Se você vai prestar as segundas fases de algumas (ou todas) universidades de São Paulo (USP, Unesp e Unicamp), provavelmente a redação é uma das suas preocupações nesse momento, tanto porque representa uma parte importante da nota final de cada instituição, quanto porque cada uma tem o seu modo de corrigir e de elaborar temas.
Nessas semanas finais de estudo, o importante é continuar treinando as redações da maneira que você vem fazendo ao longo do ano. De acordo com a professora Andrea Provasi Lanzara, do Cursinho da Poli, não se deve perder o ritmo, mesmo com a proximidade das férias e das comemorações de fim de ano. “É necessário que o estudante escreva um ou dois textos por semana, e que procure formar um grupo de amigos para trocar essas redações entre si”, diz.
Além da preparação para a prova, é preciso saber bem como cada instituição elabora sua proposta de redação. Seguindo a ordem das datas das segundas fases, elaboramos algumas dicas para você entender melhor o formato de cada uma das universidades e o que você deve esperar encontrar no exame. Veja!
Atenção: Se você prestou o Enem, está acostumado a treinar a redação escrevendo uma intervenção para o problema exposto no tema, certo? No entanto, essa exigência é apenas do Enem, não sendo obrigatória nas dissertações em geral. Portanto, fica a seu critério elaborar ou não a proposta de intervenção, tanto na Unesp quanto na Fuvest, que exigem o tipo dissertativo. |
UNESP
A segunda fase da Unesp vai rolar nos dias 17 e 18 de dezembro, e a prova de redação será aplicada no segundo dia. Ela tem valor de 28 pontos dentre os 100 totais dos dois dias de segunda fase.
A instituição exige o tipo dissertativo de texto, mais comum nos vestibulares. Isso significa que se trata de um texto argumentativo, que pede que o autor desenvolva uma ideia, um problema ou um questionamento com uma consideração final que deve estar de acordo com os argumentos expostos. É importante, também, que o estudante saiba colocar ideias favoráveis e contrárias à sua própria opinião.
Confira os critérios de avaliação da prova:
Abordagem da proposta e do tema: A banca avalia como você leu a proposta e como ela será articulada, no texto, em relação à coletânea de textos. Analisa, também, o seu ponto de vista e a reflexão feita por você ao longo do texto. |
Desenvolvimento: Avalia como você construiu sua argumentação ao longo da introdução, do desenvolvimento e na conclusão, e se está de acordo com o tipo dissertativo-argumentativo. |
Domínio da escrita: No último ponto, os corretores analisam se você utilizou a norma culta da língua, além dos elementos de coesão. |
De acordo com a professora Andrea, “a Unesp trabalha com textos mais longos na coletânea, mas fazendo um recorte para o tema, que geralmente é destacado em negrito”. Por isso, antes de iniciar o texto, fique atento à proposta que estará bastante clara e em destaque. Em relação aos temas, ela ressalta que a Unesp costuma pedir temas bem conectados com a atualidade e que não sejam difíceis de explorar, se o aluno tiver um nível razoável de informação.
Os seis últimos temas das provas da Unesp |
2017 – A riqueza de poucos beneficia a sociedade inteira? |
2016 – Publicação de imagens trágicas: banalização do sofrimento ou forma de sensibilização? |
2015 – O legado da escravidão e o preconceito contra negros no Brasil |
2014 – Corrupção no Congresso Nacional: reflexo da sociedade brasileira? |
2013 – Escrever: o trabalho e a inspiração |
2012 – A bajulação: virtude ou defeito? |
Se você está preocupado em zerar, fique tranquilo. A redação só é anulada em casos muito específicos: fuga do tema, letra ilegível, texto com menos de sete linhas ou identificação da autoria da redação em qualquer ponto da folha.
A segunda fase da Fuvest vai acontecer entre os dias 7 e 9 de janeiro. A redação, especificamente, será aplicada no primeiro dia, junto à prova de português e inglês, valendo 50 pontos dentre os 100 totais do dia. A Fuvest cobra o mesmo tipo de texto da Unesp: o dissertativo.
