Um estudo feito pela pesquisadora Maria Cândida Camargo Rolim, do Laboratório de Estudo do Estresse (Labeest) da Unicamp, mediu o nível de estresse de 92 estudantes de um cursinho pré-vestibular ao longo de um ano e no dia da prova. A conclusão foi que, diferente do que muita gente pode pensar, o momento mais estressante não é o da prova ou sua véspera, mas sim um período que se situa cerca de dois meses antes do vestibular – geralmente, o mês de setembro.
Segundo ela, isso se dá porque nesse mês são realizadas as inscrições dos processos seletivos da grande maioria das universidades. “Nessa época eles têm que escolher quais cursos prestarão e em quais faculdades tentarão vaga, o que pode gerar esse estresse agudo. Outro agravante é sentir a proximidade do vestibular, que é feito dois meses depois desta data”, explica.
Para avaliar o nível de estresse dos estudantes, Maria Cândida coletou, mensalmente, amostras de saliva para medir a concentração do cortisol, um hormônio que, assim como a adrenalina, é considerado um indicador biológico do estresse.
Os resultados demonstraram que, no mês de agosto, a média do cortisol dos estudantes avaliados às 8 horas da manhã estava em 0,57 micrograma por decilitro de saliva, nível considerado normal para o horário. Contudo, no mês de setembro, a média subiu para 0,83 micrograma por decilitro de saliva, o que, conforme demonstrado por outros estudos, pode chegar a prejudicar a memória.
Esse nível de estresse foi o mais elevado do ano – maior até do que o encontrado no dia da prova. A média do hormônio cortisol verificada no dia em que foi realizado um dos vestibulares mais concorridos do país foi de 0,74 micrograma por decilitro de saliva. Foi uma taxa maior em comparação com o índice médio, mas, segundo a autora do estudo, isso é normal e até benéfico: “Esse é um dia especial para o estudante e esse leve aumento auxilia o seu desempenho na prova, pois o estado de alerta prepara o indivíduo para enfrentar a situação, deixando seu raciocínio mais rápido”, explica.
Mas o que é o estresse e qual a melhor forma de lidar com ele? Em 2014, realizamos um bate-papo para falar sobre isso com Heloísa Aparecida Ferreira, pesquisadora do Labeest que participou do estudo com Maria Cândida, e com a psicóloga Aretusa dos Passos, do Instituto de Psicologia e Controle do Stress (IPCS). Você pode ver a seguir.
Além disso, conversei com a pesquisadora Maria Cândida Camargo sobre o tema. Leia abaixo:
GUIA DO ESTUDANTE – O que é o estresse?
Maria Cândida – O estresse é a resposta do organismo a situações que representam algum tipo de ameaça à sua integridade. Foi descrito, pela primeira vez, como uma resposta de “luta ou fuga”, o que levou ao reconhecimento da importância do componente psicológico, como a ansiedade e o medo. Estudos sobre o tema demonstram que características genéticas, de gênero e idade podem influenciar na atividade do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, responsável pela resposta do organismo ao agente estressor.
GUIA DO ESTUDANTE – O estresse pode ter algum benefício para o organismo?
Maria Cândida – O estresse faz com que o organismo responda através de alterações fisiológicas necessárias para alcançar a estabilidade de seu meio interno com o intuito de adaptar-se às variações do meio ambiente. Neste sentido, embora a reação de estresse possa resultar em doenças, ela torna possível a sobrevivência e adaptação dos seres vivos frente aos inúmeros estímulos a que estão constantemente expostos.
GUIA DO ESTUDANTE – E quando ele se torna prejudicial?
Maria Cândida – O leve aumento dos níveis de cortisol prepara o indivíduo para enfrentar desafios e deixar seu raciocínio mais rápido. Mas, se esse aumento ocorre durante um período prolongado, pode ocorrer uma sobrecarga que provoca a piora na capacidade de armazenar informações e o desenvolvimento de doenças como a hipertensão, dentre outras patologias para as quais tenham predisposição, além de influenciar negativamente o desempenho dos alunos.
GUIA DO ESTUDANTE – Como o estudante pode, então, combater o estresse prolongado?
Maria Cândida – São necessárias medidas de alívio, como a continuidade de atividades físicas e de lazer no ano em que ele vai prestar a prova. É importante ainda ressaltar que a família, amigos e professores devem evitar a pressão excessiva sobre o estudante, pois podem prejudicá-lo ao invés de ajudá-lo.