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Onda de assaltos e sequestros-relâmpago na USP assusta estudantes

Em nota, USP diz que vigilância do campus da Cidade Universitária é feita por guardas patrimoniais que não têm poder de polícia

Por por ANA CAROLINA PADRO
Atualizado em 16 Maio 2017, 13h43 - Publicado em 11 abr 2011, 16h12

Nove anos depois de ter registrado uma onda de estupros (veja box abaixo), a Universidade de São Paulo está novamente em alerta. Relatos de assaltos, furtos e sequestros-relâmpago estão ficando cada vez mais numerosos, a ponto de a Coordenadoria do Campus já reconhecer a necessidade de tomar providências.

Às 19h do último dia 30, uma estudante da Escola de Comunicações e Artes (ECA) foi abordada por dois homens armados em frente ao prédio principal da faculdade – e debaixo de uma câmera de segurança. Ela e um acompanhante estacionavam o carro quando os rapazes, que aparentavam ter “20 e poucos anos”, fizeram-nos de refém. “Mandaram que eu entrasse no banco de trás do carro, fizeram várias ameaças e ficaram dando voltas durante 15 ou 20 minutos dentro da USP. Queriam sacar dinheiro no banco, mas não estávamos com o cartão”, conta a estudante, que preferiu não se identificar.

As vítimas foram deixadas perto da Faculdade de Odontologia, dentro da Cidade Universitária, e chamaram um táxi. “O taxista nos contou que está sendo frequente receber chamada de pessoas que também sofreram sequestros-relâmpago e foram deixados por ali”, diz. Ela enviou e-mail para a ouvidoria da universidade e para a secretaria da sua graduação, mas não obteve resposta. “Estou bastante desanimada porque é algo que não está tendo controle. Isso pode influenciar o modo como as pessoas veem a USP”, disse ela, que queria fazer um mestrado na ECA mas está desistindo da ideia. “Não quero passar mais um ano e meio nesse ambiente perigoso”.

USP teve onda de estupros em 2002
Em 2002, sete mulheres foram violentadas dentro do campus ou no acesso à ponte Cidade Universitária, um dos caminhos usados pelos estudantes para chegar à USP. Na época, estudantes e professores se mobilizaram para informar sobre o problema. O DCE (Diretório Central de Estudantes) espalhou folhetos e cartazes e a universidade lançou uma cartilha para ensinar às mulheres medidas de segurança no campus. Em 2006, outra estudante foi atacada quando saía do Conjunto Residencial da USP (Crusp).

Em alguns casos, chama a atenção a pouca idade dos assaltantes e a falta de conhecimento do funcionamento da universidade. “Eu os achei um pouco despreparados, porque além de não saberem coisas básicas, como horário de funcionamento do banco e rota de fuga, só se lembraram de pedir meu celular, por exemplo, depois que ele apitou”, disse um estudante da Faculdade de Economia e Administração (FEA) que sofreu um sequestro-relâmpago na última quinta-feira (7). Ele também procurou a ouvidoria da universidade para pedir providências, mas não obteve resposta. Já a administração da FEA disse que iria analisar o caso para ver o que seria possível fazer.

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Segundo os estudantes, assaltos também estão se tornando mais comuns. O estudante de Gestão de Políticas Públicas Danilo Cavallieri foi abordado por dois homens armados no estacionamento da Escola Politécnica, próximo a duas guaritas da segurança. “Fui assaltado por volta das 21h, depois de ter descido do meu carro e já estar quase no corredor de acesso ao prédio principal da faculdade. Um assaltante veio em minha direção a pé e já com a arma em punho, enquanto o outro ficou dando cobertura em uma moto”, conta ele.

Danilo pediu as imagens da saída dos assaltantes à central de monitoramento da universidade, mas foi informado de que as imagens captadas estavam inaproveitáveis por causa do mau tempo na hora em que tudo aconteceu. A Coordenadoria do Campus lhe informou que o sistema de monitoramento é usado apenas para vigilância on-line com o objetivo de auxiliar o trabalho de campo da guarda, mas que o sistema está em fase de reavaliação para ser aprimorado.