Veja os critérios de correção:
Tipo de texto e abordagem: A banca examina se o texto atendeu aos padrões de uma dissertação e se está adequado ao tema. Assim como na Unesp, também é avaliado se o texto soube articular o tema à coletânea, e se foi capaz de selecionar os pontos importantes de cada trecho. Também é analisada a abordagem do tema e o potencial crítico dos argumentos. |
Estrutura: Avalia a coerência do texto, os parágrafos, os elementos de coesão. A organização dos argumentos e sua disposição no texto também são analisados. |
Expressividade: Corrige os aspectos gramaticais, como ortografia, pontuação e demais erros. Além disso, a competência do candidato em defender o ponto de vista e a clareza de suas ideias. |
De acordo com a professora Andrea, a Fuvest valoriza muito o texto bem articulado e o candidato que saiba ir além da coletânea. “O bom texto para a Fuvest é aquele que articula bem os argumentos, que apresenta informatividade, que consegue transcender a proposta e a coletânea e que consegue mostrar princípio de autoria”, diz.
Mas o que significa isso? Simples: o candidato deve mostrar que sabe fundamentar sua tese com seu repertório pessoal de informações, ou seja, que consegue sair do senso comum e do que é apresentado nos textos da coletânea, apresentando um conhecimento construído ao longo da vida e em tudo o que absorveu de seus estudos.
Se você estiver com dúvidas de como fazer um bom texto seguindo esses parâmetros, a pesquisadora e assessora pedagógica da editora Saraiva, Carolina Assis Dias Vianna recomenda que você dê liberdade ao seu pensamento.
“Na hora da prova, reflita: com base nos textos da coletânea e em outros que você já leu sobre o assunto, o que você de fato pensa? Não tente adivinhar o que os corretores querem que você escreva”, diz.
Nesse sentido, não tenha medo de defender suas ideias. “Assumir um ponto de vista não significa necessariamente ter de dizer que é bom ou ruim, certo ou errado. Pelo contrário, uma opinião madura considera que nunca uma situação terá uma avaliação única”, ressalta Carolina.
Em relação aos temas, a Fuvest é conhecida por pedir temas com um teor mais filosófico e reflexivo. “Isso leva ao erro de pensar que temas filosóficos e subjetivos estão em oposição a temas de atualidades. Mas esse pensamento é equivocado, porque são temas que devem ser trabalhados em relação à sociedade atual”, explica a professora Andrea.
No entanto, o tema da redação do vestibular 2014 foi diferente em relação ao que costuma ser pedido: envelhecimento da população, considerado muito mais “concreto” do que o normal para a Fuvest. A questão, agora, é saber se essa tendência vai se repetir neste ano, inaugurando um novo tipo de redação na prova, ou se a banca voltará aos temas abstratos dos anos anteriores.
Os seis últimos temas das provas da Fuvest |
2017 – O homem saiu de sua menoridade? |
2016 – As utopias: indispensáveis, inúteis ou nocivas? |
2015 – “Camarotização” da sociedade brasileira: a segregação das classes sociais e a democracia |
2014 – Envelhecimento da população |
2013 – Consumismo |
2012 – Participação política: indispensável ou superada? |
Atenção: A Fuvest costuma exigir que as redações tenham título, o que não é cobrado no Enem, por exemplo. Mas fique atento, porque essa exigência normalmente vem destacada na proposta – se não estiver lá, o título é opcional. |
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UNICAMP
A redação da Unicamp funciona de um jeito diferente. No vestibular 2018, ela será aplicada no primeiro dia da segunda fase, que vai acontecer entre os dias 14 e 16 de janeiro. Neste caso, a prova de redação consiste em dois textos de gêneros completamente distintos, que não são divulgados antes. Cada texto vale 24 pontos, totalizando 48.
