Universidades implementam projetos para estimular aprendizagem criativa
A aprendizagem criativa prevê que os alunos construam conhecimentos a partir da resolução de problemas, em trabalhos interdisciplinares e em equipe
Por Vanessa Fajardo, Portal Porvir
12 mar 2019, 16h45
AUFPel (Universidade Federal de Pelotas), no Rio Grande do Sul, vai implementar neste ano nos cursos de pós-graduação uma disciplina inspirada nos métodos ativos de ensino que prevê estimular a aprendizagem criativa dos alunos. Ainda sem nome oficial, ela vai atender cerca de 2 mil alunos de 42 cursos stricto sensu que vão das áreas de humanas até exatas, em um formato interdisciplinar.
Na outra ponta do mapa, aUfersa (Universidade Federal Rural do Semi-Árido), no Rio Grande do Norte, vai capacitar docentes no laboratório próprio de aprendizagem criativa para que utilizem a metodologia em suas disciplinas, seja na graduação ou na pós.
A aprendizagem criativa prevê que os alunos construam conhecimentos a partir da resolução de problemas, em trabalhos desenvolvidos de maneira interdisciplinar e em equipe, sob a tutela de um professor que funciona como um mentor e não o único detentor do conhecimento. A metodologia é baseada em uma espiral de aprendizagem chamada 4 Ps: project (projeto), passion (paixão), peers (pares/parceria) e play (pensar brincando). O maior autor sobre aprendizagem criativa é Mitchel Resnick, diretor doLifelong Kindergarten Group, no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), nos Estados Unidos.
Tanto as iniciativas na UFPel como na Ufersa são acompanhadas pelo GT (grupo de trabalho) Universidades Criativas, um fórum daRede Brasileira de Aprendizagem Criativaque reúne pesquisadores que querem tornar o ensino mais lúdico no Brasil. São 3 mil membros cadastrados em todo o país que participam de reuniões virtuais quinzenais, desde o mês de agosto, para discutir iniciativas que visam tornar a escola mais criativa.
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“Não temos um projeto modelo, mas queremos alterar a forma de ensino na universidade e formar professores. Muitas escolas no exterior têm adotado o método, mas o Brasil vem avançando neste sentido também, tanto em escolas quanto em projetos sociais. O desafio é chegar na rede pública”, diz Carolina Rodeghiero, articuladora pedagógica da rede no Brasil, reforçando que o projeto ainda é embrionário.
Embora os trabalhos do GT ainda estejam no início, algumas instituições estão mais adiantadas no processo de transformar o ensino, como a UFPel. Na instituição gaúcha a ideia é que a disciplina que usa a aprendizagem criativa seja implementada ainda no primeiro semestre do ano e se consolide no segundo.
No fim do ano passado, a universidade organizou um evento aberto para apresentar a metodologia e em seguida ofereceu uma oficina mão na massa junto com a Rede Brasileira de Aprendizagem Criativa.
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Segundo Rafael Vetromille-Castro, coordenador de pós-graduação da universidade, o objetivo de iniciar a disciplina pelos cursos de pós stricto sensu (mestrado e doutorado) foi o de inicialmente trabalhar com um número menor de alunos e, ao mesmo tempo, atender a requisitos da Capes, órgão fiscalizador ligado ao Ministério da Educação, que valoriza ações inovadoras na pós-graduação.
“Queremos colocar cursos de áreas diferentes para conversar entre eles, mas estaremos abertos para todos os cursos que queriam comprar a ideia. Assim já começamos a plantar sementes para que a graduação possa se engajar.”
Tiago Thompsen Primo, professor adjunto da UFPel, explica que o que motivou a instituição a explorar a aprendizagem criativa foi a busca por oferecer algo mais dinâmico aos estudantes.
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“Existe uma taxa de evasão bem grande na graduação e na pós e observamos a busca dos professores pelo engajamento dos alunos. As metodologias ativas e a aprendizagem criativa fazem com que o estudante possa colocar mais a mão na massa e experimentar. Além disso, pesquisas mostram que esse tipo de atividade gera maior retenção do conhecimento e associação com o mundo real, gerando alunos mais curiosos.”
Formação de professores
Em Mossoró, no Rio Grande do Norte, a Ufersa oferece há nove anos um programa de extensão que atende aos princípios da aprendizagem criativa e chega até as escolas públicas de todo o semi-árido com objetivo de popularizar a ciência.
Em 2017, a instituição criou um laboratório de aprendizagem criativa a partir de um treinamento junto ao MIT Media Lab. O local ainda não possui equipamentos de alta tecnologia como impressoras 3D ou cortadoras a laser, e busca trabalhar os princípios da aprendizagem criativa com materiais facilmente disponíveis em escolas públicas.
Neste ano a Ufersa pretende lançar um edital de seleção para que os docentes da própria instituição sejam habilitados a utilizar o laboratório em suas disciplinas, sejam da graduação ou da pós, independentemente da área.
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“Temos mesas e cadeiras que podem ser dispostas da forma que for necessário, por exemplo, tanto para uma aula expositiva quanto para atividades em grupo. Temos alguns computadores que também podem ser usados em locais diferentes e prateleiras com fácil acesso ao material. Usamos ferramentas diversas de marcenaria e de papelaria. A essência é o formato das atividades que são desenvolvidas”, afirma Felipe Ribeiro, professor da Ufersa.
Segundo Ribeiro, a ideia é que os alunos aprendam o método científico e tenham descobertas a partir de uma pergunta que ele faz. Ao longo do ano, os estudantes desenvolvem o trabalho e participam de feiras de ciências: na escola, na região, em Mossoró e no evento que reúne todo o semi-árido.
Esses eventos, entretanto, não são o foco do trabalho, e sim, a metodologia que foi criada. “Os estudantes precisam desenvolver projetos científicos, a partir de suas próprias questões (paixão), em grupo (parceria) e ao longo do desenvolvimento há muito erro e acerto (pensar brincando) para chegar no produto final”, diz Ribeiro.
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Para o docente da universidade potiguar, a forma de abordagem instrucionista é muito limitada, ainda mais quando o objetivo é o desenvolvimento da criatividade. “É como comparar um bolo feito a partir de uma receita com alguém que poder criar uma nova receita.”
Carolina Rodeghiero, da Rede Brasileira de Aprendizagem Criativa, reforça que a proposta do grupo de trabalho é que ações como essas sirvam de modelo para outras universidades e pesquisadores na busca por usar a aprendizagem criativa como metodologia ativa e objeto de pesquisa. “Não temos meta de quantas universidades atingir, focamos na qualidade do que está sendo realizado no Brasil.”