Em 1999, o estudante Edison Tsung Chi Hsueh, recém-ingresso na faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), foi encontrado morto na piscina da Atlética da faculdade, depois da recepção promovida pelos veteranos. O episódio marcou a instituição, que, no ano seguinte, aboliu qualquer tipo de trote. Desde então, durante a recepção aos calouros, os veteranos deixaram de lado as pinturas no rosto e os cortes de cabelo, para serem apenas guias dos novos estudantes, mostrando as instalações da faculdade.
– Confira o relato do repórter do GUIA DO ESTUDANTE que se infiltrou no trote na da Unicamp
O fim do trote violento não é uma particularidade da faculdade de Medicina da USP. Em 2011, a recepção de calouros com brincadeiras, danças e os chamados trotes solidários parece ter se tornado regra dentro das universidades.
No começo deste mês, os estudantes aprovados no vestibular da faculdade Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), em São Paulo, por exemplo, foram recebidos com uma gincana de futebol de sabão, competição de pizza e touro mecânico. A faculdade também promoveu o trote solidário, em que estudantes se inscreveram para visitar Organizações Não-Governamentais (ONGs).
– Primeiro trote registrado no Brasil terminou em morte
Na Universidade Presbiteriana Mackenzie, a solidariedade também tomou conta da recepção dos calouros. Enquanto assistiam ao show da banda de rock Paralamas do Sucesso, os novos alunos podiam doar roupas e alimentos para as vítimas das chuvas em São Paulo e da região serrana do Rio de Janeiro, além de participar do cadastro de doação de medula óssea.
No trote da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que aconteceu na semana passada, os estudantes que temiam ter que raspar a cabeça ou fazer brincadeiras humilhantes, foram surpreendidos com uma recepção amistosa, regada a danças e gritos de guerra, em que a maior violência foi ter o rosto pintado.
A tinta também foi a marca da recepção aos calouros da Escola Politécnica da USP, que aconteceu hoje. Após realizarem a matrícula na faculdade, os novo alunos foram pintados, levaram um banho de leite condensado e participaram da tradicional brincadeira na lama. O mesmo aconteceu na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade (FEA), onde as brincadeiras com os estudantes foram supervisionadas pelos professores da faculdade.
Violência ainda existe
Apesar da mudança de atitude, o trote violento ainda vem acontecendo em algumas universidades. O caso mais emblemático deste ano aconteceu em janeiro, na Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária (FAV), da Universidade de Brasília (UnB). Em uma das tradicionais “brincadeiras” realizadas pelos veteranos e, de acordo com o site da universidade, patrocinado pelo Centro Acadêmico de Agronomia, calouras da faculdade foram obrigadas a lamber linguiças cobertas de leite condensado, em uma alusão direta ao sexo oral.
Após denúncias sobre o trote, a reitoria da UnB publicou um documento que estabelecia novas regras de convivência dentro da universidade. Entre as mudanças está a proibição de qualquer tipo de trote que “submeta o calouro a tortura, a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante e a discriminação de qualquer natureza”.
Após as medidas tomadas pelo reitor, e a manifestação de alguns estudantes veteranos contra os trotes violentos, as recepções humilhantes parecem ter acabado na UnB. Pelo menos durante a matrícula dos mais de 1,4 mil candidatos aprovados no Programa de Avaliação Seriada (PAS), em 31 de janeiro, as cenas obscenas foram substituídas por estudantes pintados e lambuzados com ovo e farinha.
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