A Guarda Universitária não pode fazer muita coisa para evitar ocorrências como essas. “A vigilância do campus da Cidade Universitária é feita por uma centena de guardas que, por imposição legal, não tem poder de polícia. Contudo, a proteção policial do campus, por estar inserida na cidade de São Paulo, cabe à Polícia Militar do Estado”, explica José Sidnei Colombo Martini, coordenador do Campus da Capital da USP. Segundo ele, a resistência de segmentos da universidade em relação à entrada e permanência da PM no campus, no entanto, dificulta a proteção aos usuários. Foi convocada uma reunião específica para discutir o assunto com o Conselho Gestor do Campus, que conta com representantes das unidades de ensino, institutos, museus, alunos e funcionários.

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O Centro Acadêmico da Faculdade de Ciências Farmacêuticas está reunindo relatos de alunos que tenham sido vítimas de violência na universidade. “Temos recebido com certa frequência denúncias de nossos alunos. Os atos vão de furtos a sequestros e se tornam cada dia mais frequentes. Pensando numa forma de expor isso para a nossa diretoria e cobrar algum tipo de providência, escreveremos um ofício informando os últimos eventos”, informa o blog da entidade. Relatos podem ser enviados para o e-mail cafb.fcf@gmail.com.

Leia a nota emitida pela Coordenadoria do Campus da Capital (Cocesp) da USP

“A Cidade Universitária Armando de Salles Oliveira tem extensão de 420 hectares, o que corresponde a aproximadamente 420 quarteirões, frequentada diariamente por 100 mil pessoas e com a circulação de 24 mil veículos. A vigilância do campus da Cidade Universitária é feita por uma centena de guardas patrimoniais que, por imposição legal, não tem poder de polícia. Contudo, a proteção policial do campus, por estar inserida na cidade de São Paulo, cabe à Polícia Militar do Estado.

É conhecida a reserva que segmentos da Universidade possuem relativamente à entrada e permanência no campus de policiais militares, mesmo que para cumprir atividades rotineiras. Face ao exposto, fica extremamente difícil o equacionamento mais eficaz de proteção com referência aos usuários do campus. Para buscar uma solução, foi convocada reunião específica do Conselho Gestor do Campus, que conta com 41 membros, representando as Unidades de Ensino e Pesquisa, Institutos Especializados, Museus, bem como representantes discentes e de funcionários, para tratar do assunto segurança no campus, tema que já frequentou a pauta desse Conselho.

Até o momento, todos os esforços foram feitos no sentido de viabilizar meios de proteção, contudo, as circunstâncias descritas inicialmente exigem medidas mais efetivas a serem tomadas no âmbito do Conselho do Campus, órgão competente para tratar do assunto.”

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José Sidnei Colombo Martini, coordenador do Campus da Capital da Universidade de São Paulo (USP)

Depoimento: estudante da FEA conta como foi sequestrado

“Eu estava saindo de um happy hour na ECA (Escola de Comunicações e Artes) por volta da meia-noite e meu carro estava no estacionamento da FEA (Faculdade de Economia e Administração). Meu amigo entrou no carro dele e foi embora e, quando entrei no meu, um cara de uns 17 a 19 anos abriu minha porta e um outro, mais ou menos da mesma idade, abriu a porta do passageiro. Ambos usavam boné, tinham em torno de 1,75m e eram magros. O segundo me mostrou uma arma. Então me mandaram ficar deitado entre os bancos da frente e de trás, olhando para o chão. Falaram que não iam fazer nada comigo e que era para eu ficar tranquilo. Queriam sacar dinheiro no caixa eletrônico, mas expliquei que os caixas não funcionavam naquele horário. Depois quiseram sair pela portaria 3 [que dá acesso à avenida Corifeu de Azevedo Marques] mas também expliquei que estava fechada e que teriam que sair pela portaria 1.

Eles ficaram rodando comigo durante 30 ou 40 minutos dentro da USP e pararam para conversar com um motoqueiro, que estava junto com eles no esquema. Depois de sair da universidade, perguntaram onde eu morava e se morava com mais gente. Inventei que morava num apartamento com mais quatro pessoas. Depois de um tempo, me mandaram levantar a cabeça e perguntaram se eu sabia onde estava. Falei que não. Então andaram mais um tempo e me liberaram em uma travessa da avenida Corifeu. Pedi meus documentos de volta e me devolveram a carteira. Colocaram também o cartão do banco de volta porque viram que não iam usar. Fui para casa e liguei para a polícia. Encontraram meu carro naquela mesma noite – ele havia sido abandonado na avenida, um pouco adiante.”

 

 

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