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Como arrumar lugar para morar enquanto estudar fora

Procurar com antecedência é uma boa ideia para não cair em ciladas

Por Taís Ilhéu
2 dez 2019, 16h27
 (Avatar of user Tommaso Pecchioli Tommaso Pecchioli @pecchio Tommaso Pecchioli/Uns/Reprodução)
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Imagina a cena: você está tranquilo na casa pela qual você paga aluguel quando, de repente, o dono do imóvel derruba a porta a machadadas para tentar expulsar outro inquilino que mora com você. Ou ainda: o dono do imóvel que você aluga perde-o para o banco, e você começa a receber visitas — ora dele, ora do banco — cobrando o aluguel, sem saber para quem deve pagar. São situações que podem acontecer se você não pensar em como arrumar lugar para morar enquanto estudar fora.

As duas situações foram narradas por Leonardo Pereira, executivo de marketing que mora na Irlanda desde agosto de 2015, quando foi ao país para fazer um curso de inglês. Ele não vivenciou nenhuma das duas, mas morou no imóvel em que elas aconteceram. “Aquele cara era uma bagunça”, lembra ele, que saiu do imóvel antes desses acontecimentos.  “Me livrei de uma bucha”, conclui.

Primeiros passos

Normalmente, para quem vai fazer um curso no exterior — seja um curso curto, seja uma graduação ou pós — a instituição responsável pelo curso consegue oferecer algum apoio para encontrar moradia. Foi o caso com Leonardo: “Eu tinha uma semana de acomodação que estava incluída no pacote que eu fechei”, conta.

Contar com ela para mais do que isso, no entanto, pode não ser a melhor opção. Bruna Ximenes, ilustradora que entre 2013 e 2017 fez a graduação na Accademia di Belle Arti di Bologna, na Itália, conta que a instituição não ajudava nesse quesito. “A burocracia de lá é pré-histórica, e os estudantes ficavam todos largados. Como o português é parecido com o italiano, eu conseguia me virar, mas os chineses ficavam totalmente perdidos”, narra.

Para ela, o que mais ajudou foi socializar e conhecer pessoas. Ela foi fazer a prova da Accademia em setembro de 2013, e durante esse período se hospedou num hostel em Bolonha. Lá, conheceu outras pessoas que estavam fazendo a mesma prova. Depois de ser aprovada, Bruna retomou o contato com essas pessoas, que também passaram e já tinham arrumado lugar para morar, e se hospedou com elas. Leonardo também acabou arrumando moradia por conta própria depois da semana inicial.

Fatores que ajudam

Como ele foi com a namorada para o intercâmbio, acredita que teve um pouco mais de facilidade na hora de arrumar lugar para morar. “Passa certa confiança”, considera. Por outro lado, ele também diz que “se você vem sozinho, tem uma flexibilidade muito maior” para dividir casas e quartos com outras pessoas. O fato de serem duas pessoas procurando um mesmo lugar para morar também ajuda.

Bruna, por sua vez, conta que o que lhe ajudou foi o fato de que ela tem passaporte italiano. “É menos burocracia [do que para alugar para alguém com passaporte estrangeiro], e os italianos donos de imóvel confiam mais”, comenta. Ela também aponta que o domínio do idioma é particularmente importante para quem quer encontrar moradia por conta própria. “Quando eu já estava com o italiano melhor, consegui entrar em grupos de Facebook e sites para encontrar [lugar para morar]”, comenta.

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Desafios de se arrumar lugar para morar

Mesmo assim, tanto Bruna quanto Leonardo dizem que, para estudantes em outro país, há chances de que a sua habitação no exterior seja pior do que a que você tem aqui. “Para quem já morava sozinho em São Paulo, foi uma realidade esquisita ter que compartilhar beliche com um estranho enquanto minha namorada dormia em outro quarto”, comenta Leonardo.

Essa divisão de beliche aconteceu na sua primeira semana de moradia — aquela incluída no pacote de intercâmbio. A situação, depois, não melhorou muito. “Minha primeira moradia fixa era um apartamento em que moravam 9 pessoas. O dono improvisou um segundo andar com mezanino e com isso inventou mais quartos pra enfiar mais gente”, conta. Esse dono, aliás, é o mesmo que mais tarde invadiria o imóvel a machadadas. Desde então, Leonardo morou em outros quatro lugares, e atualmente está há mais de dois anos em um apartamento só com sua companheira e um gato.

Ao longo de toda a sua estadia na Itália, Bruna também sempre dividiu quarto. “Na primeira casa em que eu fiquei, eram 11 pessoas”, lembra. Isso, no entanto, traz a vantagem de que você acaba conhecendo outras pessoas em situação semelhante à sua. “Então se mais tarde você vai se mudar e precisa de alguém para dividir, já tem bastante gente para quem perguntar”, comenta.

Quanto custa e como pagar

A necessidade de dividir casa, ou até mesmo quarto, muitas vezes vem do custo dos imóveis no exterior. Na casa em que ficou mais tempo, Bruna pagava 350 euros por mês pelo seu quarto, “mas acho que só teve uns dois meses em que eu paguei tudo, eu sempre arrumava alguém para dividir, porque era muito caro”, lembra.

Até era possível achar lugares mais baratos. Ela chegou a ver um apartamento que alugava por 150 euros por mês. No entanto, ele ficava em cima de uma associação de deficientes auditivos e, por motivos de segurança, proibia que o locatário levasse pessoas para visitar em qualquer situação. Para arcar com as despesas, Bruna contou com a ajuda dos pais e com pequenos trabalhos que arrumava. “Coisas como dar aula de português para italianos, fazer faxina e trabalhar meio período em um bar”, comenta.

