseada em comentários de professores do Curso Anglo, Oficina do Estudante, Poliedro Curso e SAS.
* Este texto está sendo atualizado em tempo real
Língua Portuguesa
Em Língua Portuguesa, a divisão de assuntos seguiu o padrão já velho conhecido dos estudantes: foram seis questões de interpretação de texto e linguística, e outras seis de obras literárias. Não houve grandes novidades.
No primeiro grupo, se destacou a análise de elementos não-textuais, como uma peça publicitária da Fliportela, festa literária promovida pela escola de samba Portela. Na imagem, as abas de um livro se assemelhava às asas de uma águia, o símbolo da escola carioca. Outra questão, acompanhada de uma tirinha, falava sobre algoritmos, refletindo sobre o poder que esses mecanismos dispõem de influenciar determinados comportamentos e padrões de consumo.
Nas questões envolvendo elementos textuais, podemos citar a pergunta com o texto jornalístico “Nevou no Rio”, citando o uso do verbo “nevar” para falar da tendência entre rapazes cariocas de descolorir o cabelo, os deixando em tons de branco. E também a letra da música-tema da novela “Pantanal”, canção escrita originalmente por Marcus Viana.
Já nas seis questões de Literatura, caíram as obras obrigatórias: “Seminário dos Ratos”, de Lygia Fagundes Telles, “Olhos d’Água”, de Conceição Evaristo, “O Ateneu”, de Raul Pompeia, “Tarde”, de Olavo Bilac, “Casa Velha”, de Machado de Assis, e “Carta de Achamento”, de Pero Vaz de Caminha.
A avaliação é que o nível de dificuldade da disciplina foi condizente com as últimas edições, mas exigia uma leitura muito atenta dos candidatos. Pequenos detalhes, por exemplo, poderia invalidar uma alternativa. As questões de literatura pediam relação com o texto social, histórico e conhecimentos detalhados dos personagens. A intertextualidade apareceu em mais de uma pergunta.
História
A prova de História se mostrou atual e afiada no senso crítico. Uma das questões trazia a imagem que viralizou no mundo todo com o Papa Francisco usando uma jaqueta puffer branca. A criação, gerada por inteligência artificial, foi uma das primeiras desta onda de imagens feitas por IA a rodar o mundo pela sua semelhança com a realidade. O exercício comparava a peça com uma ilustração do século 18 que buscou difamar a rainha da França, Maria Antonieta. O desenho mostrava a monarca aos beijos com uma mulher. Ambas as fotos serviram para refletir sobre o papel da desinformação e manipulação de imagens na formação do pensamento social.
Os vínculos entre temas da atualidade e momentos históricos não foram exclusividade desta questão e apareceram em diversas perguntas. A prova foi classificada como nível fácil a médio, com a inserção de temas sociais já consagrados em outras edições como o racismo e a causa indígena.
Geografia
Uma prova equilibrada entre Geografia Física e Humana, com assuntos tradicionalmente cobrados na Unicamp, mas com um rigor maior do que nas últimas edições. A prova exigia a leitura de mapas e gráficos, além do conhecimento de conteúdos como domínios morfoclimáticos, crescimento demográfico, globalização e placas tectônicas. Assuntos que aparecem com frequência, mas com uma abordagem mais complexa.
Biologia
Embora contextualizada com gráficos e imagens, a Unicamp 2024 trouxe uma prova direta e mais pragmática em Biologia. Foram abordados temas como zoologia, evolução, fisiologia humana, citologia, ecologia e botânica. De acordo com professores, as questões de biologia foram de nível médio e seguiram o padrão estabelecido pela Unicamp nos últimos anos.
Matemática
Tradicional. Essa foi a palavra usada com mais frequência pelos professores para definir a prova de Matemática desta primeira fase. Um pouco mais acessível do que a da última edição – que, na época, foi classificada como “sem questões fáceis de Matemática” – a prova manteve-se em conteúdos clássicos. Áreas, geometria plana, combinatória e probabilidade, sistemas lineares e funções foram alguns destaques. Ao contrário de disciplinas de humanidades, linguagens e até de ciências da natureza, as questões de Matemática foram mais diretas e com pouco contexto.
Física
Assim como a prova de Matemática, a de Física foi bastante tradicional e com perguntas mais diretas – ou seja, menos contextualizadas. Na avaliação de um dos professores, foi de nível mediano considerando edições anteriores, mas fácil comparada a outras disciplinas deste ano. O assunto de destaque foi Física Mecânica, mas os candidatos também se depararam com questões sobre cinemática, trabalho e energia, gases, ondulatória e eletrodinâmica.
Química
Em termos de conteúdo, a prova de Química seguiu o esperado se comparada a outras edições. Apareceram questões sobre pH, química ambiental, pilhas. O que surpreendeu, no entanto, foi o formato e distribuição da prova. Segundo professores, as questões eram altamente contextualizadas e até interdisciplinares, exigindo interpretação de gráficos, imagens e tabelas. Uma prova da área de Ciências da Natureza que exigia criticidade dos estudantes.
Filosofia e Sociologia
Apesar de cobrar autores clássicos da Filosofia e Sociologia, como Aristóteles, Epicuro e Durkheim, as questões das disciplinas exigiam, antes de tudo, que os alunos estivessem a par de assuntos da atualidade. De forma geral, não foram provas conteudistas. Assuntos como racismo e meritocracia foram destaque. “Mostrou uma relevância das matérias para a compreensão e entendimento do mundo atual”, avalia a professora do Poliedro, Marialba Maretti.
Colaboraram
Curso e Colégio Oficina do Estudante: Wander Azanha, diretor; Daniel Simões, professor de Geografia; Marcus Vinícius de Morais, professor de História; Liliane Negrão, professora de Gramática; Marcelo Perrenoud, professor de Biologia; Márcio Pantoja, professor de Inglês; Rodrigo do Carmo, professor de Matemática; Daniel Simões, de Geografia; Pietro Escobar, professor de Química; André Barbosa, professor de Literatura.
Poliedro Curso: Fábio Teixeira, professor de Física; Marialba Maretti, professora de Filosofia e Sociologia; Chrystian Monteiro e João Paschoal, professores de Literatura; Bernardo Hallack, professor de Biologia;
Curso Anglo: diretor Sérgio Paganim
SAS Plataforma de Educação: Caê Lavor, Diretor de Ensino Médio e Avaliações do SAS; Maria Adriana Carneiro Magalhães, Supervisora de Avaliações.
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