“Bate o sino pequenino, sino de Belém, já nasceu o Deus Menino para o nosso bem”. A clássica cantiga de Natal já anuncia: embora seja conhecido como Jesus de Nazaré, para a fé cristã é na cidade de Belém que Jesus Cristo nasceu. Mas se na época de seu nascimento a vida já não era das mais pacíficas na região, administrada pelo Império Romano, hoje em dia o cenário é ainda mais desolador.
“Queremos enviar uma mensagem ao mundo de que o Natal está assim em Gaza e em toda a Palestina. Isto é Natal no local de nascimento de Jesus: crianças assassinadas, casas destruídas e famílias deslocadas”, afirmou em entrevista à BBC News Munther Isaac, pastor da Igreja Evangélica Luterana da Natividade de Belém. Nas últimas semanas, o clérigo ganhou espaço na mídia do mundo todo ao instalar na sua congregação uma manjedoura feita de escombros, onde uma imagem do menino Jesus jaz enrolada em um lenço palestino.
Tradicionalmente, na noite de 24 de dezembro, as ruas de Belém são tomadas por procissões e, na igreja ao lado da Basílica da Natividade (construída no local onde Jesus teria nascido), a missa do galo costuma ser rezada à meia-noite. Mas não neste ano. Alvo de disputa entre israelenses e palestinos há muitas décadas, a cidade de Belém é agora um dos palcos do conflito sangrento que escala desde 7 de outubro. Para o Natal de 2023, as decorações e celebrações na cidade berço do cristianismo foram oficialmente canceladas.
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Uma cidade em disputa
Desde 1967, mesmo estando dentro da fronteira palestina, a Cisjordânia, região onde fica Belém, é ocupada pelo Estado de Israel. Os israelenses tomaram a cidade na Guerra dos Seis Dias, que aconteceu entre 5 e 10 de junho de 1967. No conflito, o exército de Israel derrotou as defesas palestinas, sírias e egípcias e capturou a península do Sinai, a Faixa de Gaza, a Cisjordânia, a Cidade Antiga de Jerusalém (na época, pertencente à Jordânia) e as Colinas de Golã.
A guerra foi uma das mais decisivas para a configuração do Oriente Médio como ele é hoje. Para os palestinos, a região de Jerusalém, incluindo Belém, deve ser uma das partes centrais do futuro Estado Independente da Palestina. Ao conquistar o território na década de 1960, no entanto, Israel iniciou a construção de assentamentos judeus na parte ocupada da Cisjordânia e da Faixa de Gaza.
Desde então, as fronteiras da cidade são controladas pelas autoridades israelenses. Postos policiais e barreiras cercam Belém – que, em alguns pontos, chega a ser murada. Para se ter uma ideia, para ir de Jerusalém Ocidental até a cidade natal de Jesus, um trajeto de cerca de 10 quilômetros, é preciso passar por portões israelenses.
A cidade de Belém, vale mencionar, não é sagrada apenas para os palestinos cristãos – uma minoria de 1% que vive especialmente em Belém, Ramallah, Jerusalém e Faixa de Gaza. O berço de Jesus é também o terceiro lugar mais sagrado para o judaísmo por abrigar o Túmulo de Raquel, esposa de Jacó. O que, sem dúvidas, dá contornos ainda mais complexos para a disputa.
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Os acordos de Oslo
Durante a década de 1990, a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e Israel assinaram alguns acordos com o intuito de amenizar os conflitos entre si. Conhecidos como Acordos de Oslo, uma das mais importantes resoluções definidas foi a criação das áreas administrativas da Cisjordânia. No Acordo de Oslo II, de 1995, foi delineada a criação de três categorias de administração na Cisjordânia:
- Área A: controle civil e segurança sob a Autoridade Palestina;
- Área B: controle civil sob Autoridade Palestina e controle de segurança compartilhado com Israel;
- Área C: controle civil e de segurança sob Israel.
Belém está localizada na Área A.
Se você está atento ao texto, já deve ter percebido que há uma certa confusão nesta divisão: se Belém tem sua ordem e segurança interna sob a responsabilidade da Autoridade Palestina, por que é Israel que controla suas fronteiras? A resposta para isso é complexa e leva em conta diversos fatores – políticos e históricos. Em linhas gerais, os Acordos de Oslo não foram todos levados à risca, com várias interpretações diferentes e a implementação de novas resoluções.
Israel se defende dizendo que o controle das fronteiras é uma maneira de garantir a segurança e impedir ameaças na cidade. Além disso, na prática, o que se vê é a expansão dos assentamentos judeus nas áreas próximas a Belém. No dia a dia, moradores de Belém, que são cerca de 30 mil, são frequentemente vistoriados em checkpoints da polícia israelense. Ao mesmo tempo, ônibus de turismo que vêm de Israel, quando chegam na cidade sagrada têm seus guias turísticos substituídos por guias palestinos.
Nos últimos meses, mais de 280 palestinos que vivem na Cisjordânia morreram em ataques israelitas. Para o pastor Munther Isaac, se Jesus nascesse hoje, seria sob os escombros de uma casa em Gaza. Definitivamente, o Natal não será o mesmo em Belém este ano.
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