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Para Leonardo, na Irlanda, a situação era ainda mais drástica: ele pagou 700 euros por mês no quarto dentro do apartamento onde moravam outras nove pessoas. “Hoje, daria mais de R$ 3,2 mil. Nem se compara [com os custos de moradia no Brasil]; em São Paulo, as contas da casa davam mais ou menos R$ 2,5 mil e eu só dividia o apartamento com a namorada e um gato”, compara.

Mesmo assim, segundo ele, “não dá para dizer que isso atrapalhou”. “A gente tinha pesquisado e fez uma caixa antes de vir, então estávamos cientes do que encontraríamos por aqui. E atualmente, com os dois trabalhando para empresas locais, o custo de vida ficou mais equilibrado do que era em São Paulo”, diz.

A casa é sua…?

O que talvez surpreenda, no entanto, é que a noção de “aluguel” não é a mesma em todos os lugares do mundo. E isso pode gerar situações inusitadas.

É algo que Leonardo aponta como conselho para quem precisa arrumar lugar para morar ao estudar fora. “A noção de controle de um imóvel muda de um país para o outro. No meu apartamento [atual], não se pode fumar e a agência [imobiliária] tem as chaves, então eles podem entrar aqui sem que eu esteja (embora, por lei, tenham que me dar um aviso prévio)”, afirma. “Eu nunca sinto que esse apartamento é ‘meu’ como seria em SP”, finaliza.

Na Itália, Bruna afirma que a noção de aluguel era mais parecida com a que ela conhecia do Brasil. Com a necessidade de dividir quarto para reduzir seus custos, no entanto, ela acabou descobrindo várias oportunidades para hospedar estrangeiros temporariamente. Em particular, ela cita os estudantes do programa Erasmus (que passam alguns meses em diversos países da Europa ao longo do mestrado) e visitante da Feira de Bolonha, um evento anual do mercado editorial. Fazendo isso, ela percebeu que havia uma comunidade grande de estudantes e estrangeiros dispostos a se ajudar na questão da moradia.

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7 dicas para arrumar lugar para morar no exterior

1 – Use os canais oficiais

É muito comum que organizações que lidam com estudantes estrangeiros tenham algum tipo de serviço para ajudar a arrumar moradia. Seja a sua agência de intercâmbio, sua escola de línguas ou a sua universidade, elas provavelmente terão algum recurso voltado para te auxiliar a arrumar lugar para morar.

Por mais ineficiente que esses recursos sejam, eles devem pelo menos ser capazes de te atender em uma língua na qual você consegue se comunicar melhor. Por isso, sempre vale a pena explorar esses recursos. Na pior das hipóteses, há pelo menos a chance de que você conheça alguém por lá que está na mesma situação que você.

2 – Não procure sozinho

Como você provavelmente precisará dividir o apartamento, ou até o quarto, para reduzir custos, faz sentido já encontrar alguém para dividir e procurar juntos. Serão duas pessoas (ou até mais) fazendo o mesmo trabalho. E como Leonardo aponta, procurar em casal pode passar mais confiabilidade aos eventuais locadores.

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Procure conversar com pessoas do seu curso, da sua universidade, ou outros brasileiros que estejam no mesmo lugar que você. De acordo com Bruna, “ser cara de pau e se integrar bastante” é uma das coisas que mais ajuda quem precisa arrumar lugar para morar no exterior.

3 – Procure nas redes

Bruna também afirma que “ficar ligado em grupos de Facebook” é uma boa ideia para quem está procurando habitação. Nas redes sociais, pode ser possível encontrar grupos bem específicos: por exemplo, de brasileiros estudantes de exatas procurando alojamento em Dublin. Em alguns casos, há também sites e aplicativos com finalidade semelhante.

4 – Pesquise bem antes de ir

Leonardo diz que é essencial se informar antes de chegar ao país. “Fazer pesquisas, falar com gente que está na cidade, ler o que a imprensa e subreddits locais falam sobre acomodação” são táticas que podem ajudar quem precisa procurar por moradia no exterior a não ser pego de surpresa e a evitar ciladas.

Busca de Cursos

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5 – Tenha uma boa reserva de dinheiro

É bem possível que a sua moradia no exterior seja mais cara do que a sua moradia atual. Por isso, ter uma reserva suficiente para durar o período dos seus estudos — ou pelo menos uma maneira garantida de ganhar dinheiro durante essa etapa — é essencial para evitar problemas.

6 – Prepare-se para dividir

“Tenha em mente que compartilhar residência é uma realidade do intercambista. É mais fácil aceitar logo e focar no que importa: estar perto da escola ou trabalho para economizar tempo e dinheiro”, aconselha Leonardo. Isso pode ser particularmente difícil para quem já estava acostumado a morar sozinho no Brasil. Por isso, é bom ir se preparando psicologicamente.

7 – Aprenda a conviver

Com a necessidade de dividir casa ou quarto, surge também a necessidade de se adaptar a outras pessoas. E isso pode ser difícil até para quem já divide quarto no Brasil. “Lá você tem que se adaptar não só a outra pessoa, mas a toda uma cultura de alguém de outro país”, comenta Bruna. “Venha sem preconceitos”, aconselha Leonardo.

 

Este texto foi originalmente publicado no portal Estudar Fora, da Fundação Estudar, parceira do Guia do Estudante. 

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