Nesta semana, a briga do movimento “Students for Fair Admissions” (“estudantes pela aprovação justa”, em tradução livre) contra a Universidade Harvard, nos EUA, ganhou um novo capítulo. A justiça federal americana considerou que as acusações do grupo de estudantes — de que a universidade discrimina asiáticos em seu processo seletivo — não procede e que a admissão de novos alunos atende “preceitos constitucionais”. O grupo já afirmou, no entanto, que vai recorrer, dando indícios de que a disputa que se arrasta desde 2014 está longe de acabar.
Edward Blum, presidente do “Students for Fair Admissions”, afirmou em nota que está frustrado, pois acredita que os documentos, e-mails e outros dados apresentados durante o julgamento eram convincentes e “revelaram que Harvard sistematicamente discrimina candidatos de origem asiática”. As acusações de discriminação se dão em um contexto em que Harvard e outras universidades americanas passam a considerar o fator racial em seus processos de admissão, de forma a aumentar a diversidade entre os ingressantes.
Como os asiáticos são afetados
Além de uma das melhores universidades do mundo, ocupando o terceiro lugar no último Qs World University Rankings, Harvard é também uma das mais seletivas e elitistas instituições de Ensino Superior. Mesmo com as mensalidades caras, a taxa de inscritos é sempre grande e poucos passam pela seleção rigorosa, que considera histórico escolar, entrevistas, cartas de recomendação, trabalhos voluntários e outras variáveis.
Em 2017, 42.749 candidatos se inscreveram e apenas 1.962 foram aprovados. Destes, 23% eram asiáticos, 15% eram negros e 12%, latinos. Esses dois últimos grupos são o principal alvo do “Students for Fair Admissions”, já que são acusados de “roubarem” as vagas dos estudantes asiáticos por supostamente apresentarem menos competências no processo seletivo.
Um relatório de Harvard, publicado em 2013, concluiu que se apenas critérios acadêmicos fossem considerados, 43% dos alunos que hoje estudam na universidade seriam asiáticos, contra os 19% de atualmente. A universidade reforça, no entanto, que por ser um processo extremamente concorrido e com candidatos muito qualificados é preciso considerar outros critérios mais subjetivos. Harvard, assim como outras universidades americanas, admite que considera a raça durante a seleção, mas sempre da perspectiva de inclusão de diferentes grupos étnicos e não de exclusão, como acusa o “Students for Fair Admissions”.
Harvard tem cotas?
É importante ressaltar, no entanto, que as universidades americanas não possuem um sistema de cotas como as brasileiras. A reserva de vagas, por sinal, é proibida por lei no país desde 1978, o que favorece a argumentação de grupos como o “Students for Fair Admissions”. A justiça permite, no entanto, que a raça seja um dos critérios de admissão, contanto que não seja o decisivo.
A juíza que decidiu em favor de Harvard essa semana, Allison D. Burroughs, afirmou em sua decisão que “As admissões que levam em conta a raça vão sempre penalizar, em alguma medida, os grupos que não são auxiliados pelo processo, mas isso é justificado pelo interesse na diversidade e pelos benefícios de uma população universitária diversa.”