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Prós e contras da moradia estudantil: república, pensão ou morar sozinho?

Entrar na faculdade é excelente, mas abre uma porta enorme para uma série de dúvidas. Ajudamos você a escolher a resolver a primeira delas: onde morar?

Por Taís Ilhéu
Atualizado em 13 fev 2019, 15h54 - Publicado em 13 fev 2019, 15h49

Com a criação e expansão de programas como o Prouni, o Fies e principalmente o Sisu, que oferece vagas em instituições públicas de Ensino Superior, o número de pessoas que entram na faculdade cresceu muito. Mais do que isso, o leque de possibilidades de onde estudar também cresceu. Com um clique, um participante do Sisu deste ano poderia, por exemplo, escolher para qual das 129 instituições inscritas no programa e espalhadas por todos os estados do Brasil gostaria de se candidatar. 

Mas, depois da lista de aprovados, nem tudo é tão simples. Junto com a felicidade e as comemorações que a aprovação em uma universidade longe de casa podem trazer, vem também uma listinha de pendências que, dependendo das circunstâncias, pode trazer algumas dores de cabeça. Entre elas, a talvez mais urgente é arrumar um novo lugar para morar — que, com sorte e alguns cuidados, pode se tornar um lar ou ao menos te proporcionar grandes experiências.

Escolher um lugar de fácil acesso, que ofereça segurança, conforto e que caiba no orçamento, pode ser uma jornada cansativa, mas recorrer a algumas dicas e se abrir para novas possibilidades é um jeito de tornar esse trabalho mais fácil.

Na procura, você vai perceber que até nesse quesito os brasileiros são muito criativos e as possibilidades de lares estudantis são as mais diversas possíveis: tem desde senhoras oferecendo quartos nos fundos de casa até apartamento compartilhado, república e pensionato.

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Foi em um desses pensionatos, próximos à Universidade de São Paulo, que a estudante de Jornalismo Ana Clara Oliveira decidiu ir morar quando ingressou no curso, em 2017. Ainda morando em Goiás, a universitária conta que não teve muito tempo para escolher onde seria sua casa pelos próximos meses: em um único dia, veio a São Paulo se matricular, visitou a pensão e decidiu que aquele era o lugar.

A casa abriga cerca de 50 pessoas, entre elas muitos intercambistas que vêm estudar na USP. Foi essa diversidade cultural, aliada ao aluguel acessível e à boa localização, que pesou na decisão de Ana. “Era legal chegar na cozinha de madrugada e comer pipoca com pimenta junto com uma pessoa do México e outra da Colômbia”.

Não se arrepende da experiência, que considera ter sido necessária, mas lamenta um pouco a duração que teve. “Quando eu visitei pela primeira vez, vi que seria um lugar que eu não moraria por muito tempo porque tinha muita gente e eu queria, eventualmente, ter um espaço em que eu pudesse me sentir mais à vontade”. Acabou um ano por lá, até que decidiu se mudar para dividir apartamento com algumas amigas.

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Apesar de parecida em alguns sentidos com a de Ana Clara, a história de Isabel Silva acabou diferente — está há felizes cinco anos e quatro meses no mesmo lugar para o qual se mudou no início da faculdade.  A estudante, que foi de Fortaleza para Picos, no Piauí, estudar Ciências Biológicas na Universidade Federal do Piauí (UFPI), também descobriu o pensionato/conjunto de quitinetes no dia da matrícula, e de imediato decidiu ficar por lá. A proximidade com a faculdade e o aluguel barato para a região ajudaram na escolha. Depois, acabou descobrindo no grupo de estudantes uma família.

Evidência de que o número de pessoas nem sempre é o principal problema desses tipos de moradia. No caso de Ana, por exemplo, a falta de infraestrutura também a deixava desconfortável — o fato da casa ter poucos banheiros e não ter lá as melhores condições de higiene era uma questão.

Foi pensando em oferecer uma experiência de moradia universitária mais especializada e com infraestrutura de qualidade que a Uliving se estabeleceu em 2011 no Brasil. A empresa oferece casas que, além de quartos individuais e compartilhados, contam com salas de jogos, de estudos e cozinhas bem equipadas. Núbia Nascimento, que mora há 6 meses em uma das unidades, aponta que um dos benefícios em ter se mudado, além do conforto, é o maior tempo livre para estudar, resultado da comodidade em residir próximo ao lugar onde estuda. Atualmente, a empresa têm três unidades em São Paulo (no Centro, Bela Vista e Vila Olímpia) e duas no interior de São Paulo (Ribeirão Preto e Sorocaba). Os preços mudam de acordo com a unidade e se o estudante vai optar por um quarto individual ou compartilhado, variando entre R$ 800 e R$ 2,2 mil por mês.

