Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

MPF quer maior controle de autodeclaração racial em vestibular

Ministério Público Federal no Rio de Janeiro recomendou que o fenótipo, e não a ascendência, deve ser o critério prioritário

Por Agência Brasil
Atualizado em 15 mar 2018, 14h33 - Publicado em 15 mar 2018, 14h29
 (GE/Guia do Estudante)
Continua após publicidade

A política de entrada em universidades públicas por meio de cotas raciais vai ter mais controle. A aparência dos estudantes que disputam essas vagas deve ser comprovada por uma comissão especial. O Ministério Público Federal no Rio de Janeiro recomendou que o fenótipo, e não a ascendência, deve ser o critério prioritário na aprovação. O órgão deu 30 dias para as universidades públicas do estado informarem como farão a conferência, sob pena de serem processadas.

A recomendação foi emitida esta semana após uma série de denúncias de fraudes. O sistema atual leva em conta apenas a autodeclaração do estudante, deixando passar falsas declarações.

Para investigar se a aparência dos vestibulandos condiz com a autodeclaração, o MPF orienta que as universidades priorizem o contato presencial com o candidato, por meio de bancas compostas por pessoas com perfil étnico racial diverso, por exemplo. Outra recomendação é que seja formada por estudantes, professores e servidores. O Ministério Público defende também que a matrícula só deve ser recusada por unanimidade, assegurada a ampla defesa, de forma a evitar arbitrariedades.

Seguindo as recomendações do Estatuto da Igualdade Racial, atualmente as universidades confirmam a cor dos concorrentes por meio de autodeclaração, assim como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, no Censo. O método é consagrado internacionalmente e ratificado na Declaração de Durban, da Conferência Mundial contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata.

Demógrafos e antropólogos acreditam que comissões verificadoras podem impor constrangimentos ao direito individual, uma vez que a análise visual também é subjetiva.

Continua após a publicidade

Fraudes

Diante de denúncias dos próprios estudantes, a Universidade Federal Fluminense foi uma das primeiras federais do Rio a criar comissões de conferências, a partir de demanda do próprio MPF. Em todo o ano passado, dos 1.274 alunos declarados pretos, pardos ou indígenas, as comissões recusaram a matrícula de 162 postulantes, em torno de 14%, por fraude, segundo a Coordenadora da Comissão de Aferição, a antropóloga Ana Claudia Cruz.

A formação de bancas verificadoras, no entanto, divide opiniões. As reitorias informaram ao MPF que há insegurança jurídica e levantaram a possibilidade de as comissões se transformarem em  “tribunais raciais”. “Brancos tendem a ‘escurecer’ o outro, e negros tendem a ‘clarear’. Há situações limítrofes que causam discrepância”, desabafou o professor Angelo Telésforo, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).

Sem pesquisas confiáveis sobre as fraudes ou dados que possam embasar orientações às comissões de verificação, a conferência visual pode colocar a políticas de cotas raciais na berlinda de novo, avalia o professor João Feres Júnior, coordenador do Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (Gemaa), vinculado à Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Continua após a publicidade

“Não há dados, não há estudos confiáveis sobre fraudes nas cotas. Há muitas impressões”, afirmou à Agência Brasil. “A gente precisa de evidências para pensar qualquer política. Não tenho nada contra as comissões, em princípio, mas há possibilidade de as decisões fragilizarem a política.” Na opinião do cientista político, a autodeclaração e até mesmo a conferência visual é subjetiva.

O professor recorda que, nos Estados Unidos, o sistema de cotas raciais já foi questionado cinco vezes na mais alta corte daquele país, equivalente ao Supremo Tribunal Federal no Brasil. Ele lembra que a divergência de uma banca de verificação de cotas na Universidade de Brasília (UnB), no vestibular de 2007, levou as ações afirmativas ao tribunal no Brasil. Na ocasião, a UnB rejeitou a matrícula de aluno, cujo irmão gêmeo idêntico foi aprovado pelo sistema de cotas raciais. O STF, por unanimidade, manteve o sistema, considerando as ações afirmativas constitucionais.

Comissões

As universidades fluminenses cobram uma orientação precisa do Ministério da Educação sobre como proceder em relação a criação de comissões de verificação, assim como o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (Mpog) fez para os concursos para servidores com cotas.

Busca de Cursos

Continua após a publicidade

A Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) acompanha o debate e defende que as bancas sejam formadas em modelo similar às do Mpog, que inspiraram a recomendação do MPF . “O desenho institucional baseado exclusivamente na autodeclaração favorece a ocorrência de fraudes e ações oportunistas, impedindo a fruição do direito pelos legítimos beneficiários”, afirmou o procurador Renato Machado.

Na avaliação do Ministério Público, mesmo com uma orientação normativa do MEC ou mesmo mudança na lei, processos seletivos não estão imunes a questionamentos jurídicos.

As instituições federais no Rio, incluindo a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), devem se reunir na sexta-feira (23) para discutir como aplicar a recomendação. Pelos menos quatro delas, a UFRJ, a UniRio, a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e o Instituto Federal do Rio de Janeiro foram denunciadas ao MPF por fraudes nas autodeclarações. Desde o ano passado, elas formatam as bancas de verificação.

Publicidade

MPF quer maior controle de autodeclaração racial em vestibular
Universidades
MPF quer maior controle de autodeclaração racial em vestibular
Ministério Público Federal no Rio de Janeiro recomendou que o fenótipo, e não a ascendência, deve ser o critério prioritário

Essa é uma matéria exclusiva para assinantes. Se você já é assinante faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

MELHOR
OFERTA

Plano Anual
Plano Anual

Acesso ilimitado a todo conteúdo exclusivo do site

Apenas R$ 5,99/mês*

Plano Mensal
Plano Mensal

R$ 19,90/mês

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.