Veja os critérios de correção:
Tipo de texto e interlocução: Avalia se o texto corresponde ao gênero pedido, e se os interlocutores (ou seja, a quem você se dirige durante o desenvolvimento do texto) estão sendo considerados. |
Propósito: Verifica se a tarefa solicitada na proposta é cumprida e se o tema e as instruções de elaboração do texto são levados em conta. |
Leitura: O candidato deve saber estabelecer um contato entre o texto e a coletânea fornecida na prova, através da qual a banca avaliará a leitura e a interpretação de texto do candidato. |
Articulação escrita: Os dois textos devem apresentar uma escrita fluida, coerente, e bem fundamentada. O candidato também deve mostrar que sabe adequar a linguagem a cada um dos gêneros solicitados. |
Para a Unicamp, deve-se desconsiderar quase tudo em relação às provas dos vestibulares que exigem tipo dissertativo, porque a correção passa a levar em conta elementos específicos que compõem cada gênero pedido. Por causa dessa grande variedade de gêneros textuais possíveis, é comum que o estudante fique com medo de não saber desenvolver o texto que for pedido.
“Se o candidato for um bom leitor, ele consegue fazer a prova da Unicamp sem maiores problemas. Saber escrever ou não um texto é fruto de um repertório, não é necessário tentar estudar todos os gêneros possíveis, porque na hora da prova o tipo de texto vai estar muito claro para o estudante”, explica a professora Andrea.
Portanto, a preparação para a Unicamp não é muito diferente do que é feito para as outras provas: muita leitura e treino são o suficiente para construir o seu repertório e capacitá-lo para qualquer texto que venha a ser exigido.
Assim como nos gêneros, os temas também podem ser os mais diversos, mas sempre mantendo uma tendência de atualidade. Veja os temas das cinco últimas provas:
Os seis últimos temas das provas da Unicamp |
2017 – Uma carta argumentativa sobre a imigração no Brasil; artigo sobre uma campanha publicitária |
2016 – Resenha de uma fábula de La Fontaine; artigo de divulgação de um texto científico sobre indução de emoções |
2015 – Carta para convocar pais de alunos a um debate sobre violência nas escolas; síntese sobre recursos tecnológicos para humanizar atendimento na área da saúde |
2014 – Relatório sobre oficina cultural em uma escola; Carta aberta de uma associação, dirigida a autoridades, sobre problemas no trânsito |
2013 – Resumo de um texto sobre pessimismo; carta a redatores de um jornal sobre alcoolismo |
2012 – Comentário de internet sobre a profissão de cientista; manifesto de estudantes de uma escola sobre monitoramento online; verbete explicando o conceito de computação em nuvem |
Na Unicamp, as redações são anuladas apenas quando ocorre fuga do tema ou fuga do tipo de texto exigido.
Dicas
Independentemente do vestibular que você for prestar e do texto que for fazer, há algumas regras básicas que devem ser consideradas em todas as redações. Veja:
– Tome cuidado com radicalismos. A banca quer que a defesa do ponto de vista ocorra com argumentos e posições claras, racionais e, principalmente, respeitosas. Por isso, evite usar qualquer expressão extremista, mesmo que sejam termos como “nunca”, “sempre”, “jamais”.
– Evite usar clichês, provérbios e citações sem critério. Você pode acabar errando o autor da expressão (o que pega muito mal), ou até mesmo usá-la fora de contexto, o que pode direcionar a sua redação para um lado que você não quer.
– Rebuscar demais as palavras também não é uma boa ideia. Seu texto pode ficar sem fluência e clareza, dificultando a compreensão do corretor. Lembre-se: linguagem formal não é sinônimo de linguagem complicada.
– O uso da linguagem oral também deve ser bem pensado. Expressões coloquiais e gírias não são adequadas a um texto que exige a norma culta da língua.
– Erros de gramática: deslizes graves e recorrentes de regras do português podem descontar muitos pontos da sua redação. Se houver dúvida na hora de usar algum termo, procure trocá-lo por outra palavra mais segura, para não arriscar.