Mas, para quem não tem condições de arcar com esses valores, existem outras opções mais baratas e até a custo zero. Curiosamente, mas não à toa, a praticidade de morar perto da faculdade citada por Núbia foi também um dos pontos positivos destacados por Lucas Raulino Silva, estudante de Música, em relação ao lugar onde mora, o Conjunto Residencial da USP, o Crusp. Uma vaga no conjunto, que fica dentro do próprio campus, em São Paulo, é um dos benefícios oferecidos pelo Programa de Apoio à Permanência e Formação Estudantil da Universidade (PAPFE). Lucas é natural do Ceará, e como não existia por lá a graduação que queria (em violino), decidiu vir para São Paulo estudar. Mora no Crusp desde 2015, quando foi aprovado. Além de valorizar a facilidade e o tempo livre proporcionados por viver dentro da faculdade, ele gosta bastante da troca de experiência com os outros moradores.

Haline Floriano, estudante de Relações Públicas e também moradora do conjunto residencial, credita à experiência muito de seu amadurecimento. Vinda de Ibiúna, no interior paulista, Haline solicitou logo no dia da matrícula o “auxílio emergencial”, que confere bolsas e vagas provisórias aos estudantes que não têm condições financeiras de aguardar o resultado final do PAPFE, o que só ocorre bem depois do início das aulas. Ela morou por todo o primeiro semestre da faculdade em um alojamento, no qual dividia quarto com mais quatro meninas.  “Apesar de chocante, foi uma experiência muito boa para eu me conhecer, conhecer outras pessoas, valorizar muito mais a minha história e todo meu trajeto para acessar a universidade”.

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A partir do segundo semestre de faculdade, ela conseguiu uma vaga permanente e tem agora um quarto individual. Haline compartilha também da opinião de Lucas quanto às facilidades proporcionadas pelo Crusp, que permitiu que ela entrasse para a empresa júnior, fizesse iniciação científica e estágio acadêmico.

Além disso, ela estabeleceu vínculos próximos com várias pessoas com quem morou, o que foi importante para superar a solidão por conta da distância da família. “Me deu forças para morar em São Paulo”. O Crusp, de acordo com ela, pode ser um lugar muito solitário. Lucas lembra ainda que algumas pessoas que moram lá sofrem com problemas psicológicos por um conjunto de fatores, que vão desde cobranças da própria faculdade até as dificuldades financeiras que os impedem de acessar outros ambientes além daqueles, privando-os de lazer.

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Pablo Castanho, professor do Instituto de Psicologia da USP e vice-coordenador da Clínica Psicológica Durval Marcondes, enfatiza que a formação desses vínculos e de um grupo de pertencimento nessa nova fase é essencial para quem se mudou de cidade para estudar. Isso porque entrar na universidade é, na cultura brasileira, um dos indicativos de início da vida adulta, e os jovens lidam com muitas pressões relativas à faculdade e também às incertezas do futuro. Uma vez que quem se muda se afasta do grupo de referência original, formado pela família e amigos de infância, acaba ficando vulnerável e depende de novas relações para encontrar apoio.

A questão financeira, sem dúvidas, acaba atravessando também essa experiência — tanto para os jovens socialmente vulneráveis quanto para os que têm mais dinheiro. Enquanto estes últimos podem acabar fisicamente isolados — decidindo ir morar sozinhos em apartamentos, por exemplo — existe uma solidão social que isola o primeiro grupo. Isso porque, além de enfrentarem as pressões e a distância da família, muitas vezes não conseguem estabelecer novos vínculos no ambiente universitário por não se sentirem pertencentes. Diferenças culturais, de hábitos e de visões os afastam.

Nesse sentido, o professor acredita ser necessário promover a socialização desses estudantes que vêm de outros lugares, preocupando-se, para além do auxílio financeiro, com a saúde mental. Os coletivos formados pelos próprios alunos já trabalham nisso há algum tempo, mas a discussão começa a aparecer com mais força no próprio meio institucional. “Ultimamente estamos falando muito de saúde mental e isso é um avanço. A discussão está presente”.

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Dicas dos universitários

Diversas universidades, até mesmo em campi do interior como o da UFPI onde Isabel estuda, oferecem moradias e bolsas para estudantes de baixa renda que não tenham condições financeiras de viver na cidade onde foram aprovados. O edital do PAPFE 2019 da USP já está disponível, e no site da Unicamp e da Unesp também é possível encontrar mais informações sobre o assunto. No ano passado, O GE também publicou uma reportagem sobre os auxílios oferecidos por diversas universidades, inclusive para bolsistas do Prouni.

Para quem não se enquadra nos requisitos para esses programas, a dica é entrar em grupos de repúblicas e moradias no Facebook. No começo do ano, eles costumam bombar e você pode escolher o lugar e pessoas que têm mais a ver com você. Não se esqueça que, embora seja importante estar aberto a novas experiências, o autocuidado também é essencial. Anote aí o conselho da Ana: “Além de estar aberta a se adaptar a mudanças, a pessoa tem que estar consciente também de que precisa ter qualidade de vida. Se alimentar, dormir bem e cuidar da saúde mental”.

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Prós e contras da moradia estudantil: república, pensão ou morar sozinho?
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